O líder empresarial analisa a conjuntura nacional, estadual e municipal, pontuando temas de relevância comunitária

Visto como um período extremamente turbulento pela crítica nacional e internacional, os últimos quatro anos alteraram significativamente as estruturas brasileiras. Resultado do descrédito político, associado a adoção de medidas contraditórias no tripé macroeconômico, o País mergulhou nas águas profundas da retração financeira, o que, por sua vez, gerou efeitos de combate complexo em todas as camadas sociais e setores produtivos. Entretanto, embora ainda contornado por dificuldades, 2018 encerrou trazendo a brisa de que os ventos da crise ficaram no passado, e que os próximos anos serão promissores em todos os sentidos.

Este também é o entendimento do presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), Elton Paulo Gialdi, que analisa positivamente o cenário porvindouro na conjuntura municipal, estadual e federal. “Os últimos anos foram extremamente complicados. Crises na política, economia, áreas sociais, um caos. Acredito que 2019 inicie um novo ciclo para o país, tal qual ao Rio Grande do Sul, com fundamentação sólida nos setores mais necessitados e mudanças estruturais imprescindíveis em áreas deficitárias. Não há nada que influencie tanto a vida da comunidade como a política, e ela deve ser feita por cada um de nós. No último ano, escolhemos uma nova forma de governo para o país, e nós, como entidade, vemos isso com muito otimismo”, afirma.

Para Gialdi, o segundo semestre de 2018 evidenciou os sinais da melhora econômica, o que lhe permite afirmar com plenitude que a crise encerrou no ano passado. Mesmo assim, o empresário alerta para o que, segundo ele, são pontos essenciais que precisam ser revistos no cenário nacional. “O empresário não aguenta mais pagar tanto imposto para manter uma máquina desestruturada, inchada e ineficiente. Só revendo esses conceitos ganharemos qualidade, competitividade e poderemos gerar empregos e desenvolver o país”, reitera.

Contudo, antes destes pontos serem apreciados, o presidente adianta o que, em sua visão, deve ser a maior de todas as reformas, a política. “As eleições deram uma resposta clara sobre o que a sociedade quer para o Brasil. Não há mais espaço para a política da troca de favores, das barganhas e negociatas, a população não aceita mais. Nossa forma de fazer política precisa ser revista, junto com todos os penduricalhos que vêm com os cargos”, acredita.

O ano do CIC

Apesar das instabilidades econômicas, provenientes em larga escala durante anos que comportam pleitos eleitorais, para o presidente do CIC, a entidade tem muitos fatores para comemorar o ano que termina. A entidade centenária passou a ocupar um novo lugar no Parque de Eventos de Bento Gonçalves. A nova casa do Centro – e de algumas outras entidades – ficou pronta no final de 2017, mas só começou a ser utilizada em janeiro do ano passado, motivo que traz orgulho para Gialdi. “Depois de 103 anos de existência, estamos com sede própria, que representa a classe empresarial. Isso é um grande orgulho, mérito de todos os presidentes”, completa.

Além disso, outro fator elencado como diferencial para a entidade durante o ano foi o engajamento político, a fim de conscientizar a comunidade e os associados sobre a relevância do tema na contemporaneidade. “O CIC tomou uma posição mais representativa no pleito. Fiz questão de trazer as questões para dentro do Centro por meio de palestras, visitas e debates com políticos e a sociedade”, lembra.

Contudo, para Gialdi, nada ficou tão marcado nos dias de 2018 como o resgate da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) que passará a ser realizada pelo Centro durante os próximos anos. “Isso nos dá a sensação de dever cumprido”, reitera.

Dificuldades da entidade

Ao decidir empreender, o jovem necessariamente precisa estar atento e dedicar-se a diversos aspectos do negócio, como validação do produto, estruturação jurídica, planejamento, cenários financeiros, canais de fornecedores e de vendas, entre outros. Além disso, em alguns setores do mercado, tanto as empresas nascentes quanto os jovens empreendedores podem sofrer dificuldades de credibilidade em virtude da falta de histórico profissional e força de marca. Por isso, é importante o debate de como o associativismo empresarial pode subverter este cenário e possibilitar maior chance de sucesso para este público. Focado nesta proposta, o CIC tem buscado a incorporação das novas gerações no quadro de associados da entidade, uma tarefa árdua, trabalhada gradativamente pela direção. “Nosso desafio é dar continuidade ao processo, trazendo a segunda geração às palestras, jantares e encontros de associados, promovendo assim o relacionamento.

Esse foi o cerne das discussões no CIC durante 2018, e acredito que será ainda pelos próximos anos”, adianta o presidente.

Inegavelmente, a tecnologia tem proporcionado cada vez mais praticidade ao empresário bem como comodidade ao consumidor, e isso tem se tornado uma marca dos novos empreendedores. De acordo com dados do Ebit/, o e-commerce brasileiro cresceu 12,1% no primeiro semestre de 2018 com relação ao mesmo período do ano passado. Esse aumento representa um faturamento de R$ 23,6 bilhões. Entretanto, o presidente do CIC acredita que junto com os adventos da modernidade, o contato humano tem se perdido progressivamente, situação que tem sido combatida pela diretoria nos últimos anos. “O bom profissional só vai ter sucesso na sua gestão se tiver um bom relacionamento. Nós, como entidade, precisamos ser mais abertos e com a cara desse jovem.

Precisamos, por meio de sintonia fina, fazer essa transição. Não é a troca do associado, mas sim a ampliação. Queremos diversidade de produtos e serviços para todas as faixas. A humanidade tem ido por um caminho onde as relações estão frágeis, virtuais, de dentro das casas e salas. Tudo ao alcance de um clique. Precisamos cativar esse público para vir ao CIC justamente por esse outro lado, da convivência, pois todos aprendemos com nossos iguais, da mesma forma que aprendemos com nossos diferentes”, explica.

Fenavinho: um evento mais jovem e sustentável

Gialdi e o diretor geral da Expobento 2019, Rogério Capoani. Foto: Divulgação

Após oito anos, o CIC anunciou, em novembro de 2018, que a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) foi resgatada, passando a ser uma marca da entidade, e será realizada, nos primeiros anos, paralelamente a ExpoBento. Segundo o presidente, a entidade apostou na juventude como força propulsora rumo ao sucesso da Festa, a fim de dar espaço ao pensamento atual da nova geração. “O CIC entendeu que a melhor forma de trabalho e gestão desta festa, que será o resgate da Fenavinho e não o produto final e acabado, é através de uma equipe de Jovem e de expressivas lideranças dos setores. Não tem como desenvolver um projeto destes trazendo um comitê de 30 pessoas, por isso foi feito um pequeno grupo que vai trabalhar e interagir com trezentas pessoas, sempre no sentido de agregar”, exemplifica. Segundo Gialdi, a marca da festa passou a ser de propriedade do CIC após a diretoria da Fenavinho, bem como seus instituidores, aprovarem em assembleia a alteração sob algumas condições que dizem respeito a pagamentos de credores identificados até a data do acordo, bem como ao desenvolvimento de novas edições da festa.

Presidente acredita que a mudança deve partir da sociedade

Imaginar a cidade ideal para os próximos anos faz parte da liderança empresarial. Entender os pontos positivos, as falhas e principalmente pensar nas possibilidades de aperfeiçoamento podem ser considerados fatores preponderantes e decisivos quando o que está em jogo é a qualidade do amanhã. Para Gialdi, Bento Gonçalves será, no futuro, exatamente o que a atual geração adotar como meta de progresso. “Se assumirmos compromissos e responsabilidades de liderar e mudar culturas, teremos uma cidade desenvolvida e próspera. Se ficarmos acreditando que tudo é difícil, complicado e que a culpa é do poder público, devemos nos preocupar. A verdadeira mudança deve vir da sociedade, o poder público somente é um ente que conduz o processo”, pondera.

O exercício de refletir sobre Bento Gonçalves também traz ao cenário pontos estruturais, como a dificuldade na geração de empregos para recém inseridos no mercado de trabalho, estes que muitas vezes não têm experiência prévia, ampliando assim a dificuldade de colocação e, por consequência, o número de desempregados na cidade. O ponto, para o presidente, precisa ser pensado com responsabilidade e incentivo nas Politicas Públicas. “Acredito que Bento desenvolva um razoável trabalho de aprendizagem através do Sistema S (Sesi, Senac, Senai, Sest). Concordo que, por erros de políticas públicas e leis de incentivo, dar emprego para jovens ainda é um grande problema para os empresários. Tem uma série de regulamentos e burocracias que não estimulam a contratação”, critica. O presidente acredita que conseguir gerar empregos, educação e saúde adequada para todos os Brasileiros, não é uma tarefa fácil, mas que tudo passa pela atenção básica com as crianças e novas gerações.

Investimentos em segurança

É de conhecimento popular que o Brasil, assim como centenas de outros países, passe por um período de extrema dificuldade no combate a violência. A raiz do problema, de acordo com professores da área, está em atacar o efeito, e não as causas dos males. Tudo isso, em certo tempo, acaba gerando precariedades no sistema penal, baixo índice de resolução de crimes, longos processos e míngua de recursos públicos, investidos, muitas vezes, em sumidouros de verbas, como presídios, que não realizam sua premissa básica, que é a ressocialização do apenado.

Nesta linha, Bento Gonçalves passa por um dos anos mais turbulentos de sua história, com cinco dezenas de assassinatos consumados e assaltos quase diários a pedestres. Neste contexto, Gialdi, que já ocupou o cargo de presidente do Conselho Pró-Segurança Pública (Consepro) do município, entende que exista uma dificuldade no combate à criminalidade, porém mais complexa do que possa aparentar. “Um dos meus maiores desejos é fazer um trabalho de Inclusão e resgate das crianças que estão tão vulneráveis que nada os vê e nada os alcança. Me refiro às crianças que vivem em lares que a mãe é a drogada, o pai está preso, ou ambos estão presos ou viciados. Quem salvará esta criança? Por isso ainda tenho este desejo de fazer um projeto que os identifique, traga-as para o convívio com outras crianças e adultos que possam dar um exemplo mais adequado, mostrar a elas que existe uma outra realidade e esperança. Porém, temos por habito atender sempre o que é mais urgente, e o Consepro acaba por atender e tentar dar suporte às polícias ostensivas, aquela que quando temos um problema todos chamam, e isso também é muito importante. Nos últimos tempos, estamos acostumados a ver mais policiais em nossas ruas. Isso só é possível porque o Consepro banca as refeições e o alojamento para estes novos policiais. Não sejamos ingênuos em pensar que a segurança é apenas com o Governo do Estado. Está provado que o RS não consegue dar este retorno sozinho para a população. Nós podemos escolher a segurança que nós queremos em Bento. Se cada cidadão doasse um centavo de cada produto vendido ou comprado para o Consepro, nós teríamos uma segurança de países desenvolvidos”, almeja.

Repaginação do Parque de Eventos

A modernização do Parque de Eventos é uma das metas do presidente do CIC para o seu mandato.
Foto: Jeferson Soldi, divulgação

Um dos projetos que o presidente do CIC tentará tirar do papel para o próximo ano é o incremento de tecnologias nos pavilhões do Parque de Eventos. Embora não dê detalhes específicos sobre a proposta, Elton adianta que o CIC-BG tentará dar amparo para a diretoria da Fundaparque para buscar mais conforto e comodidade ao visitante e expositor, em busca de ampliar a competitividade do parque ante os outros da região. “Bento Gonçalves precisa dar mais atenção e o devido respeito ao nosso parque de Evento. Em um simples exercício de raciocínio, nós poderíamos imaginar o que seria nosso município sem este parque que atraiu e atrai tantas festas anuais para cá? Certamente seríamos outro município, bem menor. Precisamos urgentemente planejar e fazer tais investimentos para que possamos estar ainda mais preparados para sermos referência para a América Latina e para não sermos ultrapassados por novos parques que estão se instalando no país. Estamos na vanguarda porque aqui desenvolvemos um excelente know-how de eventos. Precisamos manter isso”, finaliza.