Evolução

Toda revolução gera totalitarismo, já disse um poeta russo há quase um século, durante uma das experiências mais identificadas à frase que inaugura esta nota e que originou uma ditadura de Estado em lugar de implantar a utopia desejada. Mais que vencer, é preciso convencer, no sentido que indica sua raiz latina: vencer junto. Enquanto houver vencedores e vencidos, confrontos violentos, imposição de uma vontade sobre a outra, a exclusão, a desigualdade e a exploração, não haverá evolução. É evolução que precisamos, antes de revolução. Evolução é a revolução sem armas, sem messias e sem mártires. Por isso, é preciso prestar atenção aos rumos que controlam o movimento que já levou mais de um milhão de pessoas às ruas e ao que agora Bento pretende se juntar – apesar do fracasso de uma tentativa extemporânea e convocada às pressas que reuniu pouco mais de uma dezena de gatos pingados e não resistiu à chuva da quinta-feira (foto) –, tão grandioso e descontrolado quanto seus anseios ainda superficiais para a imensa maioria dos manifestantes, depois que o motivo unificador do impasse com as tarifas do transporte público foi superado, e o MPL foi atropelado. Mas é preciso rejeitar os exageros, repudiar a violência e o vandalismo, que desvirtuam qualquer ideia da construção de um país melhor. Que Bento tenha aprendido a lição que o país está demorando a considerar. Ao custo de, no caso de não fazê-lo, transformar o vaticínio original do texto em uma triste realidade.

Um ranking para a corrupção

Vivemos uma crise que remonta há séculos e incontáveis governos, e nossos problemas não ficaram maiores, apenas mais aparentes. A corrupção endêmica nasceu antes de Cabral, e as práticas atuais nada têm de novidade; mensalões e privatarias se equivalem, para ficar em dois casos recentes, famosos e protagonizados por antagonistas. É a independência das instituições que dá visibilidade maior. O que grassa no país é a impunidade, e só uma reforma política, na maneira de como elegemos os representantes, pode mudar esse cenário desolador (alguém aí lembra que, depois de se envolver em escândalos de corrupção e renunciar ao mandato, Calheiros foi eleito novamente?).

Com base em dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral divulgou um balanço com os partidos com o maior número de parlamentares cassados por corrupção desde 2000. O DEM, com 69 cassações, tem o equivalente a 9,02% de todos os políticos cassados no período de apuração. Mais de 20% de seus eleitos foram cassados. Em seguida vem o PMDB, com 66 (19,5%) e o PSDB, com 58 (17,1%). Mais abaixo estão o PP, com 26 (7,7%), o PTB, com 24 (7,1%) e o PDT, com 23 (6,8%). O PT aparece em nono da lista de 14 partidos, com 10 cassados, ou 2,9% de seus mandatários.

Causas e efeitos

As “cinco causas” defendidas agora nas redes sociais – barrar a PEC 37, já adiada pelo Congresso, a saída de Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional, a imediata investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa, a criação de uma lei que torne corrupção no Congresso crime hediondo e o fim do foro privilegiado – mistura alhos, bugalhos e cria uma perigosa “tábua das leis” que pretende catalisar a indignação dos que estão sem emprego, sem educação, sem cultura, sem casa… dos ambientalistas, dos contrários a toda forma de preconceito, de todas as causas para um mundo melhor. Mas de nada adianta, e aí reside o risco iminente, protestar por liberdade de expressão e hostilizar jornalistas, defender qualidade nos serviços do Estado e depredar o patrimônio público, lutar contra a corrupção e saquear lojas e bancos, defender uma democracia real e querer derrubar deputados, senadores ou governos eleitos de forma legítima através do voto. É preciso coerência, conhecimento e contextualização. A chance criada pela mobilização de tanta gente não pode se perder em reivindicações vazias ou inatingíveis, em atos de violência e na repressão policial, e menos ainda em inclinações antidemocráticas ou ânsias de gerar regimes de exceção.

  • Para não ficar para trás, o prefeito Pasin se adiantou às manifestações locais e decretou uma redução de R$ 0,10 no preço das passagens do transporte público em Bento (não é pouco?). Aliás, o movimento das ruas começou originalmente através do Movimento Passe Livre (MPL), que foi às ruas contra o aumento da tarifa. A manifestação de hoje por aqui faz parte dessa luta, mas, além da comemoração da vitória popular da diminuição dos preços, ainda que tímida, no entendimento de alguns (o preço é o mesmo praticado em Caxias), deve adicionar pautas locais, como a apuração das denúncias de corrupção e a continuidade de projetos encaminhados na gestão anterior.
  • Não sejamos ingênuos, não há mobilização sem ideologias ou movimentos sociais apolíticos, como querem fazer crer alguns. Há interesses por trás dessa tentativa de mascarar a existência de um comando ligado sim a partidos políticos na maquiagem de um movimento espontâneo. Há ali a assinatura de “movimentos”, que tem página na Internet e assinatura de responsáveis. Basta procurar. Há gente ligada a partidos de esquerda, de centro e até de direita, e gente ligada aos partidos que estão no poder, aqui, ali e acolá. Não se iludam, e abram os olhos. É preciso ficar atento a algumas bandeiras erguidas no meio das multidões. E não falo das bandeiras dos partidos políticos.

Trem mais perto

A contratação dos projetos executivos para a instalação do trem regional está entre as próximas etapas do processo de revitalização do transporte ferroviário no país encaminhado pelo Grupo de Trabalho (GT) de Trens de Passageiros. Isso é o que espera o secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana de Bento, Mauro Moro, que participou esta semana de um encontro do conselho consultivo do GT em Brasília. Ele acredita que o projeto regional é o mais avançado.

Participação popular

Em tempos de representatividade e mobilização, foi de corar ver os poucos representantes do município que se reuniram esta semana para escolher duas demandas em cada uma das 10 áreas de investimento do governo do estado para receber recursos estaduais em 2014 no processo de participação popular. As prioridades definidas serão debatidas no fórum de delegados que será realizado em 4 de julho. Depois disso, as demandas eleitas serão encaminhadas para compor as cédulas que irão a votação nos dias 6 e 7 de agosto

Ponto

  • A presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), Cátia Scarton, acredita que as indústrias locais não deverão crescer este ano nos níveis de 2011. Contudo, a expectativa de retomada de ritmo no segundo semestre pode fazer com que os índices de crescimento cheguem aos 7,5% do faturamento nominal registrado no ano passado.
  • Mesmo assim, o índice é inferior ao crescimento obtido por todo o setor no estado, de 13,5%. O fenômeno inverte um comportamento histórico, quando as indústrias de Bento puxavam para cima os números do setor. Como as vendas caíram no primeiro trimestre e a concorrência de outros polos, que passaram a produzir móveis planejados, aumentou o crescimento do setor acaba pulverizado.
  • A presidente do Sindmóveis avalia que, até o momento, não há consequências negativas, descartando um eventual risco de demissões no setor. Os números do sindicato apontam que o saldo de empregos da indústria moveleira no polo continua positivo e as indústrias continuam faturando em um patamar semelhante ao do ano passado.
  • As vendas imediatas efetivadas diretamente nos balcões durante a Vinexpo, na França, que encerrou ontem com a participação de cerca de duas dezenas de vinícolas tupiniquins, totalizam mais de US$ 160 mil.
  • Não é só aqui que as policiais femininas da terra fazem sucesso. A nova titular da Delegacia de Polícia de Arroio do Tigre, Carla Zanetti, é uma bento-gonçalvense de 33 anos, formada em Direito pela PUC.