Chega! Desisto de entender esta paixão e os humores que ela provoca na vida dos apaixonados. E olha que tive relativa boa vontade. Além de tolerar narrativas futebolísticas, nestes últimos tempos, acompanhei duas coletivas de imprensa de um polêmico treinador após o jogo. Numa delas, o cara fez uma análise que foi uma verdadeira aula. Como não anotei na hora, é possível que eu não a reproduza aqui com absoluta fidedignidade. Disse ele: “Foram quarenta e cinco minutos no primeiro tempo, e a bola não entrou. No segundo, mais quarenta e cinco, e a bola não entrou. O resultado é esse que vocês viram: zero a zero. Para ganhar, é preciso fazer gol. Agora é partir para a próxima…”
A resposta satisfez os repórteres, já que não houve mais perguntas, nem gerou discussões intermináveis no domingo à noite. Mesmo assim acho que o “professor” poderia ter sido um pouco mais… didático e explicar que a bola, afinal, é redonda.
Então, já que não experimento “o sabor das massas”, fico com as maçãs, e vou “tocando em frente”. Mas insisto num quesito: se treinador virou “professor”, e professora virou “tia”, as coisas não estão de pernas para o ar?

Yóchi, Molly, Elvis, Xuxa, Peteca, Pipoca, Brigite, Bete, Bolota, Baby… são algumas entre tantas outras figurinhas que ganharam um lar e status de “filho”, preenchendo o ninho que ficou vazio com a saída dos marmanjos. A Síndrome foi desqualificada. Hoje, só curte solidão quem não gosta de cão. Ou de gato, papagaio, tartaruga, calopsita…
Este convívio afetivo está me revelando algo que eu não suspeitava: os cachorros são muito inteligentes (eles não apenas entendem nossa linguagem como reagem ao nosso olhar) e têm um sentido extra, características decorrentes da evolução da própria espécie, possivelmente estimulada pela ação humana. Venho percebendo isso há algum tempo, mas ficou mais evidente na semana passada, quando… Vamos à história:
Baby está com otite crônica. Na consulta, a veterinária constata, sem nenhum trauma físico, que é indispensável fazer uma lavagem no ouvido para aumentar a ação do antibiótico. O procedimento, que exige anestesia geral, é marcado para o dia seguinte. Em casa, a rotina é mantida. Pela manhã, a baixinha dá sua voltinha costumeira na quadra e… Cadê ela? Nos mobilizamos para a busca, a pé, de carro, no grito, na súplica… Todos os quintais, becos e buracos são esquadrinhados. Apelo para a campainha – ela costuma reagir ao ruído latindo sem parar – mas, neste dia, silêncio absoluto! Retorno à garagem com o coração apertado. De repente, vislumbro uma sombra camuflada embaixo da mesa. Lá está ela, enroladinha em si mesma.
-Belo truque, Beiby! – repreendo-a aliviada.
Antes que ela abane o rabinho, o maior cético da casa explode:
-O que é que tu falou pra ela?
É! O mundo está mesmo de pernas para o ar…