Entraves e estratégias

Na contramão das reivindicações da Movergs, o anúncio do governo federal de que vai mesmo reduzir o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os móveis em julho alerta os empresários do setor. O balanço do primeiro semestre só é mais positivo para o segmento de móveis seriados, que deverá ser estimulado com o programa de financiamentos vinculado ao Minha Casa Minha Vida. No setor de planejados, nove entre dez indústrias tiveram que rever suas metas. Para baixo. A produção teve queda, as exportações recuaram, o consumo de móveis caiu e os investimentos na indústria moveleira também diminuíram, confirma Ivo Cansan, presidente da associação que reúne os moveleiros do estado. Para reverter o cenário, ele defende que o governo federal aumente os estímulos para as indústrias, com mais redução do IPI – o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já descartou –, liberação imediata e corrigida dos créditos de impostos federais, autorização para compensação de obrigações com o INSS e mais incentivos financeiros para o consumidor, itens que compõem uma lista ainda maior de benefícios ao setor. Não bastasse isso, os fabricantes de planejados ainda estão debatendo como proteger o sistema de parcerias com os revendedores das marcas – para recuperar a confiança do mercado, abalado com a repercussão negativa do fechamento de lojas –, e definindo estratégias para garantir competitividade em um mercado maior e crescimento pulverizado.

Mas, depois de um primeiro semestre de apreensão, o setor espera garantir no segundo semestre ao menos o mesmo desempenho do ano passado, quando o polo de Bento registrou um crescimento de 7,5% no faturamento nominal. O segundo semestre historicamente é um período de maior consumo de móveis, e um dos indicativos positivos está nas exportações. A presidente do Sindmóveis, Cátia Scarton, avalia os resultados de maio como os melhores em cinco anos, anulando o resultado dos primeiros meses do ano e garantindo estabilidade nas vendas ao exterior, que representam em média 5% do faturamento. No estado, Cansan acredita que, com o novo programa de financiamentos, será possível retomar o consumo e concretizar as previsões iniciais de crescimento para 2013 – em torno de 5% acima da inflação. O setor segue fazendo a lição de casa, investindo na modernização dos processos, desenvolvendo produtos com alto valor agregado em qualidade, design e tecnologia, buscando aperfeiçoar seus serviços e apostando em fortalecer o relacionamento. Mas continua esbarrando em uma infraestrutura precária, na falta de mão de obra especializada, em entraves burocráticos e onerações tributárias.

De novo, o Crema

Já não dá mais para aceitar. Enfrentando uma longa jornada no engarrafamento das burocracias estatais, ainda não será agora que o Crema/Serra vai, literalmente, pegar a estrada. Depois de garantir ao presidente da Cics Serra, Ademar Petry, que estaria na Serra com o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Caleb de Oliveira, para assinar o contrato com as empresas anunciadas como vencedoras da licitação que deu certo no início de maio, o diretor geral do Daer, Carlos Eduardo de Campos Vieira (foto), desistiu. As construtoras Sacchi (CSL) e Traçado, agora responsáveis pela restauração e manutenção de 195 quilômetros de estradas serranas, esperam o sinal verde, que não vem, para iniciar as obras em quatro rodovias: a CSL na ERS-324 e na RSC-470, e a Traçado na ERS-122 e na RSC-453. Tem muito trabalho pela frente, e vão precisar ser eficientes para atender a angústia de empresários preocupados e motoristas temerosos, represada há anos de uma quase total desatenção de sucessivos governos do Estado e ampliada agora, depois que o fim dos pedágios escancarou um cenário de desolação. Desde setembro do ano passado a região aguarda o início do programa de recuperação, retido no trânsito das licitações malsucedidas e por erros de manobra na condução da máquina estatal. Não há mais justificativas para o atraso. E nem paciência.

A curva de Borges

Ainda que o ministro dos Transportes, César Borges, tenha cancelado sua vinda ao Rio Grande do Sul, marcada para ontem, em consequência da onda de manifestações que envolvem também questões ligadas aos transportes públicos, ele não passou ao largo dos temas rodoviários serranos esta semana. O incansável Petry ultrapassou a agenda gaúcha do ministro e estacionou no gabinete de Borges para buzinar em seu ouvido os quereres serranos. Trouxe na mala o compromisso do ministro em agilizar o processo de federalização da rodovia, a promessa de lutar pela inclusão da estrada no PAC2, o que facilitaria a atração de recursos, e a notícia de que o DNIT deve realizar uma avaliação ambiental ao longo da rodovia para autorizar o canetaço final da presidente Dilma. O problema é que, no tráfego caótico dos sistemas governamentais, o departamento está em greve.

Mais perto da comunidade

Passados dois meses de implantação do policiamento comunitário na cidade, o 3º BPAT já pensa em expandir a experiência, considerada exitosa. Durante as comemorações do sétimo aniversário do batalhão, o comandante José Paulo Marinho (foto) afirmou que, em breve, um novo núcleo será instalado para atender as comunidades dos Caminhos de Pedra, São Pedro e Barracão. Mesmo sem revelar números do programa, o major acredita que a redução da criminalidade será considerável. Ele fala em índices próximos dos 70%, menores na comparação com o período anterior à implantação do programa, que deverá crescer ainda mais.

Para chinês abrir os olhos

A Indicação Geográfica literalmente colocou os vinhos serranos no mapa. Esta semana, uma comitiva de técnicos chineses esteve na Embrapa Uva e Vinho e percorreu vinícolas do Vale dos Vinhedos em uma programação que começou em Brasília na terça-feira. O intercâmbio serviu para debater a legislação, o fomento e o controle dos produtos e a importância da IG como ferramenta de desenvolvimento regional. A intenção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é estabelecer um termo de cooperação técnica entre os dois países. A China é destacada por sua política pública de reconhecimento e garantia da origem de produtos.

Ponto

  • A preocupação do empresariado de Bento não é isolada: a economia brasileira continua patinando. Nesta quinta-feira, o Banco Central reduziu sua previsão de crescimento do PIB de 3,1% para 2,7% neste ano.
  • Além de prever crescimento mais baixo, o BC projetou inflação mais alta, de 6% em 2013, se a taxa de juros ficar estável em 8%. A previsão anterior era de inflação de 5,4%
  • Mesmo assim, o faturamento da indústria brasileira aumentou 5% em abril na comparação com março. O setor de máquinas e equipamentos foi um dos que apresentaram bom desempenho em abril na comparação com o mesmo mês de 2012. Naquele período, o faturamento real do setor cresceu 26,3%.
  • Mas não são todos os que conseguem respirar com tranquilidade. No caso da Voges, de caxias do Sul, o rumo é inverso: acumulando R$ 358 mil em dívidas, o grupo entrou com um pedido de recuperação judicial para voltar a produzir e evitar demissões.
  • A Focco Sistemas de Gestão, de Caxias do Sul, é a mais nova investidora da Movelsul Brasil 2014, unindo-se à lista formada por Duratex e Sayerlack. Segundo Henrique Tecchio, presidente da próxima edição, que ocorre de 24 a 28 de março do próximo ano, já são mais de 95% dos espaços comercializados.
  • Uma boa notícia para os ex-funcionários da Fundação Araucária: o diretor administrativo Lídio Bassani garantiu esta semana à coluna que a fundação deverá quitar as dívidas trabalhistas com os desligados do ano passado em até dois meses.