Tenho uma teoria de que o mundo só não implode por causa da gangorra movida pelos sentimentos humanos – de um lado, o mal e sua legião de vícios; de outro, o bem e seu cortejo de virtudes. O ininterrupto movimento do eixo promove o equilíbrio deste Planetinha teimoso, que, apesar de tudo, continua azul.
Já focando para mais perto, percebem-se variações de cor e oscilação em todas as esferas, níveis, hierarquias, ambientes, situações… Mas não termina aí: dentro de nós mesmos, pende uma gangorra continuamente. Quem, por exemplo, já não se descobriu generoso num momento e mesquinho no outro?
Pois é isso! Somos feitos de contradições: existenciais, morais, políticas, religiosas… Temos altos e baixos… Ora somos razão, ora, coração… Ora crentes, ora céticos… Ora idealistas, ora pragmáticos… Ora de carne, ora de ferro.
Acredito que esta dualidade inerente à natureza humana nos absolve de sermos, por exemplo, tão emotivos em relação ao abandono de animais, a ponto de fazermos campanha para salvar um cachorrinho, e tão indiferentes à dor de velhinhos em abrigos sub-humanos, como alguém indignado declarou nas redes sociais, dia destes.
Compreendendo-nos melhor, talvez seja possível harmonizar corpo e espírito, impedindo que os bons sentimentos sejam discriminatórios ou excludentes, para que possamos abrir o coração não importa a quem.
E por falar em sentimentos, vou contar fatos que presenciei, li ou ouvi por aí, de animais e seus donos, que confirmam a minha teoria: a esperança na humanidade não morre porque, para cada ação perversa, há o contraponto…

Esta já tem algum tempo:
Um cachorrinho maltratado pelos donos foi adotado por um homem,que
para resgatar a sua confiança, além de cuidar dele, procurou se manter na mesma altura, andando de quatro. Aos poucos, ambos tornaram-se amigos inseparáveis. Quando o homem entrou na mais profunda depressão em virtude de seu casamento desfeito, foi o cão que o impediu de cometer suicídio. Com dezenove anos, o cachorro passou a sofrer de artrose. Para acalmar a dor crônica do animal, o homem carregava-o todas as noites para dentro do lago de águas mornas, próximo à sua casa, quando então, totalmente entregue nos braços do amigo, o cachorro adormecia… Dá para imaginar a ternura do quadro?

Uma atualíssima:
O cara é bom sujeito, ciente de suas responsabilidades, coerente com seus princípios… Paga seus impostos, contribui para a sua igreja, honra seus compromissos… Pai que participa, marido que comparece, coisa e tal. Mas, por favor, não pisem nos seus calos, que ele vira bicho.
Este cidadão mudou-se, e seu cão, estranhando o novo endereço, passou a latir compulsivamente. Certo dia, alguém bateu à sua porta:
-Pô, vizinho! Esse cachorro só sabe latir!
-Olha, dona, eu até gostaria que ele falasse, mas infelizmente ele não aprendeu outra língua.
A mulher virou as costas e foi embora. Rosnando de raiva.