Atenção, magistrados! Relaxem as prisões feitas e esqueçam as que Vossas Excelências pretendiam fazer. Os políticos, lobistas, doleiros e donos de grandes empreiteiras investigados pela Polícia Federal são completamente inocentes. Libertas quae será tamen – Liberdade ainda que tardia a esses homens e a essas mulheres vítimas da Língua Portuguesa.

Não é a situação, não é a oposição, não é o Planalto, nem o Congresso, nem o Senado, nem o povo, ninguém é corrupto, corruptor ou corrompido, ninguém compra votos, ninguém se vende. Não é falta absoluta de valores, não é conseqüência de “agrupamentos partidários amorfos”, não é ausência de projetos políticos verdadeiros, não é fisiologismo, egoísmo e outros “ismos”… A responsabilidade é de Portugal que nos deixou de herança a “última flor do Lácio”, como disse Olavinho, o eterno Bilac. A culpa é desta gramática cheia de teias e urdiduras que levam a “criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias”, como poetou Caetano, o sempre Veloso.

Em resumo: a corrupção brasileira está entranhada no nosso Português, nos substantivos, nos adjetivos, nos verbos e mais particularmente nos pronomes. O DNA vem do Latim, Língua quase morta, se não fosse a presunçosa linguagem dos advogados (Com a “máxima vênia, causídicos”!).

Disse em outras crônicas e repito hoje, afinal esta novela – “A Regra do Jogo” – protagonizada por atores de todas as facções, está deixando a economia paralisada e os brasileiros à míngua. Mas todo mundo sabe como as novelas enrolam a gente. Sempre um novo capítulo, uma nova revelação para manter a audiência.

Enfim, vamos focar nos criminosos sequer cogitados pela Lava a Jato: os PRONOMES. Estes fulanos, quanto mais pessoais, mais implicados. E o pior é que, às vezes, eles se escondem no verbo, que nem filhotes de canguru.
Comecemos por aqueles que têm a fama de serem retos… Querem saber? Não dá para confiar. O “EU” é egocêntrico; o “tu”, acusativo ou íntimo demais; o “ele” passa de fininho; o “nós” pode até ser modesto, mas nem sempre honesto; o “vós” foi crucificado e o “eles”, quem é que sabe?!

Outro pronome pessoal envolvido nas falcatruas é o “me”. Ele é tão oblíquo que nem se importa com a redundância quando se sobrepõe ao “mim”. E, para garantir a propina, taca-lhe um possessivo: “Me manda meus 20% para mim, certo?” Errado! É um exemplo típico de ganância gramatical.

Já os demonstrativos são menos ambiciosos, mas mais exibicionistas. Eles têm presença garantida nas sessões, quando os nobres falam de si na terceira pessoa: Este vereador…”, “Este deputado…”, “Este senador…””Esta presidenta…”. E é tanto “enrolation” que a gente fica “pancadation”.

Os indefinidos são que nem gatos: sempre em cima do muro. Insinuam, mas não abrem o jogo, por isso é justificável a quebra de sigilo telefônico.
Os relativos… Estes merecem uma crônica à parte.

Não há como negar: a corrupção é herança dos lusitanos, que nos enfiaram a Língua Portuguesa goela abaixo. A roubalheira só acontece por causa da facção dos pronomes, esses vilões, safados, caras-de-pau, demagogos,vendidos, prostituídos, que nem ao menos se penitenciam em delações premiadas.
Cadeia aos pronomes!