Professor de geografia de Bento propõe quebrar paradigmas de ensino por meio da geopolítica aplicada e do RPG

Buscar formas mais dinâmicas de ensinar e de relacionar os assuntos em sala de aula é desafio no mundo hiperconectado. O professor Alan Cristian Ballestrin Guerra, da Escola Mestre Santa Bárbara, desenvolveu um jogo de simulação de combate sobre a Guerra das Malvinas e nesta semana deve iniciar um RPG que desafiará os participantes a reconstruir uma sociedade dizimada por um ataque biológico. A recepção tem sido excelente e participantes relatam trabalhar habilidades que normalmente não são abordadas nas aulas comuns.
O grupo de esudos avançados ARS Belli, como Guerra define, é formado por dezenas de estudantes dos últimos anos da Escola Mestre, mas a ideia também é expandir para outras instituições de ensino. De acordo com ele, foram selecionados estudantes que têm mais afinidade com geografia e gostam de ler. “Nós estamos tentando quebrar um pouco o paradigma e mostrar para eles que todas disciplinas estão interligadas, todas elas têm relação”, avalia.
Os participantes são voluntários das atividades extradisciplinares e as decisões do grupo são tomadas democraticamente, de forma a incentivar a participação. “Tem o pessoal que adora ler e coloca isso na pesquisa. Incentiva tanto os alunos como professor”, avalia Guerra. A partir dos projetos, a turma pretende escrever dois livros: um sobre a experiência do RPG e, outro, sobre as Malvinas.

Conhecimento para a vida

Os estudantes relatam que o método de ensino desperta interesse na pesquisa e tira do comodismo. “Está todo mundo acostumado na escola com aquela dinâmica de livro e prova. Aqui é diferente, aprendemos situações para a vida, vai desperar o interesse sobre economia, sobre o cotidiano”, relata uma das participantes do ARS Belli.
Outra estudante afirma que nas demais aulas, é comum que as atividades estejam concentradas no Enem e no Vestibular. “Como nós jogamos em grupo, nós temos quer aprender a lidar com o outro, a respeitar a atitude do outro”, afirma.

RPG multidisciplinar

O jogo de RPG, que começa essa semana, se baseia na premissa de que a sociedade foi praticamente dizimada por um ataque biológico e é necessário reconstruí-la. Então os estudantes precisam pensar sobre os diversos setores necessários para o desenvolvimento e nas escolhas políticas e religiosas que vão orientar a ação.
Segundo o aluno Rafael Sberse, de 16 anos, que está ajudando na organização do jogo, o sistema permite interação entre turmas, desde batalhas até negociação de itens por meio de uma bolsa de valores. “Vai ter uma situação-problema, um tema, por semana. A pessoa que tiver mais interesse no tema, vai mestrar naquela semana”, explica.
A base do jogo será o Rio Grande do Sul, então cada turma representará uma cidade. A ideia de Guerra, no próximo ano, é iniciar o RPG no começo do ciclo letivo e trabalhar todas aulas a partir dele. “Tem algumas que demonstraram interesse em participar”, comenta.
Além disso, o professor argumenta que o projeto é pioneiro no Brasil e que há poucos RPGs voltados à educação. “A gente fez uma pesquisa e identificou que não tem nenhum RPG com a mesma complexidade”, comenta.

 

Guerra das Malvinas é cenário para jogo de estratégia

Era 2 de abril de 1982. Centenas de soldados argentinos ocupam as Ilhas Malvinas, de domínio britânico, no Atlântico Sul, e a população comemora nas ruas de Buenos Aires. Depois de semanas de tentativas de negociação, a primeira-ministra Margareth Thatcher diz que o tempo para diplomacia se esgotou e no dia 1ª de maio acontece o primeiro ataque contra os argentinos.
Os fatos que sucedem o fatídico início do combate são o ponto de partida para o jogo concebido pelo grupo. Na perspectiva de Guerra, a busca principal é por uma complexidade maior do que aqueles jogos comumente trabalhados em sala de aula. “Serão mais de 400 peças, cada uma exerce influência na outra porque nós montamos um mecanismo”, explica.
O objetivo é replicar todos momentos da Guerra das Malvinas. De acordo com o professor, o jogo começa com os ingleses descendo para o Atlântico Sul e os argentinos tendo a opção militar e política de defender a ilha ou recuar. “A Argentina possuía cinco mísseis, cada um afundou um navio”, exemplifica.
Diferente da realidade, no jogo há possibilidade de a Argentina vencer a guerra. “E se a Argentina tivesse vencido, qual teria sido o próximo passo? A invasão do Uruguai?”, provoca.
Na opinião do professor, a geografia não possui laboratório, então os jogos podem ser a melhor forma de aplicar conhecimento. “Tivemos a ideia das Malvinas pela importância delas para o Mercosul. Então o jogo envolve política aplicada, movimentação de tropas, logística, etc. Também podemos trabalhar o papel do Chile, do Uruguai, do Brasil e dos Estados Unidos no conflito”, prevê.