Tenho percebido pelos contatos que recebi, pelas leituras de cartas de leitores em jornais do Brasil, revistas, blogs, sites de agências de notícias, redes sociais, enfim de todos os meios e mecanismos de comunicação hoje disponíveis, que ainda há muitas pessoas que não entenderam o impeachment – aprovando ou não – da ex-presidente Dilma Rousseff. Acontece que Dilma foi alijada do cargo por alegado “crime de responsabilidade”, que caracterizaram pelas chamadas “pedaladas fiscais” (expressão que já pode ser aplicada a muitos atos de governadores e prefeitos Brasil afora) e pelos “decretos não autorizados pelo legislativo”. Tentava entender quando vejo que o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, colunista do Correio do Povo, em seu artigo desta terça-feira, dia 6, sob o título “Moral Política”, aborda os tais de “decretos sem autorização” de forma que, a exemplo de tantos, eu também não entendi. Escreveu Juremir: “Três dias depois do impeachment de Dilma, o Senado aprovou uma mudança na lei dos decretos de suplementação orçamentária flexibilizando alguns itens.

O projeto, concebido ainda no governo Dilma, só recebeu aprovação na última terça-feira. A Agência Senado noticiou assim a aprovação da nova lei: – O projeto amplia, de 10% para 20%, o limite para suplementação e cancelamento de subtítulos da LOA de caráter geral, que se aplicam ao maior número de ações orçamentárias. Segundo o Executivo, o percentual de 20% permite que os gestores públicos tenham mais flexibilidade ao fazer ajustes necessários ao orçamento, principalmente em anos de restrição de receitas.” Li e reli essa parte do artigo e, confesso, não consegui entender. Talvez meu lado moral e ético não quisesse entender. Resolvi reler o texto todo. E destaquei o seguinte trecho de Juremir Machado da Silva: “O que era crime ontem, não é mais crime hoje? O crime não começa mais depois de 10%, mas depois de 20%? É o escalonamento criminal? Até 20 facadas, legal. A vigésima-primeira facada caracteriza crime?… Bem, entendi menos ainda.

Ou não quis entender. Por comodismo, talvez. E Juremir continuou citando o escrito de Ricardo Lodi, professor da UERJ. Escreveu ele: “O Congresso, que nunca considerou as condutas supostamente praticadas pela presidente Dilma como ilícitas, encerrado o processo de impeachment, passa a considerar tal conduta como absolutamente legitimada. Ou seja, até ontem era crime, hoje é conduta legitimada. A conduta não era ilícita antes nem seria depois. Só foi considerada crime para aprovação do impeachment”. O que entendi, e muito bem, é que se essa farsa toda (descrita como tal não só por mim, mas por jornais como o Le Monde, Francês, e o New York Time) trouxe marcas nas pessoas. Se concorda com a farsa, beleza! Se não concorda, bem, aí a pessoa é “petista”. Simples, não? Bem mais simples do que pensar e tirar as próprias conclusões, fugindo do “efeito manada”. Na verdade-verdadeira, a história terá muito para registrar e contar sobre tudo isso. Quem viver, verá!