Amanhã, 13 de agosto, é um domingo mais que especial. É dia de celebrar a importância do papel paterno e recordar os diversos momentos ao lado daquele que chamamos de pai.

No Brasil, a ideia da comemoração de Dia dos Pais surgiu em 1953, inicialmente datada para 16 de agosto, por coincidir com o Dia de São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus Cristo. Atualmente, a homenagem para a figura paterna é no segundo domingo de agosto.

Em Bento Gonçalves e região, alguns exemplos significativos deste elo com os filhos se contempla em histórias como as de Heitor Spadari, Felipe Leandro dos Santos, José Valtair Frigi e Pedro Remus.

Professor e pai

Foto: Cláudia Debona

O professor de inglês, Felipe Leandro dos Santos, de 33 anos, tornou-se pai pela primeira vez em meados de 2013, quando decidiu morar com sua parceira e o filho dela, que tinha três anos na época. “Foi o primeiro a me chamar de pai. A paternidade ampliou meu olhar para os alunos, tornando-me mais atento aos sinais de alerta, como bullying, ansiedade, apatia, falas envolvendo assuntos inapropriados para idade, entre outros acontecimentos”, destaca.

Atualmente, dá aulas para a filha, e explica que tem sido mais tranquilo do que imaginava. “Já fui professor do meu enteado durante o 5° ano, no início da pandemia. Ele parecia até mais receoso do que eu. Com minha filha, que está no 3° ano, os papéis de professor e pai se confundem às vezes, mas é divertido”, fala. Com isso, Dos Santos observa que os maiores desafios acabam recaindo sobre os filhos. “Tem a ver com as expectativas dos outros sobre eles. Minha filha vai bem no inglês, mas o menino já pegou recuperação comigo”, percebe.

Para ele, ser um pai professor é expandir a paternidade para acolher mais filhos, como seus alunos. “Estendendo a relação de cuidado e responsabilidade para além do núcleo familiar, o que é uma grande tarefa. Alguns alunos me veem como uma figura familiar, talvez a de um tio ou padrinho, e isso me inspira a ser um modelo positivo para eles, tanto como professor quanto como pessoa. E, sim, já tive alunos me chamando de pai”, comenta.

Ademais, ele acredita que a interseção entre a paternidade e o ensino o fez crescer em ambos os papéis. “Cuidar dos meus filhos e orientar meus alunos são os pilares que moldam minha jornada, enriquecendo minha vida de maneiras inimagináveis”, encerra.

Aventureiro aos 94

Em Santa Tereza, a relação entre Geraldo Valar Remus e o pai Pedro Remus, de 94 anos, se destaca pelo cuidado e pela aventura. Em cima do quadriciclo, os dois criam momentos especiais na estrada, proporcionando experiências únicas.

Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com Geraldo, o pai adora fazer os passeios com o transporte inusitado, para relembrar o passado e ver as mudanças que estão acontecendo na cidade. “Aos seus 94, não se cansa de andar de quadriciclo. Teve uma vez que fomos a Muçum, 13 de Maio, Vespasiano Corrêa e no Cristo de São Valentim do Sul, cheguei em casa cansado e ele, na carona, queria andar mais”, vibra.

Seu Remus sempre atuou na agricultura e é um exemplo de pai para os sete filhos, criou-os com as dificuldades da época e nunca desistiu. “Trabalhava com soja, milho e trigo. Recolhíamos goiaba e era tudo manual. Depois começamos com horticultura para fazer a feira livre em Bento Gonçalves. Andávamos de carroça com bois por seis quilômetros até o moinho de Santa Tereza, que era chamado de cooperativa, para levar os grãos para fazer a farinha e trocávamos uma quantia com produtos do mercado”, acrescenta Geraldo.

Conforme o filho, o legado de Remus foi nunca desistir dos seus sonhos, mesmo após uma idade avançada. “Ele nos incentiva a viver e sempre nos deu bons conselhos”, confessa. Com isso, Geraldo recorda de uma ocasião complicada que aconteceu há mais de duas décadas, mas que marcou muito a relação com o pai. “Eu trabalhava em Bento há uns 22 anos, cheguei na casa dele e fomos ao rio. Estava sentado no barranco e ouvi uma gritaria dos meus sobrinhos, que o avô estava se afogando, que tinha virado o caíque. Larguei tudo e fui em busca dele, Deus me deu uma mão para alcança-lo, puxei ele para fora do rio já quase sem vida”, detalha.

Para Geraldo, o pai é exemplo para ser seguido, sempre aventureiro e jovial. “Além disso, ele gosta de falar com os amigos da sua época para ocupar a cabeça. Quero que ele saiba que nos momentos difíceis ou de alegria em cima do quadriciclo, estarei sempre ao lado dele”, finaliza.

Uma vida dedicada ao atletismo

O atleta Heitor Spadari sempre foi um exemplo para as filhas, que aos poucos foram unindo-se a ele rumo a uma trajetória de conquistas no esporte. Apaixonado pelo atletismo, desde os dez anos constrói histórias que nunca esquece. “Fazia tudo para minha irmã correr atrás de mim, por que sabia que nunca iria me pegar. Minha turma da escola enfrentava outra e sempre vencia. Até que surgiu uma prova entre um colégio e outro, onde também ganhei”, recorda.

Já adulto e com as filhas nascidas, o exemplo de um pai cheio de virtudes se mostrava forte ao conquistar diversas competições, mesmo com o trabalho no campo. “Não foi fácil correr e cuidar da lavoura também, mas foi muito emocionante saber que estava sempre no pódio”, salienta.

De acordo com Spadari, a união com as filhas nas provas foi importante para obterem melhores resultados. “Minhas filhas iniciaram no esporte e fiz o suficiente para conquistar um master, fui campeão estadual várias vezes, inclusive no primeiro ano conquistei 30 provas em primeiro lugar. Venci o Troféu Brasil em 2017 e em 2022 também ganhei todas”, conta orgulhoso.

Foto: Divulgação

A filha mais velha, Suelen, ressalta que o pai se auto inspira. “Não tem tempo ruim, ele vai e faz. Nos mostra o que é disciplina e força de vontade todos os dias”, diz. Para ela, crescer com um atleta foi especial. “Ele sempre nos falava que devíamos seguir no esporte, minha mãe conta que na gestação ele fazia os exercícios em cima da cama e desde lá me incentiva a seguir esse caminho”, lembra.

Conforme Suelen, o apoio de Heitor foi primordial para seu crescimento na área. “Ah, se todos tivessem um pai como o nosso, que nos incentivou a encarar a corrida, bem como a vida. Abdicava horas de trabalho para nos levar para correr. Ele era nosso ‘paitrocínio’, brincávamos com isso, mas era real. Me fez crescer como pessoa, sempre disse que nada seria fácil, mas que tudo era possível, era só acreditar e encarar com firmeza, constância e força”, destaca.

A saudade aperta quando estão separados. “Sentimos falta um do outro quando os treinos não acontecem juntos. É tão bom chegar, falar, olhar, correr e ver que alguém entende sua angústia ou alegria. E saber que compartilhamos juntos os melhores momentos da nossa vida”, expressa Suelen e deixa uma mensagem. “Gostaria de agradecer por tudo que ele fez por mim, mas principalmente que sirva de exemplo para outros pais também”, conclui.

A mais jovem, Hélen, fala um pouco sobre a vida árdua do pai na colônia, que sempre conciliou com sua grande paixão, o atletismo. “Meu pai me inspira por que mesmo ele sendo agricultor, nunca deixou de treinar, mesmo em dias de safra. Claro que em alguns momentos não era possível, mas ele tentava recuperar em outra ocasião”, afirma.

Segundo a caçula, mesmo na época que o pai deixou de competir, nunca parou de treinar. E quando voltou, não parou mais de correr. “Então, ele nunca deu desculpas de falta de estrutura ou incentivo de outras pessoas para fazer o que ele achava que era certo. É um exemplo ver isso, um pai que sempre fez tudo pela família e também incentivou as filhas a seguir um caminho que ele considerou bom”, valoriza.

Com diversas premiações, Hélen destaca que Heitor foi a parte mais importante no quesito apoiar e inspirar. “Acho que o mais nítido é esse exemplo que é meu pai, por ele já ter seus 65 anos e mesmo assim sempre se dedicou muito e ainda se dedica ao esporte, a corrida, por amor e pela saúde”, revela. E complementa. “Ter ele e minha irmã correndo é muito bom, um sempre puxa o outro para cima. É importante ter apoio de quem amamos, que realmente vibram com as nossas conquistas e quando não está bem, ajuda a levantar”, finaliza.

Uma nova chance de paternidade

Foto: Arquivo Pessoal

Um exemplo de que nunca é tarde para se tornar pai e aumentar a família, sempre com muito amor envolvido, é a história do representante comercial, José Valtair Frigi, de 53 anos. Em 1992, saiu do exército e decidiu buscar emprego em Bento Gonçalves, foi aqui que teve a oportunidade de exercer a paternidade. “Conheci minha falecida esposa que já tinha uma filha de seis anos, Daisy. Os anos foram passando e sempre tive o sonho de ser pai, com isso veio a Kelly, em 1996. Viuvei em 2018 e depois disso conheci minha esposa atual, que já tinha um filho de sete anos, Joao Pedro”, recorda.

O tempo foi passando e o casal sentiu que precisava de uma ligação mais forte. Em 2022, o pequeno Vitor, hoje com um ano e seis meses, nasceu para dar uma nova chance de Frigi ser pai. “É bem diferente, pois sou mais maduro e com isso aproveito mais o tempo que tenho livre para curtir meu filho”, destaca.

O maior desafio, conforme Frigi, é entregar uma pessoa do “bem” para o mundo, com valores e princípios. “Pois fui criado de uma maneira simples e com pouca coisa. Hoje, vejo que as crianças querem tudo e para ontem, o que é um choque muito grande da realidade que cresci”, frisa. Para ele, ser pai é estar presente e ser a referência do que é certo para os filhos. “É participar nos cuidados como troca de fraldas, alimentação, levar ao médico e ser apoio para esposa”, conclui.