(Em homenagem ao dia do professor –
crônica publicada há algum tempo)

Já contei e está registrada em “Confissões de um Vencedor”, a história da professora que, por puro idealismo, dava aulas numa sala cedida de um prédio de poucos andares, num bairro meio escurinho na época, no turno da noite. E que, durante uma aula de matemática, enquanto explicava o sistema de medidas, uma mão se infiltrou pela janela, tateando até achar à bolsa que estava na medida certa do braço. Como revelei naquela crônica, mestra e alunos ficaram sem ação. E só após o primeiro impacto, veio a reação. Mas, tarde demais. A bolsa já estava a muitas pedaladas daí.
Depois de parar de rir (quem a conhece sabe do que estou falando), a professora foi aconselhada a registrar a ocorrência. Ao descrever o “meliante”, ela disse didaticamente que se tratava de um membro preênsil de menos de um metro, parcialmente vestido, com prolongamentos bem treinados. E que seria incapaz de reconhecê-lo, pois o braço fantasma não tinha nada que chamasse a atenção, a não ser, obviamente, um inusitado molejo.

Algum tempo depois, a bolsa foi devolvida com os documentos, óculos e um bilhete: “Fesora, tô devolvendo, mas não abuza da sorte…nem todo mundo é que nem a jente”. 

Situações do tipo não são raras. Como todos já devem ter lido ou ouvido, ocorreu fato semelhante em Porto Alegre . Houve um furto – o segundo em pouco tempo – na casa de uma professora e, após cinco dias, documentos e cartões foram deixados no pátio de sua residência, também com um bilhete: “Disculpa dona Maria que DEUS li abençoe foi pelos meus filhos que tive que robá sei que não é serto mais só DEUS para mijuga que DEUS ilumine seu caminho e que tide em dobro. Amém”.

Nas duas situações, os larápios mostraram respeito às professoras que, tudo indica, foram suas. Mas por que indivíduos à margem da sociedade se importariam com elas? Eu tenho uma teoria: essa reverência é uma resposta à maneira como foram acolhidos pelas mestras e que tem a ver com o seu DNA. Ou seja: naquela escadinha em espiral, há lacinhos cor-de-rosa, onde residem afetividade, sensibilidade e empatia, que se materializam na aceitação dos alunos e na aposta pela sua transformação.

Que me desculpem os professores – homens – mas lacinhos azuis não produzem o mesmo efeito.

Parabéns aos professores!