Brasil acordado

Depois que centenas de milhares de pessoas tomaram às ruas em protestos que vão desde reclamações contra o preço das passagens de ônibus até a indignação pela corrupção, a Serra Gaúcha também vai aderir. Na sexta-feira, Caxias se engaja nas manifestações nacionais e estabelece, como pauta local, o repúdio ao monopólio da única empresa de transporte coletivo urbano a operar na cidade e o problema com a prometida construção das estações de transbordo. Os manifestantes se reunirão na praça Dante Alighieri e devem seguir em caminhada até a prefeitura. Em Bento, o protesto está prometido para o sábado à tarde, com saída da rodoviária até a prefeitura. O preço das passagens de ônibus também é o motivo aparente, mas o protesto vai questionar a corrupção, e o recente caso das suspeitas de desvios de recursos públicos, a precariedade da saúde e da educação e o clamor por mais segurança. Aqui e em todo lugar, as manifestações são justas e bem-vindas.

Em mais de 20 anos de uma democracia conquistada a duros golpes, avanços curtos e retrocessos violentos, o país começa a aprender a lidar com a voz das ruas, sem cabrestos e sem direcionamentos. Talvez a grande novidade das manifestações, para o bem e para o mal, seja exatamente a ausência de grandes partidos ou centrais sindicais comandando a mobilização. Ainda que governos, tanto alinhados à direita como à esquerda do espectro ideológico, em uma definição que quase não cabe mais na história e, seguramente, não responde mais às inquietações populares, não saibam lidar com as manifestações e respondam com a repressão policial, e ainda que haja exageros de todos os lados, é preciso fortalecer essa capacidade de indignação que torna as ruas o grande palco da democracia e, mais que isso, um difusor das vontades populares. Que elas sejam, de todas as formas, pacíficas no gesto, mas incisivas na mensagem, é o que se espera, aqui e pelo país afora.

A verdade que poucos querem ver, como se agora tudo fosse novidade, é que o povo está na rua há muito tempo, movimentos sociais estão mobilizados pelo transporte, pelos direitos da mulher, pela diversidade, pela terra, pela educação, para combater a ditadura, para tirar o governante corrupto… Ninguém estava dormindo para acordar só agora. Não é nem um pouco fácil entender a proporção que as coisas estão tomando no Brasil, mas é preciso contextualizar, porque as exigências são muitas, e os interesses, vários. O Brasil mudou, e precisa seguir mudando. Será árdua, mas imprescindível, a tarefa de retomar a normalidade democrática. Sem arroubos, sem desvios, o que realmente interessa.

Resposta pública

O secretário de Governo de Bento, César Gabardo, responde os pontos elencados na nota intitulada “Marrequinhas motorizadas”, publicada na edição do sábado, 15, que questionava a utilização de recursos do fundo de gestão compartilhada do saneamento para a aquisição de veículos. Para Gabardo, o caso demonstra a capacidade de gestão do governo em tempos apertados. “É uma forma criativa, dentro da lei, para viabilizar o serviço público”, afirmou Gabardo à coluna. A seguir, os proncipais pontos da manifestação do secretário:

1. O secretário informou que hoje não há programas governamentais para a renovação de frota, por isso, utilizar o fundo seria uma maneira para resolver o problema. Gabardo revelou que a situação dos veículos não é das melhores, e que a legislação permite a destinação. De fato, o contrato de prestação de serviços assinado com a Corsan, que institui o fundo, prevê que os 30% repassados ao município pode ser aplicado em “estrutura de fiscalização”, no que se enquadraria, segundo o secretário, a compra dos veículos.

2. Quanto à formação do conselho deliberativo do fundo contar apenas com membros do governo e da Corsan, o que também está expresso no contrato, Gabardo revelou que, do ponto de vista político, isso pode ser alterado, mas que essa decisão não depende apenas da prefeitura. O secretário tem razão, mas a inciativa de mudança pode partir do governo. Estabelecer a participação da Câmara, do Conselho do Meio Ambiente e de representantes dos usuários seria uma forma de democratizar o uso dos recursos públicos.

3. Com relação aos recursos, Gabardo afirmou que, desde outubro do ano passado, a Corsan não depoistava sua parte no fundo, lembrou que nada havia sido mexido até 2012 e garantiu que, além das ações de educação ambiental e de recuperação de áreas degradadas, os recursos podem ser usados para ações de saneamento básico e de fiscalização da Corsan. Quanto à recuperação do Lago da Fasolo, Gabardo afirmou que, hoje, a responsabilidade pela despoluição foi repassada à Corsan em um acordo com a prefeitura. Ah, é claro, as marrequinhas continuam sendo retiradas dali.

Crise anunciada

Mesmo trabalhando com uma perspectiva de encerrar o ano comemorando 5% de aumento real – descontada a inflação – e aguardando um aquecimento das vendas no segundo semestre, o setor de móveis planejados ainda segue enfrentando problemas. Para não repetir os resultados negativos do primeiro trimestre, algumas indústrias chegaram a reduzir a jornada de trabalho para diminuir a produção. Atualmente, algumas linhas de produção atuam apenas de terça-feira à sexta-feira.

Segue o sigilo

Depois de questionar a manutenção do segredo de justiça e até mesmo colocar em xeque a continuidade das investigações acerca das denúncias contra vereadores e ex-vereadores, o promotor Alécio Nogueira confirmou à coluna que deverá manter as investigações e também o sigilo do caso, que investiga, entre outras coisas, suspeitas de apropriação indébita de parte dos vencimentos de assessores parlamentares. Para Nogueira, a divulgação parcial das investigações, com o vazamento de depoimentos, não acarretou prejuízo para a continuidade das investigações.

Compasso de espera

Depois de analisar as implicações das ações do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Contas sobre a licitação do transporte coletivo urbano na cidade, o procurador-geral do município, Sidgrei Spassini, afirmou que o governo deverá aguardar a publicação do novo parecer do Ministério Público de Contas (MPC) e uma decisão do TCE para decidir os rumos que deverá dar ao caso. A expectativa de Spassini é que isso esteja resolvido no máximo em 90 dias.

Enquanto isso, algumas cidades começam a baixar o preço das passagens urbanas. É o caso da capital, Porto Alegre, e de Caxias, que, por sinal, praticará um preço mais baixo que a tarifa por aqui. Em Bento, as empresas avaliam que o valor atual já está defasado, e as iniciativas pela redução de preço, tanto na Câmara quanto no Executivo, parece que morreram na casca.

Ponto

  • A Assembleia Municipal para a definição das prioridades para o município entre os temas da Participação Popular e Cidadã será hoje em Bento, no auditório da Casa das Artes, a partir das 19h. Nos dias 6 e 7 de julho será realizada a consulta popular, que definirá quais os projetos que serão contemplados.
  • O TCE emitiu uma medida cautelar suspendendo a licitação para prestação de serviços de transporte escolar em Monte Belo do Sul.
  • De acordo com o tribunal, há indícios de inconformidades que podem causar prejuízos ao erário, entre eles, a inexistência de justificativa, baseada em estudo técnico, para a adoção dos índices de liquidez e a exigência de qualificação técnica que restringe a participação igualitária dos licitantes.
  • Nos primeiros dias do programa Minha Casa Melhor, quase 12 mil pessoas já contrataram o crédito para financiar a compra de móveis e de eletrodomésticos em todo o país.
  • Em Bento, a procura ainda é mais tímida, mas tende a melhorar a medida em que as informações ganhem força.
  • O presidente da Fenavinho, João Strapazzon, começa as movimentações para resgatar a feira para o próximo ano, após dois anos sem sua realização. A renovação da diretoria e a promoção de um debate para definir os rumos da festa estão na pauta.
  • Quatro vinícolas gaúchas podem fechar encomendas de exportação para o mercado japonês. Representantes da importadora japonesa Ikemitsu, que integra o grupo Kamei e que tem entre os focos encomendas de bebidas para abastecer distribuidores no Japão, visitaram esta semana as sedes das operações da Miolo, Valduga, Salton e Aurora.