Jane Krüger

Traumas não são engraçados nem mesmo bonitinhos. Traumas nos ferem e depois deixam cicatrizes. Evocam memórias que só quem sofreu sabe o que passou e como isso o impactou. É um fato da vida de que todos, em algum momento de sua história viverão momentos traumáticos e de profunda dor. Estudos mostram que, geralmente, cada pessoa vivencia em média, de cinco a seis eventos dolorosos ao longo da vida. Perdas de pessoas que amamos, financeiras, de emprego, separações, traições, acidentes, diagnósticos de doenças graves entre outros.

A dor nos faz, sim, definitivamente: Retroceder e Crescer. Nós decidimos qual escolher. A dor pode ser uma forte mola propulsora para gerar o crescimento ou pode ser a fonte de grande retração, amargura e isolamento. Contudo, já sabemos que sem o elemento da dor permanecemos estagnados, pois ela nos empurra ao movimento, nos tira da zona de conforto, nos impulsiona. Sem dor, você não cresce, não amadurece. Infelizmente é em momentos de crise que nos sentimos chacoalhados, nosso estilo de vida é questionado, nossos valores repensados e isso faz com que paremos e reflitamos acerca de como temos vivido.

Geralmente só nesta hora, percebemos, o que realmente importa em nossas vidas e é através desta avaliação que temos a oportunidade de crescer e empreender mudanças transformadoras e profundamente significativas. Ao passarmos pela dor dos traumas podemos também nos tornar mais sábios e experientes. Tempos atrás, psicólogos acreditavam que eventos traumáticos terríveis acabavam por desenvolver transtornos mentais, mas a verdade é o contrário. O trauma é comum. A dor é um fato da vida. A experiência mostra que existem pessoas que conseguem levantar-se mais fortes após os traumas, além disso, tornam-se mais sensíveis. Uma transformação incrível pode ser vivida por intermédio da dor vivenciada. Muitas pessoas começam a apreciar mais a vida, principalmente as pequenas coisas que antes não importavam ou nem percebiam.

Tornam-se mais amáveis e compassivas, passam a ver novas possibilidades na vida que antes nem pensavam em considerar.

Desta maneira, passar por um evento doloroso pode não ser o fim, mas o início. O que encontramos em ditos populares como, “o que não te mata te fortalece”, mostra exatamente o que a dor pode fazer “por nós” e não “contra nós”.

Sendo assim, endosso novamente, não é o evento traumático em si que importa, mas o que ele produz, pois acontecimentos assim nos sacodem, como uma árvore frutífera que depois de uma forte tempestade fica arrasada, mas o essencial permanece, seu tronco e raízes. Da mesma maneira, nas tempestades da vida, passamos por uma verdadeira peneira – convicções são abaladas e questionadas, geralmente acabamos fazendo uma avaliação do que realmente importa em nossas vidas e dependendo de quão profunda for essa reflexão, ela nos levará a mudanças significativas para uma melhor versão de nós mesmos. É normal que na vida cotidiana, quando tudo (aparentemente) vai bem, nós troquemos o importante pelo urgente e infelizmente, o que realmente importa, vai ficando em segundo plano.

Mas, dependendo do tamanho da dor ou evento traumático, nos lembramos que estamos aqui só de passagem – somos mortais! Nestas ocasiões temos duas opções:

1. Nos desesperamos, revoltamos, não paramos para refletir de fato. Só murmuramos, amargamos e provavelmente adoeceremos (psiquicamente, emocionalmente ou ainda, fisicamente);

2. Nos entristecemos, podemos até por um momento nos revoltar mas aí paramos, refletimos, procuramos aprender com a situação, buscamos entender o que ela nos ensina e assim, só assim, saímos da dor como pessoas melhores do que quando ela chegou até nós. A dor sempre vai nos transformar, nunca seremos os mesmos depois de sua chegada. Nos tornaremos pessoas melhores ou piores, mais amargas e ressentidas com a vida ou mais doces e gratos. Contudo, se escolhermos crescer, refletir e aprender através de tudo isso, em vez de ficarmos só reclamando e nos fazendo de vítimas, seremos então transformados, aprimorados, nos tornando mais sábios e resilientes e tendo ainda a oportunidade de nos reconstruir e sermos pessoas ainda melhores.

E aí, que vais escolher se tornar quando a dor te encontrar?
Amargura ou doçura?