Enquanto os olhos do mundo estão focados no Brasil, avaliando nosso potencial para a realização das Olimpíadas de logo mais, no Rio, os olhos dos brasileiros estão desfocados, tamanha é a carência em todas as áreas fundamentais, especialmente na saúde e segurança.

Enquanto as bocas do mundo se entreabrem em sorrisos de ironia pelos gastos astronômicos em obras que se rompem, ou por obras inacabadas e superfaturadas, ou pela política desastrosa, ou pela corrupção que consome a nossa riqueza, as bocas brasileiras se fecham em amarga decepção, porque nossos representantes venderam a alma para engrossar suas próprias contas.

Enquanto já foram gastos R$38,2 bi, para as Olimpíadas de 2016, superando os valores da Copa do Mundo de 2014 (em torno de R$ 27,1 bi), cerca de 53,9 milhões de brasileiros vivem na pobreza, sendo que dentro desse número, 21,9 milhões são indigentes, que não têm dinheiro algum nem para comer.

Enquanto nossa economia andava em queda livre, com a maior recessão dos últimos tempos, os egos inflados estufavam o peito para anunciar, há um ano, que este evento, com a passagem da Tocha Olímpica, seria “uma grande oportunidade de mostrar ruas, vielas, noites, madrugadas e emoção para o mundo ver este país complexo e maravilhoso”.

Pois enquanto a Tocha Olímpica passa incólume pelo roteiro então desenhado, com a devida e merecida segurança oficial, o povo anônimo, formado por grandes atletas das olimpíadas da vida, que, apesar de seus recordes pela sobrevivência, jamais subirão ao pódio, este mesmo povo não tem direito de estudar à noite, de ir ou voltar do trabalho de madrugada, ou de simplesmente caminhar pela rua, porque a qualquer momento pode tombar, vítima de balas perdidas ou não. E muros cada vez mais altos são erguidos para que seja driblada a ameaça que corre solta…

É nesta gangorra que o Brasil está sentado. Um sobe e desce… Indecisões e decisões… Falácias e verdades… Penúria e opulência… Trabalho digno e rapina…

Agora mesmo, desce Dilma e sobe Temer. Uma nesga de luz no horizonte? Será prenúncio de tempo mais ameno? Queremos crer que sim. Segundo George F. Hoar, “Grande parte das boas obras do mundo foram praticadas por pessoas medíocres que fizeram o melhor que podiam”.

Esperamos que nossos novos gestores façam o melhor que puderem, que se realize esta Olimpíada de poucos, que o Brasil aprenda com os erros de muitos e que esta gangorra se estabilize para que todos possam ter um amanhã…