Apesar do crescimento dos conservadores no parlamento, regras para reconhecimento não devem ser modificadas

A Itália foi às urnas no domingo, dia 4 de março, e o resultado demonstra um crescimento expressivo do Movimento Cinco Estrelas, do comediante Beppe Grillo, que conquistou, individualmente, a maioria dos votos. Além disso, as forças conservadoras ganharam espaço, inclusive o partido do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. De acordo com especialista, embora o cenário demonstre um possível crescimento do conservadorismo na política italiana, isso não deve ter impacto nos procedimentos de reconhecimento de direito à cidadania.
Quando Berlusconi era líder do governo, em 2008, estudava-se a possibilidade de dificultar o processo de concessão de cidadania, exigindo, por exemplo, conhecimento no idioma da Itália. Para Leandro Nardini, que trabalha com o encaminhamento de cidadanias italianas, existe um abismo entre prometer e cumprir, na política. “O direito à cidadania está escrito na Constituição italiana e seria muito difícil e improvável modificá-la em curto prazo”, avalia.
Nardini também comenta que a Constituição é de 1948, portanto, teria que mudar uma lei muito antiga. “É o direito que todo pai italiano tem de transmitir para seu filho a cidadania, essa modificação não deve ocorrer nos próximos cinco ou seis anos, porque teria que mudar muito”, esclarece.

Itália de ontem, Brasil de hoje

Na opinião do cientista político João Ignacio Pires Lucas, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), o caso italiano é uma excelente referência para o futuro do sistema político do Brasil, uma vez que na Itália acabou se criando um espaço político enorme após a deflagração da Operação Mãos Limpas. “O Brasil, nessa perspectiva, é um pouco a Itália de ontem. Agora está mais forte com a Operação Lava Jato, com denúncias e condençaões. Isso demonstra o quanto o sistema político e partidário estava comprometido, mas isso não significa que as investigações vão resultar em um sistema político melhor”, prevê.
Além disso, na análise de Pires Lucas, o partido de Berlusconi e os populismos de direita ganham força em um cenário de esvaziamento político. “Aqui a cultura é um pouco parecida. Porque na crise da política tradicional, poderia surgir novos grupos mais democráticos e éticos. Só que também surgem oportunistas”, avalia.

 

Foto: Alessandro Bianchi/Reuters, Reprodução