“Está tarde, não tenho tempo, não tenho dinheiro, não tive oportunidade, é genético, sempre foi desse jeito”. Essas são apenas algumas desculpas que nos contamos todos os dias. Somos sabotadores o suficiente para inventar e inteligentes o suficiente para aceitá-las. Criamos argumentos para nosso comportamento falho, porque ameniza o sentimento de culpa.

Não acho que todo o mundo tenha que largar o emprego para empreender, mas deve saber se isso é uma vontade sua ou do outro. Seja o que for, precisamos de um propósito. O que vou fazer para isso acontecer, o que eu preciso abdicar para chegar onde quero, quantos limitantes estão me impedindo de dar sempre o próximo passo.

Um dia cansei de me dar tantas desculpas. Percebi que estava criando uma máscara para poder falar: eu como demais porque tenho compulsão alimentar. E depois que desabafava isso, sentia que aquilo protegia todas as minhas jacadas. O hábito de arranjar desculpas faz com que a pessoa não assuma responsabilidade por sua vida. Mas o que a gente não sabe, é que ninguém deveria estar mais interessado em mudar isso, além de você mesmo.

Compulsão é algo muito sério. Seríssimo. Fiz tratamentos. Mas entrei em uma onda de vitimismo que estava me levando ao fundo do poço. Ao invés de agir, estava só filosofando, pensando no dia em que descobriria o que era esse vazio que preenchia com a comida. Talvez ainda não tenha descoberto, mas tenho certeza que é um vazio que não precisa de lasanha.

Ter pré-disposição para uma doença significa que você tem um gatilho apontado para si mesmo. Se levar uma vida saudável, não puxará o gatilho. Simples. A cada obstáculo, a gente recua, ao invés de ultrapassar.

Quando o propósito não é forte o suficiente – e quando nós não somos, tudo e qualquer coisa vira motivo de desistência ou pena. Sentimos pena de nós mesmos quando nossos amigos vão comer pizza e estamos de dieta. Ou nos sentimos péssimos por não ter ido junto, ou vamos junto e nos arrependemos minutos depois. Não estamos satisfeitos com o trabalho, mas não fazemos nada para mudar. Não dá para viver de remorsos, sentimento de pena, de impotência o tempo inteiro. É preciso entender o que vale a pena correr atrás, com o que vamos nos conformar temporariamente, o que vamos abdicar, o que temos a ganhar.

A gente pode ter aprendido errado, aprendido com limitações e acabamos culpando outras pessoas e situações pelo nosso “fracasso”. Mas hoje temos tudo a nosso alcance: informação, conhecimento, terapia, amigos, textos e pessoas inspiradoras.

Não quero mais arranjar desculpas. Se eu tropeçar, pelo menos será indo de encontro ao que acho certo.