A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi criada em agosto de 1975 em Bento Gonçalves, entre os bairros Juventude da Enologia e Conceição. É lá que está localizada a sede do centro de pesquisa. Além dela, a unidade conta com a Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado, em Vacaria e a Estação de Viticultura Tropical, em Jales.

De acordo com o chefe-geral interino, José Fernando da Silva Protas, entre os anos 1991 e 1992 a Embrapa fez uma revisão, um planejamento estratégico e chegaram à conclusão que seria importante expandir o tipo de trabalho. “Em vez de focarmos só em viabilizar soluções tecnológicas para vitivinicultura, agregamos fruteiras de clima temperado”, relata.

O que motivou a expansão foi a percepção de que em cidades da região, como Pinto Bandeira e Vacaria, outras frutas, a exemplo de pêssego e maçã, começaram a ganhar importância econômica. “Estrategicamente, estarmos focados só em uva e vinho eram muito limitador, nos colocava em uma situação menos respaldada dentro de um universo de setores produtivos com impacto econômico social significativo”, aponta.

Chefe-geral interino, José Fernando da Silva Protas, afirma que no Brasil, apenas Embrapa domina técnica de melhoramento genético da uva

Desde então, a entidade também é responsável pelo desenvolvimento de diversas fruteiras de clima temperado. A estrutura humana é composta por 143 profissionais, entre pesquisadores e assistentes. “A maioria daqui, mas nem todos estão em Bento. Temos em torno de 18 pessoas em Vacaria e 12 em Jales”, afirma.

Projeto que recupera áreas degradadas

Uma das ações desenvolvidas pela entidade e considerada de grande relevância é o de recuperação de áreas degradadas na região. “Já atingimos um status bastante avançado”, aponta o diretor.

De acordo com Protas, estamos em uma região de estrutura fundiária de minifúndios, ou seja, de pequenas áreas, de agricultura sustentada basicamente por mão de obra familiar, com topografia muito desafiadora, que limita a área agricultável. “Por isso, é muito frequente ter dentro dessas colônias, um ambiente físico e químico do próprio solo e biologia, extremamente contaminado por anos de tratamento, por incidência de doenças fúngicas de raiz”, explica.

Com o trabalho de pesquisa dos profissionais envolvidos, está sendo possível reverter o cenário e fazer com que as áreas sejam revitalizadas, tornando-as novamente com capazes de produzir com qualidade. “Temos um conjunto de informações, que são na maioria das vezes levadas ao produtor por parte do departamento técnico das empresas ou da Emater principalmente”, pontua.

Por se tratar de um trabalho que envolve ciência, Protas define como silencioso, mas muito importante. “Fica registrado em documentos, boletins e palestras, mas que é intangível. Torna-se tangível quando alguém comenta que um parreiral está bonito, mas isso é graças a alguém ou algum grupo que ficou anos estudando toda essa biologia, quais eram os fungos que afetavam e como controlar cada um”, destaca.

Programa de melhoramento genético das uvas do Brasil

Um desafio enfrentado pela Embrapa nos anos 90 gerou bons resultados. Naquela época, o mercado, que antes tinha a produção baseada em cultivares com sementes, migrou para uvas do tipo sem. “Fomos estudar e nos especializamos em uma técnica chamada recuperação de embrião, do qual a partir de pais e mães com sementes, cria-se filhos sem”, explica.

O método, segundo Protas, é feito por poucas pessoas no mundo. “No Brasil, apenas nós dominamos e conseguimos produzir cultivares de uvas sem sementes. Pouca gente sabe e aqui em Bento Gonçalves nós fazemos. Isso é o que o mercado consumidor de uva quer hoje. Isso pouca gente sabe”, enfatiza.

Outro destaque mencionado pelo diretor da entidade é a quantidade de cultivares criadas especificamente para a região da Serra Gaúcha. “Temos diversas em produção. Todas ou grande parte são aptas para a elaboração de sucos e vinhos de mesa, que fazem parte da matriz produtiva da nossa região”, salienta.

As cultivares criadas pela Embrapa vem para suprir a demanda de características que as tradicionais, produzidas na região, não têm. “Quando lançamos uma cultivar, provavelmente os irmãos e primos dela foram descartados porque não apresentavam tudo que a gente queria”, explica.

Contudo, para chegar no resultado desejado, há muitas etapas de processo. “A gente cria, faz os cruzamentos, leva para campo, avalia sob todos os aspectos: agronômico, produtividade, tolerância a doenças fungicas. Também fazemos analises físico química do produto. Depois de pronto, quem quiser, pode pegar”, completa.

Protas salienta que se juntar todas as variedades desenvolvidas pela unidade, há condições de estruturar uma viticultura inteligente. “Espero que a gente migre para isso. Por exemplo, se plantar a variedade Carmem em Pinto Bandeira, região mais alta, vou colher em março. A Isabel Precoce, em dezembro. Portanto, há condições de fazer isso, de forma que se tenha 70 dias de safra”, aponta.

Localização privilegiada

Protas destaca que entre as 47 unidades da entidade espalhadas por todo Brasil, a de Bento Gonçalves é a que conta com melhor localização, já que as outras, na maioria, ficam muito distantes da região central. “É muito frequente os outros centros serem retirados”, aponta.

Esse afastamento, inclusive, gerou problemas durante a pandemia. “Em relação a aglomeração de pessoas nos transportes coletivos da Embrapa. Temos unidades que ficam a mais de 40 quilômetros do centro urbano. Essa é uma vantagem nossa”, conclui.