Somente em Bento, foram 39 casos, sendo que um adolescente ainda não foi encontrado. Uso de drogas e brigas familiares motivam fuga de jovens

Alguns casos já são recorrentes, a pessoa some e retorna alguns dias depois. A maioria são jovens. O motivo mais comum é o consumo de drogas ou brigas familiares. Esse é o perfil que compõe a maior parte dos desaparecimentos registrados em Bento Gonçalves. Nesse ano, 39 pessoas foram reportadas à Polícia Civil (PC) como desaparecidas. Apenas um continua sem esclarecimento. Na região, Garibaldi teve quatro notificações e Carlos Barbosa sete. Todos foram solucionados.

Segundo o delegado da Polícia Civil Álvaro Becker, sempre que se registra o Boletim de Ocorrência, a investigação começa imediatamente para que se possa localizar a pessoa o mais rápido possível. “A gente ouve os envolvidos, tenta ver onde poderia estar e, em último caso, coloca no sistema da Polícia Civil. Nessas circunstâncias, não se tem outra perspectiva, a não ser aguardar um pouco para ver se aparece ou se tem uma situação pior”, explica.

O que acaba entravando o trabalho da PC, muitas vezes, é o fato de que a pessoa reapareceu, mas a família não faz o registro. “Se não for comunicado, a gente continua entrando em contato com parentes, familiares, amigos, acionando todo sistema. É algo que não é barato para o estado”, afirma Becker. Muitos casos já são rotineiros. Jovens que somem e dias depois voltam para casa.

Mesmo que o sumiço já tenha virado parte do cotidiano, o delegado orienta os familiares que notifiquem a polícia. “Não importa se é corriqueiro, as famílias têm que registrar, pois, às vezes, estão ensaiando. Dão uma saída, voltam, saem de novo e depois não aparecem mais. O pessoal tem que fazer esse comunicado. É um ser humano e não se sabe o que pode ter acontecido”, enfatiza.

O perfil da maioria dos registros é parecido, mas um dos casos que foge a regra e chamou atenção de Becker foi de uma senhora. O fato aconteceu nesse ano. Ela desapareceu após ter pedido demissão. “Dentro de uma semana, ela foi localizada em uma igreja em São Paulo. Esse caso nos preocupou bastante, pois ela tinha problemas psicológicos e já tinha feito algo semelhante. O maior receio é que ela poderia ter surtado”, relata.

Jovens são a maioria dos casos

O perfil mais comum dos registros que chegam nas delegacias de Bento Gonçalves é de pessoas entre 15 e 20 anos. Cerca de 60% são do sexo feminino. Há situações de adolescentes que saem escondidos para ir à “balada” e são dados como desaparecidos, outros que fogem de casa após briga familiar, mas Becker diz que os casos mais comuns são de usuários de drogas. “Muitas vezes vão na boca de fumo, não têm dinheiro para pagar e os traficantes seguram até alguém quitar a dívida. Mas isso não chega até nós, pois seria uma extorsão. A família só diz que apareceu, que estava na casa de amigos”, pontua.

Mesmo que seja relatado que a pessoa é dependente química e pode ter sumido para consumir a droga, a polícia não descarta outras possibilidades. “Sempre se dá uma vasculhada na família, parentes, amigos, para ver se encontra. Às vezes a gente acha que não é nada, mas pode ser um fato grave”, comenta o delegado. Quando o desaparecido é menor de idade, a PC procura por indícios da possibilidade de ter sido um relapso da família. “Em alguns casos, os pais são indiciados”, explica.

Em Garibaldi e Carlos Barbosa, delegacias comandadas por Clóvis Rodrigues de Souza, em muitos casos, a pessoa reaparece antes da investigação iniciar. Como a quantidade deste tipo de ocorrência é baixa, o delegado diz que não é feita uma análise de perfil ou dos motivos mais comuns. “Como o número é pequeno, a gente faz a comunicação no sistema, mas não chega a ter um procedimento específico, geralmente logo depois aparece. Depois a gente ouve para saber o que levou à saída de casa”, diz.

De olho nos familiares que vivem na rua

Becker deixa um alerta para quem tem familiares que são dependentes químicos e vivem na rua. “A gente sabe que tem muitos desses indivíduos que a família já nem se preocupa mais. Muitas vezes, a pessoa já está desaparecida e a família nem sabe, não vai atrás. Essa é a nossa principal preocupação. Os parentes vão ficar sabendo quando a gente encontrou morto ou em um caso de um mandando de busca e apreensão e a gente encontra a pessoa lá usando drogas. Peço que se a pessoa tem um parente na rua, fique de olho”, ressalta.