Um edital para concurso de cadetes para a Polícia Militar do Paraná, aberto recentemente, estabeleceu que os candidatos deverão se submeter a testes psicológicos para avaliar se encaixam-se no critério “masculinidade”. O método define se o candidato tem a capacidade de “não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”.

Sem muito drama, apesar de estar jogando copos nas paredes, gostaria sinceramente de entender como alguém em sã consciência, escreveria algo tão preconceituoso e discriminatório. Depois queria entender como a comissão de avaliação psicológica APROVOU este absurdo. Parem de marchar, de escrever, de lutar e defender tudo àquilo que deveríamos TER por sermos seres humanos diferentes uns dos outros, cada um com suas qualidades e defeitos, homens e mulheres, crianças, idosos. Para que o feminismo, os grupos LGBT e os da consciência negra? Primeiro que eles realmente não deveriam existir, porque podíamos estar todos sentados à mesma mesa, sem precisar morrer defendendo a sua natureza. Depois porque vamos perder tempo estudando, lendo, fazendo cursos e participando de palestras, sendo voluntário? Para chegar uma instituição tão competente, em pleno ano de 2018, e julgar que os cadetes da Polícia Militar, mesmo sendo mulheres – sim (suspiro) – , devem apresentar “masculinidade” para estarem aptos ao cargo? E para piorar o definem como um ogro estrangulando coelhos. Deu para entender o misto de merdas feitas juntas?

Para piorar, ou completar, os homens que apresentarem a tão procurada “masculinidade”, devem suportar vulgaridades, não se emocionarem ao ver cenas fortes e violentas (até achei apologia à violência, mas não vou ser tão má), não podem ser emotivos nem assistir A Culpa é das Estrelas. Ou seja, devem ser um dos protótipos de zumbi de Sussurrus.

Avançamos dez passos, e regredimos vinte. Para melhorar, a instituição defendeu-se dizendo que nunca quis ser preconceituosa e não faz diferença de gêneros, e que a comissão nunca aprovaria algo discriminatório. Claro, foi uma interpretação mal feita pelo resto do mundo, vocês é que tem um dicionário bastante reduzido.

A informação de segunda-feira, 13, é que o edital foi retificado, para “enfrentamento”, no lugar de “masculinidade”. Com certeza dormirei em paz, imaginando que a justiça foi feita. Não sei se é pior saber que as pessoas ainda têm pensamentos preconceituosos, ou se é ver que alguém colocou isso “pra fora” em um documento público.

Espero ter conseguido expressar com fluidez a indignação que me acomete. Presumo que fingimos entender os direitos humanos assim como quando estamos no restaurante e balançamos a cabeça para o garçom fingindo entender o que ele perguntou. Se ele trouxer o vinho mais caro da casa, não vale reclamar na hora de pagar a conta.