Claro que o somos de nascimento e de registro. Porém a impossibilidade está em “jogar o jogo”. Ser brasileiro é como estar em um tabuleiro sem regras, onde os peões correm desgovernados para lá e para cá e você nunca sabe quando será atingido por uma “chapoletada” ou um uma bala perdida. Aqui é o lugar onde as pessoas saem para trabalhar e levam um tiro na cabeça na parada do ônibus. Ser brasileiro é como estar num tribunal onde o juiz conta piadas, em um picadeiro onde o que o palhaço fala é lei. Não existe norte, não existe honra. Ninguém tem, ninguém quer, a senhora vergonha na cara – aqui é uma selva onde há muito, mas há muito tempo mesmo, ela foi extinta. Herdeiros de barbaridades, hoje apenas mais veladas, vamos lutando para conseguir respirar em meio a essa nuvem de fedor tóxica. Enquanto isso, reproduzimos no nosso cotidiano atitudes de plágio, roubo e descaso. Vamos deixando passar responsabilidades para lá e para cá, desmotivados com o escárnio geral a que somos submetidos. Nenhuma bondade, pouca lealdade, raro reconhecimento. Dá vontade de fugir. Sim. Como jogar um jogo sem regras? Como dirigir um carro desgovernado? Como viver em um cosmos onde não existem leis da física? Fica tudo flutuando, no oceano de perguntas sem respostas, no breu deste céu sem luz.

No Brasil falta confiança, primeiro em si, depois no outro. Muitos de nós desrespeitamos alguma norma porque sabemos, ou cremos, que o próximo ali adiante também a desrespeitará, portanto não seremos nós os otários que faremos o que é certo para levarmos uma rasteira em seguida. Faremos logo o errado de uma vez. Só que lá no fim da linha desse ciclo maléfico está o nosso último próximo – a consciência. Diante dela é impossível mentir. Dali vem o eco cruel jogado em nossas caras refletidas no espelho – aquilo que estamos falando nem nós acreditamos. Ela arquiva todas as discrepâncias entre o que você sabe, sente e acredita que deveria ser feito e o que você realmente faz – tantas vezes nada. Você é o primeiro juiz de si. Então se algo está errado, mas “passou” em vistas grossas aos olhos da lei, do fiscal, do guarda, da esposa e do pai, porque é que você se dá por satisfeito? Tire o foco das multas, penas e punições. No momento em que entendermos que a lei maior de todas é fazer ao próximo exatamente aquilo que gostaríamos que nos fosse feito, muito, (ou tudo?) seria apaziguado. Você bateu no carro do vizinho, ninguém viu? Deixe um bilhete. Você sujou alguma coisa? Limpe. Você calculou errado? Assuma. Você disse uma coisa e mudou de ideia? Reconheça. Você viu e não disse nada? Volte e fale alguma coisa. Pronto. Não precisaríamos tanto de lei se respeitássemos mais nossa “voz interior”. Além disso, fica o alerta – quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, já cometeu um grande erro – a omissão. Quando você sabe que algo poderia ser melhor por conta da sua influência, mas relutantemente resolve não fazer nada porque ninguém está te obrigando, ou porque, aparentemente não terá repercussão nenhuma, você é quem mais se engana. Lembre: a pior consequência de qualquer coisa é sempre o que você mesmo sabe sobre si.

A NOI de agosto foi lançada ontem (04.08) em Caxias do Sul. Para receber a revista envie seu pedido para [email protected]. Em breve você também encontra a NOI nos pontos de venda de Bento Gonçalves. Ou, se preferir, a versão online pode ser lida em www.revistanoi.com.br.