Adiante então com a minha busca pela espiritualidade e os fatos vividos. O SEMANÁRIO estava “amotinado” no 5º andar da Galeria Central, no Centro. Havia quem dissesse que lá era o “5º dos infernos”. Corrida maluca do jornalismo, carros batendo toda hora, problemas de toda natureza. Até que um dia apareceu alguém para trabalhar em vendas, pessoa muito solicita, dinâmica, comunicativa. Inteirada no processo, um dia ela me disse: “Henrique isto aqui é uma loucura, o ambiente está muito carregado (hoje se diz tóxico), seria preciso fazer uma limpeza”. Fiquei com a impressão dela uns dias tentando entender o termo “limpeza” pois pra mim significava “vassoura na mão, balde, pano de chão, espanador”. Mais adiante ela me disse: “pensou no que eu falei”? “Explica melhor” eu disse. “Falei com minha madrasta, ela pertence a uma Entidade de Umbanda em Porto Alegre, eles se propõe a vir num sábado à tarde e fazer o trabalho”. “Tudo bem eu disse “o que abunda não prejudica”, pensei, filosofia que aplico até hoje.

E vieram, onze, sim onze numa Kombi branca. Subiram para o 5º andar e eu, constrangido, me tranquei no meu gabinete. Duas horas depois, minha colaboradora entrou no meu gabinete e disse: “tudo pronto Henrique, estamos indo lá em casa tomar um chá, depois eles vão embora, estou te convidando”. “Vou fechar a casa, depois vou”.

Quando eu coloquei a cabeça pra fora da sala fiquei impactado, todo o piso, o corredor até o elevador, tudo branco, riscado. Veio a minha cabeça, o que diriam meus funcionários ao chegar para o trabalho na segunda-feira? Resolvi que no domingo pela manhã voltaria lá para limpar e fui ao chá, um tanto aborrecido mas, acreditando sempre pois eram pessoas do bem, com qualidade intelectual, acreditando nas suas crenças e tentando me ajudar. No chá, eu estava impactado , reflexivo, meditando, calado quando veio até mim a madrasta, uma deusa, e disse: “o que tu achou Henrique”? “Tudo bem” eu disse. E ela: “só que o trabalho não adiantou muito, tu é muito forte, mediúnico, a coisa bate em ti e volta”. “Mas tem um detalhe, bate em ti, volta e cai pra cima de teus funcionários”. Despedidas, recebi de minha colaboradora um patuá que coloquei na minha bolsa (na época leva tudo e perde tudo).

No dia seguinte de manhã, lá fui eu limpar a sala e corredor. Início do trabalho as dez, pausa para o almoço, retorno e conclusão às quatro da tarde. E a luta continuou com minha mãe, que sabia tudo (como elas sempre sabem tudo?) continuando a dizer “o problema é os carros amarelos, troca os carros e escolhe outra cor”. Nunca perguntei mas “será que a minha mãe havia consultado um Pai de Santo”? Anos depois fui para a Bahia e, novamente, peguei um taxi e disse ao condutor “me leva…..”, ele me levou num morro que fica atrás do elevador LACERDA, o carro para subir tinha que fazer ré nas curvas e, eu, nos meus pensamentos “eu achava perigosa a estrada do Rio do Rastro e, meu Deus, tem Pai de Santo aí no céu”?

Chegamos, minutos depois chegou minha cabeça. Estava toda a família, lá no morro, numa casa colonial, de localização privilegiada, vista incrível. No amplo salão, a longa espera. Minha mãe foi a primeira, depois fui eu. O Senhor, do tempo da senzala manipulava os búzios com a ponta dos dedos e com destreza. Em dado momento ele olhou pra mim e disse “o Senhor (eu) está carregando ai uma coisa que lhe foi dada para lhe prejudicar, procure”, ele disse. E eu comecei a virar bolsos e a tirar tudo de dentro da “leva tudo”. Nada. E ele por três vezes após minhas procuras dizia: “anda está ai”. Então usei do meu radicalismo, esvaziei tudo de novo e, como quem limpa uma bolsa cheia de “fregole” de pão, raspei, com os dedos, o fundo com ela virada e, adivinhem!!! Caiu o tal de patuá que, por estar revestido de plástico, grudou com o calor, no fundo. “É isso ele disse, isso foi lhe dado para o mal, para lhe dissociar de sua família”. “Quando o senhor sair daqui, jogue isso para trás e não olhe, o problema estará resolvido”. Foi o que eu fiz “aqui não vou mais voltar mesmo” pensei e coloquei foco na descida, com aquele carro velho, olhos fechados, fé em Deus, carga aliviada e, deu tudo certo.

Na volta, rescisão do contrato da colaboradora, troca dos carros amarelos e passou a dar tudo certo. Do episódio a confirmação do que eu já vinha desconfiando: o meu determinado grau de mediunidade e a assertiva do ditado: “quando a esmola é demais o santo desconfia”. A minha clarividência, a limpeza, a troca dos carros e a ajuda do Pai Xangô, tudo ajudou para a melhora de minha espiritualidade e de minha equipe de trabalho. A propósito do episódio diga-se ainda que, convidado, fui ao terreiro da turma em Porto Alegre. Sentei na primeira fila, na hora dos passes, convidado a receber, fiquei constrangido, pedi licença para ir ao banheiro e desapareci, como das missas do Pe. Manica.
Bem, houve outra experiência. Eu estava hospedado num hotel na Bahia, estava programada a “Noite Baiana”. Havia lá uma Baiana lendo búzios. Fiquei sentado observando o trabalho dela, uma fila grande de interessados consultando. Quando a fila chegou ao fim lá fui eu. Sentei e ela disse: “o expediente terminou”, eram 18:00 horas. Protestei: “desde quando Mãe de Santo tem horário?” Ai ela me atendeu. Mexe aqui, mexe ali, ela disparou: “tem alguém que quer te prejudicar” no que eu respondi “eu sei”. Bem então nós podemos fazer o seguinte: “ou nós o neutralizamos ou vamos fazer tudo se virar contra ele”. “Vamos neutralizá-lo” disse. “Então tá, tá aqui meu cartão, eu tô indo embora, tu me liga e eu vou te dizer o que fazer”. “Tudo bem” eu disse. Voltei a Bento “de olho no inimigo” cerca de 15 dias, depois no horário de expediente, liguei para a baiana, e ela, com uma naturalidade impressionante, me disse que o trabalho custaria R$200,00, uns mil no dia de hoje. Ai eu perguntei porque tão caro e ela disse “isso inclui o sacrifício de animais”. Ai eu disse a ela “não concordo, acho que vou ficar com meu inimigo me azucrinando e acreditando no “bate em ti e volta, não te atinge”. E nunca mais liguei.

Fundamentados em dispositivo constitucional, Ministros do Supremo decidiram que o sacrifício de animais pelas religiões é válido. Respeito mas não concordo. Fim de espaço, vou continuar a falar nos animais.