Após duas semanas de quarentena, Bento Gonçalves retomou no dia 6 de abril, de forma parcial, o trabalho em indústrias, agências bancárias e lotéricas, principalmente. Os estabelecimentos comerciais devem reabrir na quinta-feira, 16, conforme decreto municipal, podendo funcionar, por enquanto, só com o serviço de take-away ou tele-entrega.

Se na segunda-feira as pessoas saíram às ruas de forma tímida, ao longo da semana a movimentação foi bem mais intensa. Imensas filas em bancos e agências lotéricas, movimento de carros e de pessoas pelas ruas, além de paradas de ônibus cheias foi o cenário mais comum visto na cidade nos últimos dias. A cuidadora de idosos, Carmem Costa afirma que o pior está sendo com os horários escassos do transporte. “Moro em outro município e dependo de ônibus. Não saber que horas tem e quantos têm, é bem difícil”, reclama.

No entanto, a maioria diz estar preocupada com a economia como um todo, nacional e local. “É horrível para quem é autônoma, gestante e que convive com pessoas do grupo de risco, como eu. O valor de R$ 600,00 (ajuda de custo do governo federal confirmada no começo da semana) não paga nem bem a água e luz. Até consigo vender algo pela internet, mas não é a mesma coisa que o cliente ver o produto”, afirma Jane Bastos Monteiro.

Outro que se queixa é o autônomo Valter Ramos. “Dependo das vendas de outras pessoas para fazer entregas. Com as lojas fechadas eu também paro. O pico pode ser agora, talvez o poder público tenha falhado em antecipar a quarentena”, opina. “Vamos sentir mesmo o que vai acontecer daqui a dois meses”, projeta, por sua vez, o motorista Paulo Colleoni.

O representante comercial Thomas Brezolin assegura que as vendas online estão sendo a solução. “Quando se depende de comissão, atinge nós e a fábrica. É uma bola de neve, a engrenagem para”, comenta. Para o agente de proteção Luan Carraro o mais preocupante é a questão do desemprego. “Trabalho no aeroporto de Caxias e estou passando um tempo com a família, que mora aqui (em Bento). Percebo que a aviação foi um dos setores mais prejudicados com a Covid-19”, acentua.

Ações de contingenciamento

Desde o fim de fevereiro, um Comitê de Atenção ao Coronavírus foi criado no município como forma de orientar a população e conter a propagação da pandemia. O grupo é integrado pelas secretarias Municipais de Saúde e de Educação, Vigilância Epidemiológica, Coordenação da UPA, Hospital Tacchini, Associação Médica de Bento Gonçalves e representante da 5ª Coordenadoria de Saúde.

Ao longo do período de quarentena, diversas ações foram realizadas em parceria entre o poder público, privado e sociedade civil. Entre elas, estão a aferição da temperatura, construção de 40 leitos de isolamento para pacientes, sendo que oito já foram entregues à comunidade, sanitização das ruas, além de acolhimento de pessoas em situação de rua, distribuição de mais de mil refeições a pessoas em situação de vulnerabilidade social, entre outros. Apesar disso, a recomendação continua sendo: se puder, fique em casa!

De acordo com a infectologista do Tachini, Nicole Golin, em live no Facebook, a tendência para este mês é de que a curva, como é chamada pelos médicos, comece a crescer com o surgimento de casos mais graves e em grandes quantidades, o que poderá acarretar no sobrecarregamento do sistema público de saúde. “Sem regras e sem limites, o sistema de saúde não vai conseguir aguentar”, constata.

Fotos: Franciele Zanon