Ela levantou-se as seis da “matina” pressentindo novidade para logo mais. Tomou seu banho, vestiu-se, maquiou-se, perfumou-se, puxou o zíper da malinha, pronta há dias, e foi cochichar no ouvido dele, que dormia o sono dos anjos:
-Acorda, que o Benício está chegando…
O homem pulou da cama desnorteado:
-O quê? Quem? Como? Cadê? Cadê ele?
-Calma! Tu está assustando o gato!
Com os pelos arrepiados, o persa fugiu para debaixo da cama. Por certo, estava antevendo sua queda na hierarquia dos afetos. Já o homem, em polvorosa, passou a andar de um lado para o outro, sem saber se iria antes para o banheiro ou se, de cueca mesmo, levaria a mulher para a maternidade.
-Pode te vestir, que o “baby” só mandou um recado. Vai demorar ainda pra botar a cara no mundo!”
Cinco minutos depois, estavam ziguezagueando no estacionamento, em busca da saída… que nem o bebê. Eta labirinto! Da garagem! Essa gana da construção civil de aproveitar todo e qualquer espaço é de matar, ainda mais numa situação de estresse. Por sorte, a mulher estava tranquila que nem água de poço… até começarem as contrações.
“Foi meia hora de dor. Vocês nem podem imaginar! Quase morri”, confessou-nos a mãe mais tarde, com o pequenino no colo. A outra avó, que só teve partos normais, sorriu condescendente. Quanto a mim, nada a declarar, pois já havia vivido filme semelhante.
Retornando à história: então o Benício nasceu – ou foi nascido. Só chorou porque tinha que chorar mesmo, tão doce que ele é. Mas aí começaram as especulações sobre o seu futuro, com as quais até concordei. Com ressalvas, especialmente quando foi decretado que ele seria um menino bom, obediente, etecétera e tal.
“De jeito nenhum!”- pensei com meus botões – “Se Deus quiser, ele há de fazer tanta estripulia quanto o pai fez. Do bem, sim, mas santo, não! Deixa comigo!”