Não há perda passível de fácil aceitação ou enfrentamento. Toda morte constitui fonte de sofrimento a alguém. Em todos os casos, tamanha é a dor, que sua intensidade segue para além do suportável. Sabendo-se que a morte é considerada parte circunstancial da vida, questões referentes à própria escolha por viver ou padecer parecem soar como intoleráveis. É, de fato, doloroso e confuso saber que alguém a quem se ama e por quem se preocupa optou por acabar com a sua própria vida, como único recurso visto, por ela, para a resolução de eventuais conflitos.

Observa-se que os sintomas e reações que compõem parte do processo natural de enlutamento também fazem-se presentes quando da perda de um ente querido por suicídio. Contudo, os sentimentos de culpa dos sobreviventes (familiares ou pessoas próximas à vítima) torna-se ainda maior.É comum que surjam dúvidas sobre o que se poderia ter feito para evitar tal evento ou mesmo por que nada foi percebido antes. Ademais, o suicídio geralmente traz consigo um estigma social (a desaprovação de condutas, considerando as normas culturais estabelecidas pela sociedade) e, por esta mesma razão, a vergonha.A angústia das pessoas próximas, provinda dos questionamentos sem respostas, faz com que os enlutados busquem incansavelmente por alternativas que possam dar um sentido ao que aconteceu. Por tal razão, é importante que o suicídio seja abordado socialmente. À medida que o tema é tratado com naturalidade, no sentido da permissividade para se falar sobre, sem receios, as possibilidades de compreensão também se ampliam e promovem significado capaz de transformar e reconstruir vidas ao longo do tempo.

Há muitas teorias que buscam estudar a respeito das possíveis motivações para o suicídio. Este pode ser considerado consequência de uma doença de cunho clínico/médico, embora também possam existir fatores sociais e pessoais importantes que influenciam no processo de decisão e sua efetivação. É importante salientar que as mudanças comportamentais das vítimas são graduais. Isso significa que é extremamente difícil identificá-las de imediato e perceber em que momento elas se tornam significativas para a pessoa que está em sofrimento. Logo, considera-se que as pessoas que estão à sua volta lidam a partir das informações que têm.

É natural que as formas de vivenciar o luto sejam diferentes para as pessoas. Devido ao tabu do suicídio, muitos evitam lembrar ou falar sobre o ocorrido, o que pode ser ainda mais doloroso, dado o vínculo e afeto construídos junto à vítima. Contudo, é possível descobrir que a união fortalece as redes de apoio e que falar sobre o suicídio é, sobretudo, um ato de coragem, força e uma oportunidade para compreender e buscar construir respostas dentro de si mesmo, como forma de reconforto diante da perda. Por tratar-se de uma escolha, mesmo no suicídio, ninguém está sozinho e, neste sentido, o diálogo promove apoio mútuo e meios para a continuidade segura da vida.

Fonte: Franciele Sassi