Tivemos um domingo ímpar, sem dúvidas. Milhares, milhões de pessoas foram às ruas. O número, 6,4 milhões ou 3,5 milhões é irrelevante e só serve, na verdade, para alimentar discussões estéreis entre petralhas e demotucanalhas ou entre petistas e antipetistas. O ponto crucial das manifestações deveria ter sido a corrupção que assola o Brasil, que rouba o dinheiro de nossos impostos, que drena valores que deveriam ser investidos em saúde, educação, segurança pública e infraestrutura. Digo deveria porque, convenhamos, não foi isso o que se viu. Foram, escancaradamente, manifestações contra o PT, Lula e Dilma. Qualquer coisa fora disso é tergiversação, é querer negar o óbvio-ululante. E não estou aqui dizendo que as manifestações não deveriam acontecer. Claro, deveriam sim, na medida em que em qualquer democracia a população tem o direito inalienável de expor suas opiniões. No Brasil não é diferente, mesmo que alguns “sem noção” saibam ou “finjam” desconhecer o que é ditadura, alegando que “estamos numa ditadura socialista”. A esses deve ser dito: “ainda bem que estamos numa ditadura com milhões de pessoas fazendo e dizendo o que bem entendem”. Se esses tivessem vivido – e muitos viveram, mas devem ter esquecido – a ditadura civil-midiática-militar de 1964 a 1985, certamente não falariam em ditadura nos dias atuais. Aliás, até acho que a verdadeira democracia passa longe do que se vive hoje por aqui. Beira a insensatez o que se ouve, lê ou vê oriundo das redes sociais, da imprensa, de órgãos ligados ao judiciário e de políticos. Mas, voltando às manifestações de domingo, sem sombra de dúvidas não tiveram como alvo a “corrupção”, mas a “corrupção do PT”. Partidos como o PP – que teve, disparado, o maior número de envolvidos nas roubalheiras da Petrobrás e com condenados no “mensalão” -, PMDB – que ostenta um “honroso” segundo lugar no envolvimento com falcatruas -, PTB, PDT, PSDB, DEM e outros de menor importância foram solenemente esquecidos pelos manifestantes. Por quê? Alguns dirão que é o PT que está no governo. Sim, está no governo, mas apoiado há 13 anos por membros desses partidos, com exceção ao PSDB e DEM, que têm corruptos e ladrões “independentes” do atual governo. Jamais o PT teria chegado a se envolver em tantas roubalheiras se não contasse com o “auxílio” singular dos seus apoiadores que, “casualmente”, estão no poder há mais de cem anos. Os petralhas aprenderam, com louvor, os ensinamentos dos demotucanalhas. As pessoas realmente “de bem”, não de ética, moral e honestidade seletivas, esperam que, a partir de agora, a corrupção seja efetivamente combatida, sem partidarismos, sem seletividade, sem deixar processos dormindo em gavetas. Aqui, no Rio Grande do Sul, tivemos ontem o julgamento (não sei o resultado, ainda), em segunda instância, dos malfeitos sofridos pela CEEE há mais de VINTE ANOS. Já as roubalheiras do DETRAN-RS, que já teve dezenas de condenados em primeira instância, ainda não chegou à segunda instância, estranhamente. Vale o mesmo para as dezenas de roubalheiras, até mesmo já provadas (inclua-se aqui o “trensalão” paulista, o “mensalão do DEM” de Brasília e o “mensalão do PSDB” mineiro), cujos processos teimam em não andar, ao contrário de outros. E tem muito mais a se dizer sobre corrupção. Voltarei ao assunto.