Em novembro de 2021, o Índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana destacou Bento Gonçalves como o município com o melhor serviço de limpeza urbana do Rio Grande do Sul. Diariamente, há quase 30 garis atuando nas ruas da cidade, além de 42 realizando a coleta de resíduos

Quem circula por Bento Gonçalves, geralmente encontra as ruas limpas. Esse fator rendeu ao município, no final do ano passado, o destaque de cidade com o melhor serviço de limpeza urbana do Rio Grande do Sul, segundo o Índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana. Embora nem sempre devidamente valorizados, por trás desse cuidado, há quase 30 garis atuando nas vias públicas, além de outros 42 realizando a coleta de resíduos. Para homenagear esses profissionais, anualmente, no dia 16 de maio, comemora-se o Dia do Gari.

Um exemplo é Eloí Moreira dos Santos, que há quase 12 anos trabalha nesse ramo. Inicialmente ela foi designada a realizar a limpeza de uma parte da avenida São Roque. Os primeiros meses não foram fáceis, principalmente porque estava acostumada a trabalhar na limpeza de residências. “No começo, precisei me adaptar. Os primeiros dias foram difíceis”, lembra.

Depois desse período houve uma mudança e ela ficou encarregada de realizar a limpeza das praças dos bairros São Roque e Aparecida, além da quadra onde está a Faculdade Cenecista. Até hoje ela é responsável por cuidar destes locais.

Na rotina de Eloí, nenhum dia é igual ao outro. Em alguns, encontra os locais mais sujos, em outros, nem tanto. “Quando tem bastante movimento, encontro as praças bem bagunçadas, com lixo, garrafas de bebidas que tem gente que não joga nas lixeiras, deixam em volta. Agora é temporada de folhas, então tem bastante delas espalhadas para limpar”, afirma.

Porém, independente do que encontra, todos os dias, a gari dá o melhor de si, pensando sempre no bem-estar de quem usufrui ou circula pelos espaços. “Procuro sempre manter em ordem as praças, principalmente para as crianças poderem brincar. Quando vejo que algo está estragado, aviso os responsáveis, para a população se sentir confortável”, afirma.

Por ser um bairro populoso, o movimento da praça São Roque é intenso, principalmente aos sábados e domingos. Aos olhos da profissional, esse é mais um motivo para deixar tudo caprichado. “É um lugar familiar, final de semana tem bastante gente que vai tomar chimarrão. Então, procuro sempre manter organizado, principalmente os brinquedos, a areia limpa, fezes de cachorro na lixeira, para as crianças poderem brincar e se divertir com segurança”, destaca.

Por estar há mais de uma década atuando como gari, Eloí já se tornou conhecida por grande parte da população dos bairros em que trabalha. Para ela, que ama a profissão, receber um sorriso e ser cumprimentada, já é motivo de alegria. “Todo mundo já me conhece, os motoristas de ônibus passam por mim e abanam, buzinam, cumprimentam. Me sinto bem vista pelo pessoal e recebo bastante elogios por manter as praças em ordem. Os padres da Igreja São Roque, do Aparecida também, no posto de saúde que tem as gurias da enfermagem, todos eles me passam um sentimento bom”, salienta.

Coleta de resíduos feita com alegria

Eles sempre foram essenciais. Porém, no período da pandemia, em que grande parte da população precisou permanecer em casa, o acúmulo de lixo se tornou muito maior, evidenciando ainda mais a importância dos garis que atuam na coleta de resíduos.

Esse é o caso do Jonas dos Anjos Martins. Natural de Alegrete, mudou-se para Bento Gonçalves há sete anos. Naquela época, começou trabalhando em uma empresa terceirizada, mas já no ramo de limpeza. “Trabalhava no lixão e via os garis chegando com os caminhões para descarregar, então decidi ir atrás do encarregado para pedir um serviço, porque estava saindo daquela outra empresa”, conta.

Alex e Jonas afirmam que sentem orgulho do trabalho

A rotina dele começa às 7h e geralmente encerra às 14h. Nas segundas, quartas e sextas ele passa, com o caminhão, pelos bairros Botafogo, Santa Rita e Verona. Nas terças e quintas é a vez do Santa Helena e Santo Antão. “A gente começa o dia coletando, fazendo nosso serviço, dando bom dia, boa tarde, com sorrisos, com uma conversa. Tem gente que oferece café pra gente, oferece alimento. É assim”, afirma.

Martins se diz apaixonado pelo que faz. Durante a pandemia, precisou, temporariamente, voltar para Alegrete. Nesse tempo, trabalhou em outro segmento, mas não gostou.  “Tentei trabalhar em lugar fechado, mas não consegui, parece que está no sangue o trabalho de gari, faço com alegria”, frisa.

O profissional conta que a profissão tem a admiração, principalmente, da criançada. “Nesse tempo, tenho muitas histórias, já ganhei bolo, já tirei fotos, fiz e faço muitas crianças felizes, elas amam demais essa profissão”, garante. Para além disso, ele também frisa que o trabalho é importante para toda população da cidade. “A gente mantém nossos bairros, nossa cidade limpa”, acrescenta.

Por fim, o gari orgulha-se em afirmar que por meio do trabalho, já obteve muitas realizações. “Com a coleta de lixo consegui realizar muitas coisas na minha vida. Tirei carteira de motorista, comprei meu carro próprio, meus filhos estão fazendo curso. Não deixo nunca mais esse trabalho. Tenho orgulho. É muito satisfatório. Amo o que faço. Tem excelentes profissionais”, finaliza.

Também natural de Alegre, foi por intermédio do cunhado Jonas, que Alex Sandro Medeiros aderiu à profissão de gari, quando chegou em Bento Gonçalves, em 2015. Desde então, pegou gosto pelo trabalho e não pretende trocar. É por meio dela que ajuda no sustento do lar. “A gente paga aluguel, mas dá para sustentar a família, bem tranquilo”, pontua.

Com um sorriso no rosto, o gari acrescenta que sente orgulho do que faz. “Acho uma profissão bem digna. Tem gente que tem muito preconceito, mas é um serviço honesto. É importante para a cidade toda. Bento já foi considerada uma das cidades mais limpas, com um pouquinho, estamos contribuindo para que isso aconteça, cidade bonita, turística”, finaliza.