O mês de janeiro está chegando e mais uma vez produtores rurais e vinícolas entram em um impasse: o que fazer com tantas uvas produzidas? Não há como receber e estocar tanto produto. Com isso, onde será colocado este excedente?
A situação é considerada preocupante e pode colocar em risco as finanças de muitas famílias. Pelo menos 12 delas, residentes no Vale dos Vinhedos, já estão sentindo o reflexo da mudança de postura de algumas empresas. A ordem agora é optar-se pela qualidade e não mais pela quantidade. Somente nas terras destas famílias, estima-se que a produção ultrapasse 100 toneladas.
As ações paternalistas das vinícolas, que recebiam uvas de todos os tipos já estão chegando ao fim. O futuro nos remete para o recebimento de uvas selecionadas, com qualidade superior e com capacidade de produzir vinhos e espumantes e, até mesmo sucos, acima da média para contentar o paladar cada vez mais exigente do consumidor.
Os produtores precisarão se qualificar e garantir melhores produtos para não caírem em desespero como está acontecendo nesta safra. Além da produção qualificada, está mais do que na hora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, da Emater e da Embrapa começarem uma conscientização em massa para a diversificação de culturas em nossa região.
Afinal, nossa região consome, em grande parte, tomates, verduras, legumes e frutas vindos da Ceasa de Porto Alegre. A diversificação de culturas é uma alternativa rentável e muito proveitosa, caso seja implantada de forma coerente e orientada pelos produtores. Caso contrário, teremos uma crise de proporções nunca vistas no setor vitivinícola.
A postura das empresas em primar pela qualidade não é simplesmente um capricho, mas sim uma exigência de mercado. Para competir em igualdade com os vinhos estrangeiros, nosso produto precisa de qualidade similar para ser reconhecido. Afinal, é inadmissível que o Vale dos Vinhedos, única região da Serra com Denominação de Origem (DO) venha a produzir vinhos de baixa qualificação. Seria uma contrariedade à evolução do produto. Por isso, é necessário que os produtores se adequem a esta nova exigência do mercado.
Precisamos de um meio termo nesta questão. Uma evolução na cultura implantada nos parreirais e um pouco de tolerância das empresas nesta fase de amadurecimento do processo. Abandonar nossos produtores não é uma saída das mais louváveis. Pois, quem garantiu os bons resultados das empresas no passado, não pode ser simplesmente deixado de lado nesta fase de transição.
O bom senso precisa imperar nesta questão. Se faz necessária a intervenção de mediadores habilidosos, que estejam a par da situação para acalmar os ânimos. Bento Gonçalves é uma cidade com várias entidades ligadas ao setor vitivinícola, o que permite que um entendimento entre empresas e produtores seja encaminhado de forma satisfatória para os dois lados. Pelo menos isso é o que esperamos que aconteça.