Duvido que tenha existido, em algum tempo, no Brasil ou no mundo, uma epidemia tão grave, tão extensa, tão abrangente de cinismo e hipocrisia igual à que se constata hoje. Até os lambaris da represa de São Miguel sabem que a corrupção existe no mundo desde que inventaram o comércio, as negociações, o dinheiro no relacionamento humano. Os lambaris sabem, também, que não há setor da sociedade civil, militar, eclesiástica, representativa de classe, empresarial, de empregados públicos ou privados (de todo e qualquer nível), enfim que se localize no seio de um grupo formado por, no mínimo, dois seres humanos, nenhum, mas nenhum, mesmo, que possa bater no peito e dizer que em qualquer desses não haja corrupção. Mas, os lambaris sabem, igualmente, que nunca, em tempo algum, tantos corruptos, ladrões, larápios, delinquentes, marginais, sonegadores, bandidos, quadrilheiros e gente desse gênero ou pior, foram acometidos de tanta cinismo e hipocrisia. Gente que pode ser enquadrada – bastando breve investigação ou avaliação de suas prósperas vidas – como participante ativo nesse rol de corrupção está gritando grosso, batendo panelas, indo para as ruas e “protestando contra a corrupção”, inclusive nas redes sociais, sem olhar para seu próprio rabo. Os “donos do Brasil” (repito: grande parte de banqueiros, grandes empresários, empreiteiros, ruralistas, usineiros, todos respaldados por parte da imprensa e de políticos que eles mesmo elegem com seu dinheiro mal havido) ainda têm a coragem, a desfaçatez de falar na corrupção “dos outros”. As operações “Zelotes”, a “Lista do HSBC”, as contas CC5 (lembram do Banestado?), que abrigaram o desvio de mais de trinta bilhões de dólares estão sendo solenemente ignoradas, notadamente pela grande imprensa. Já boa parte dos corruptos inseridos no meio da sociedade, organizada ou não, envolvidos em concursos fraudados, aliados a partidos com grande número de corruptos já punidos ou indiciados, se dão ao luxo de bater panelas, ir para as ruas e “protestar contra isso que está aí”. É o limite máximo em que o cinismo, a hipocrisia, a falta de respeito e vergonha na cara jamais atingiram. Aliás, provavelmente, nos últimos cinquenta e dois anos, onde a ditadura militar e a dita democracia comandaram o Brasil, nunca antes tantos larápios foram flagrados. Antes eram protegidos por governos tão ou mais corruptos, políticos mais sujos que os atuais e por uma imprensa que jamais fez o seu papel primordial – que é o de bem informar -, preferindo aliar-se a esses grupos que saqueiam o Brasil e seu povo. Nunca tantos foram investigados, denunciados, processados e punidos. E o que se vê agora? Ao invés de haver uma cruzada nacional das pessoas realmente de bem e do bem contra essa corja, há uma divisão entre os “meus” e os “teus” corruptos. Será que a verdadeira gente de e do bem terão que engolir esses indigestos brasileiros cínicos e hipócritas? O futuro, brevemente, responderá. Quem viver, verá?