Aos 58 anos, Eliria Bernadete De Rossi descobriu que uma simples ferida na pele mudaria a sua rotina de vida para sempre

Todos os anos, 176 mil pessoas são diagnosticadas com câncer de pele no Brasil. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Em Bento Gonçalves, esse tipo de tumor é um dos mais registrados em pacientes. A proteção, que vai desde a aplicação de filtro solar, bem como a adoção de atitudes que visem diminuir o contato direto com a radiação ultravioleta, ganham força no mês de dezembro, período dedicado à prevenção da doença. Mesmo sendo um dos tumores com maior probabilidade de cura, a doença serviu de alerta para a aposentada Eliria Bernardete De Rossi, 60, que ao receber o diagnóstico precisou mudar radicalmente suas atitudes para dar a volta por cima e ter uma vida normal.

Em Bento Gonçalves, esse tipo de tumor é um dos mais registrados em pacientes. Foto: Reprodução

O percurso por onde Eliria precisou caminhar durante esta fase da vida teve início após um acidente doméstico, em 2015, quando ela bateu com o rosto em uma porta de sua casa. Com o impacto, acabou se formando uma ferida. “Não me preocupei, afinal, achava que isso era a consequência da batida e acabei deixando”, lembra. No entanto, familiares e amigos cobravam que Eliria fosse ao médico, pois o machucado não cicatrizava. “Passou o tempo e aquele pequeno sinal começou a evoluir. Procurei um médico para ver o que era e, para minha surpresa, veio a notícia que poderia ser um câncer de pele”, explica. Ao ouvir o possível diagnóstico, ela lembra que levou um susto. “Fui imediatamente encaminhada ao setor de oncologia do hospital Tacchini, onde realizei as biópsias que confirmaram o primeiro diagnóstico”, relata.

Eliria lembra os momentos de incertezas que passaram pela mente ao receber a notícia. “Foi um choque. A gente fica sem o chão. Mas, aos poucos, vamos colocando as coisas no lugar, tentando nos conformar com a situação”, afirma.
Segundo ela, além do suporte da família e amigos, se apegou a fé. Eliria comenta que é propensa à depressão, em consequência das perdas de seus pais e um filho, motivos que fizeram com que sofresse com esse problema. Ao enfrentar o câncer de pele, imaginou que não conseguiria superar e que a depressão poderia retornar. “Imaginei que sofreria uma recaída, não pelo que tinha passado, mas, sim, por aquilo que estava por vir”, lembra. Católica, Eliria diz que sempre pediu para que a situação fosse encarada de maneira tranquila. “Entreguei a minha vida a Deus, para que ele fizesse o melhor. Sempre pedia que ele estivesse ao meu lado”, ressalta.

Mãe de dois filhos, Tiago, 31 e Rafael, 13, e vó de uma menina de um ano, ela decidiu enfrentar a doença de uma forma que não sabe explicar. “A gente tira forças dos lugares onde jamais imaginaríamos. Eu queria viver. Estar junto com meus filhos e minha netinha, quero vê-la crescer”, afirma.

Tratamento

Ao iniciar o tratamento, ela lembra que a sua maior preocupação era a perda de cabelo. Após a primeira sessão de quimioterapia, os fios começaram a cair. “Eu não sabia se naquele momento eu ria ou chorava. É uma sensação estranha”, lembra. No entanto, o momento que a colocou de pé para encarar a batalha foi após uma conversa que teve com seu o filho, Rafael. “Eu tive ele com 46 anos, gravidez de risco. E quando me obriguei a raspar a cabeça, foi dele que veio a força para enfrentar o problema. Ele olhou e disse: mãe, tu prefere ficar com cabelo e doente, ou sem cabelo e sem a doença? A partir daí eu levantei a cabeça e fui à luta”, afirma.

Após as aplicações da quimioterapia, veio a cirurgia para a retirada do tumor. “Não tive complicações no pós-operatório. Foi tudo muito tranquilo”, lembra. Em seguida, vieram as radioterapias. Foram 32 aplicações, totalizando seis meses de tratamento.

Durante o processo, a aposentada lembra o suporte que recebeu da equipe de oncologia do Hospital Tacchini e também da Liga de Combate ao Câncer, considerados essenciais na sua recuperação. “Eu tinha tudo. Carinho, cuidado, atenção. Além da minha família e amigos, a equipe médica do hospital e a Liga foram a continuidade do suporte que recebia em casa”, garante.

Ainda, segundo Eliria, ao passar do tempo, vários pacientes realizaram o tratamento. Muitos venceram e outros ficaram pelo caminho. Ela lembra que todas as vezes que recebiam a notícia da partida de alguém, um misto de sentimentos permeava o grupo. “A gente sentia, mas não podíamos nos abater. Estávamos ali, lutando. Utilizei da minha fé para manter a cabeça erguida e vencer essa batalha”, relata.

Vida que segue

Após receber alta do tratamento, Eliria voltou a ter uma vida normal. Sempre vaidosa e ativa, nunca deixou de manter os cuidados e de frequentar os bailes e festas que costumeiramente fazia até ser diagnosticada com a doença. “Coloquei meu lenço na cabeça e fui dançar. A vida não vai parar e eu jamais vou deixar de viver”, enfatiza. Curada, ela realiza exames de rotina a cada três meses. “Em novembro realizei uma tomografia e, graças a Deus, está tudo normal”, afirma. Para ela, a prevenção continua sendo o melhor remédio. “Assim que surgir alguma coisa diferente no corpo, não espere. Busque auxílio. A vida vale muito mais”, garante.

Para o futuro, a aposentada quer viver a vida de maneira intensa. “Quero estar com meus filhos, curtir muito a minha neta e não pensar muito no amanhã. O importante é a gente viver o agora, o momento e não quero que essa doença volte mais”, finaliza.

Precaução nunca é demais

Com a constante divulgação da necessidade de proteção solar, assim como o alerta para a prevenção, as pessoas vem se preocupando mais com as causas e riscos do câncer de pele.

Conforme o coordenador médico da secretaria municipal da Saúde, dr. Marco Antonio Ebert, pequenos cuidados diários podem evitar grandes problemas. Ebert salienta a proteção com filtro solar ao caminhar pela rua durante atividades físicas, principalmente nas áreas desprotegidas pelas roupas. Ele salienta ainda o cuidado com os horários de exposição ao sol. “Evite mesmo com protetor solar, o sol entre às 11h e 17h (horário de verão). Nestes horários, a radiação ultravioleta B (a mais carcinogênica) é mais forte”, explica.

Segundo Ebert, o uso de óculos escuros, bonés, camisetas servem para diminuir a incidência do sol sobre o corpo. “Além disso, é necessário reaplicar a cada duas horas ou após suor excessivo, banho de mar ou rio”, enfatiza.
Em caso do surgimento de manchas na pele, Ebert salienta que a procura por atendimento especializado, ainda em estágio inicial, a doença tem mais de 90% de chance de cura.