Das ricas florestas do Amazonas até o desenvolvido polo moveleiro do Rio Grande do Sul; da potência econômica de São Paulo à riqueza cultural e criatividade do Ceará. Mais que um resumo do caminho percorrido pelo marceneiro e youtuber paulista Daniel Stopa e das características da marcenaria nacional visualizadas por ele nessa grande viagem, esse também é o mote de seu projeto “Marcenarias do Brasil”, uma websérie documental dividida em oito episódios, pré-lançada durante a Fimma 2019 — um dos maiores eventos do setor em âmbito mundial. A estreia oficial deve ocorrer na primeira semana de maio, no canal “Stopa Lab”, no youtube. Em paralelo, um material extra de 40 minutos ainda está em produção.

Da oficina para a web

Quando fala na profissão de marceneiro, fica claro, nas expressões de Stopa, a emoção e a paixão que ele tem pelo ofício. Muito embora tenha mantido uma marcenaria profissional por 10 anos, sua aproximação com a área remete há tempos distantes, de quando, ainda pequeno, brincava com os retalhos deixados pelo avô, na oficina. “Minhas memórias com a marcenaria são muito antigas, antes mesmo de andar eu já devia brincar com madeira. Meu avô tinha uma pequena oficina em casa. Primeiro era por hobby, mas depois trabalhou com marcenaria também. Meu tio-avô também é outra inspiração da época”, relembra emocionado.

Se alguma pessoa que assistir esse documentário, olhar para sua cadeira, armário, mesa e notar que esse objeto carrega a história e o esforço de um marceneiro e tantos outros trabalhadores, e que o marceneiro também passe a valorizar sua própria criação como algo maior que um simples objeto, então essa série alcançou seu objetivo

E foi justamente, com essa carga emotiva e a vontade de valorizar o trabalho do marceneiro e de sua obra que levaram Stopa a buscar e documentar histórias sobre a marcenaria. Ele explica que o grande objetivo do documentário foi enaltecer o trabalho de todos os profissionais que trabalham na cadeia produtiva, valorizando desde os artesãos até os operários. “O trabalho de todo mundo tem história, valor e mérito. Falamos com marceneiros hobbystas, até empresas familiares e mesmo indústrias de 2 mil funcionários. Se a pessoa trabalha com madeira e tinha história para contar, ela entrou no projeto”, comenta.

A marcenaria e o Brasil

Muito embora seja impossível delimitar ao certo qual a origem do ofício do marceneiro, a profissão está entre as mais antigas do mundo. O trabalho com madeira pode ser observado desde os nossos ancestrais, quando ela era manipulada para criação de ferramentas de caça, até registros de móveis feitos pelos egípcios, 2000 anos antes de Cristo.

Por termos tudo pronto na loja, isso nos distanciou do projeto produtivo. Por isso, é importante a gente poder contar a história de como as coisas são feitas e também a história de quem as faz. Assim, a pessoa que assistir isso pode se aproximar do processo produtivo de cada pequena coisa e valorizar o que tem ao seu redor

Do mesmo modo, no Brasil, a evolução da marcenaria também acompanha, passo a passo, o avanço dos tempos. E esse é outro viés explorado por Stopa ao longo do documentário: expressar os avanços simultâneos da história da marcenaria e da sociedade brasileira. “Um dos episódios, por exemplo, fala da ‘estrada real’ e de como o a descoberta do ouro em Minas Gerais transformou o design do móvel no país, pois antes disso, quando o monocultivo e o extrativismo eram as principais fontes econômicas, não se tinha muito dinheiro e os móveis eram apenas pensados pela sua utilidade. E essa é só uma amostra, de como a história da marcenaria é puramente a história do Brasil”, destaca.

Para realização do projeto foram três grandes viagens que cruzaram o Brasil em diferentes direções, em um período de quatro meses: uma para Manaus, uma para a Região Sul e outra para Paraty, além de viagens mais curtas para São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Minas Gerais. A ideia, como destaca Stopa, foi compreender as interconexões históricas e sociais entre os marceneiros de todo o país. “Ao todo, passamos por oito estados. Quisemos ter um olhar sócio-histórico-cultural das marcenarias do nosso país, atentando para a questão da diversidade e para as características regionais. As realidades são diferentes em cada lugar, cada um tem suas peculiaridades e características, mas todos tem em comum a criatividade”, destaca.