Em Bento, muitos novos empreendedores surgiram e outros se reinventaram, mesmo em meio a um momento difícil. No Brasil, o percentual de MEIs cresceu 8,4% no ano passado

A pandemia é um marco para a história. Além da principal área afetada, a saúde, a economia também foi gravemente impactada. Principalmente nos primeiros meses, muitas pessoas perderam o emprego e outras tiveram que mudar os planos para continuar provendo o próprio sustento e o da família. Apesar disso, mesmo em meio às dificuldades, existem aqueles que tiveram ideias inovadoras e decidiram arriscar no empreendedorismo.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, de março de 2020 até agora, foram inscritos 2.244 novos microempreendedores individuais (MEIs). A secretária da pasta, Milena Bassani, acredita que a população buscou se reinventar e formalizar algumas situações, como a prestação de serviço. “A cidade por si só é pujante na questão do empreendedorismo, haja vista que por termos indústrias que geram emprego e renda, toda economia acaba por se movimentar”, salienta.

No Brasil, segundo o Ministério da Economia, o número de MEIs cresceu 8,4% em 2020, quando comparado com os dados de 2019. De 3.359.750 negócios abertos no ano passado, 2.663.309 eram pequenas empresas. Além disso, no fim do terceiro quadrimestre de 2020, existiam, no país, 11.262.383 cadastros ativos. Atualmente, eles são 56,7% do total de negócios em funcionamento.

Primeiro passo em busca da realização

Antes de pandemia, a jovem Emanuele Dallé de Campos, 18 anos, trabalhava em um salão de beleza de atendimento exclusivo ao público feminino. “Para inovar um pouco mais eu queria trazer o masculino também. Comecei a fazer cursos de barbearia, me formei e quando ia iniciar os atendimentos, fechou tudo por causa da pandemia”, recorda.

Emanuele abriu sua própria barbearia
Foto: Thamires Bispo

Após um período de portas fechadas, o retorno não foi como o esperado. “Eu tinha preparado tudo, mas eles não tinham mais fundos para me manter no salão. Fui mandada embora, foi o que me motivou a empreender, na verdade. Abri a Barbearia Manu’s na garagem de casa mesmo”, destaca.

Emanuele acredita que todas as pessoas são capazes de empreender. “Quem tem um sonho de abrir alguma coisa tem que ir em frente, por mais que seja difícil. Estou vendo isso todos os dias, porque não é fácil, mas é o meu sonho. Graças a Deus estou tendo bons resultados”, afirma.

Empreender é um estilo de vida

Para o diretor comercial da Icehot Brasil, Alex Oliveira, empreender não se resume apenas em ter um negócio, mas aderir a um estilo de vida voltado ao autodesenvolvimento contínuo. “Um empreendedor precisa gostar de aprender, de pessoas e de solucionar problemas. A dica que daria para mim mesmo se pudesse voltar no tempo é: estude os fundamentos do empreendedorismo, vendas, marketing, gestão, produto, liderança e pessoas. Ter um negócio depois de entender sobre isso é consequência”, salienta.

Alex Oliveira é diretor de uma startup
Foto: Natiele Pacheco, divulgação

Oliveira afirma que começou a trabalhar como garçom, auxiliar de eletricista, representante de colchão, entre outras funções. Até que surgiu uma oportunidade na área comercial. “Conversava com muitos empresários e, ao conhecer suas histórias, passei a admirá-los. Aos 16 anos, surgiu em minha mente a vontade de empreender, para dar uma boa qualidade de vida para mim e minha família”, lembra.

Um dos grandes feitos de sua vida foi abrir uma startup que, segundo ele, se trata de um negócio que busca resolver um problema de uma forma simples, ágil e mais barata que outras empresas. “Enxergamos um problema: a falta de água de qualidade nos espaços públicos da cidade. Pesquisando sobre isso, vimos que é nacional. Então, procuramos empresas que poderiam resolver isso e não encontramos, por isso decidimos criar a solução”, explica.

A pandemia, entretanto, causou um impacto significativo no negócio. “Em 2020, de abril para maio, perdemos pouco mais de 50% do nosso faturamento. Tínhamos poucas semanas para encontrar uma forma de aumentar as vendas, se não, nosso caixa iria zerar, e teríamos que demitir, reduzir, ou algo pior”, conta.

A empresa percebeu que precisaria inovar, caso quisesse continuar funcionando. A partir disso, criou-se o Icegel. “Diariamente eu pensava, o que podemos fazer para continuar apesar da pandemia. Analisando como o álcool gel tinha aumentado o preço de venda e mesmo assim estava escasso no mercado, me dei conta que as pessoas estavam preocupadas com a higienização. Pensamos em adaptar nossos equipamentos para álcool gel ao invés de água“, relata.

Sonho de gerações

Shelley e Marisa realizaram um desejo antigo: trabalhar com o ramo alimentício
Foto: Arquivo pessoal

A pandemia uniu mãe e filha para trabalharem em parceria. Há menos de um ano, Marisa Lúcia Alberici Pinto e Shelley Alberici Pinto Coghetto conseguiram realizar um sonho ao abrir uma empresa de alimentos congelados. “Amamos cozinhar. Tivemos a ideia de começar a fazer algo que pudesse ajudar no dia a dia das pessoas, tornando o corre-corre mais simples e, claro, com muito sabor”, explica Shelley.

A ideia de montar um negócio veio de um amor passado para gerações. “A cozinha sempre foi a minha paixão e, conforme as minhas meninas foram crescendo, consegui passar para elas a importância em cozinhar com amor”, conta a mãe, Marisa.

A filha garante que a mãe sempre foi uma ótima professora na cozinha. “Ver a dedicação e carinho dela em preparar as refeições sempre foi algo encantador e um exemplo para mim. Cresci com as pessoas elogiando qualquer preparo e dizendo ‘faz para vender’. Encontramos nesses pedidos de familiares e amigos o nosso maior incentivo”, lembra.

A empresária ressalta que o custo para montar uma empresa é relativo, pois depende do setor escolhido. “As oportunidades que o mercado oferece hoje para começar um negócio facilitam muito para o empreendedor, ainda mais se é uma pequena empresa familiar, como é o caso da Cheiro Verde, que ainda estamos nos encaminhando”, sublinha.

Planejamento e convicção

No início do ano, o Lapa Complexo Esportivo foi inaugurado. Idealizado por Luís Henrique Bortolini e seus sócios, Evandro Bianchi e Lucas Ducati, o local foi um sonho que se tornou realidade. “Tivemos essa ideia, foi instinto e também estudo, algo que iria agregar para toda a comunidade. A gente sempre quis fazer algo envolvendo entretenimento, agregando a parte de esporte e lazer. Um local que as pessoas pudessem ir fazer atividades, encontrar amigos e jantar com a família”, explica Bortolini.

Luís Henrique Bortolini, Evandro Bianchi e Lucas Ducati fizeram sociedade e inauguraram um complexo esportivo
Foto: Pablo do Rosário, divulgação

Nem mesmo a pandemia conseguiu pausar os planos do trio, que resolveu arriscar, mesmo em um momento difícil. “Fomos bem criteriosos para definir se iriamos abrir. Ao mesmo tempo, vimos que era possível com bastante planejamento, agindo de acordo com o cenário atual. Deixou de ser um risco e passou a ser uma oportunidade que surgiu”, pondera.

Para concretizar os planos de empreender, Bortolini acredita em organização e convicção. “Tem que ser algo que a pessoa realmente goste e veja que vai ter um futuro promissor. Quando alguém tem uma ideia, ela vale muito mais do que qualquer outra coisa. Tem que focar nela e lutar para alcançar”, aconselha.