O homem pertence a uma só raça, a humana, que, segundo consta, originou-se na África. Na medida em que foi povoando os demais continentes e se adaptando aos novos ambientes, ele ganhou características físicas diversas, que garantiram a sua sobrevivência. Daí a pluralidade de cores, traços, fisionomias…

Já o caráter é algo que independe da etnia. Deveria ser essa razão suficiente para que ninguém se julgasse superior a ninguém em função do tom de pele. Mas, sabe-se que o preconceito explícito ou sutil ronda muitos espaços, apesar do proclamado respeito à diversidade. Vejam o que ainda acontece nestes tempos modernos:

Uma jovem senhora estava sendo atendida numa agência bancária. Do lado de fora, um homem de pele morena aguardava calmamente, olhando, de vez em quando, para dentro, em direção à mulher. Uma cliente achou ter captado a mensagem com sua anteninha particular e foi logo alertando a outra:

– Cuidado com aquele mal encarado aí! Ele está te cuidando pra te assaltar…

Sorrindo, a mulher respondeu:

– Na verdade, quem tem de se cuidar é ele, que ganha três vezes mais do que eu, como professor universitário e pesquisador.
E deu o tiro de misericórdia:

– Ele é meu marido.

Outra situação constrangedora vivenciada pelo cavalheiro aí, de cima:

Então o PHD foi até a Universidade do Filho e, enquanto esperava pelo horário da saída, ficou passeando no pátio, como algumas outras pessoas. De repente, o segurança chamou-o e mandou que apresentasse os documentos. O professor reagiu:
– Por quê? Fiz alguma coisa? Se o senhor pedir também para essa gente, eu mostro…

A discussão ganhou volume e só não terminou mal porque o chefe surgiu na cena para acalmar os ânimos. Mas nenhum argumento eximiu o homem de identificar-se.

Noutra ocasião, esse mesmo catedrático estava num restaurante com sua filha, que era meio loirinha como a mãe. Foram servidos normalmente, mas o garçom não despregava o olho dos dois. Acostumado com eventos dessa natureza, o professor chamou o rapaz e disse:

– Vamos, pergunta, o que é que tu queres saber?

E, como o outro ficou mudo, completou:

– Ela é filha de minha mulher e acredito que seja minha filha também. Satisfeito?