Fui tomada por estranho fastio existencial. Cansei das dores. Dos dramas. Dos vírus. Das crises. Da pandemia. Da hipocrisia. Das paranoias. Das tramoias. Dos julgamentos precoces. Dos xingamentos apressados. Das verdades mentirosas. Das mentiras verdadeiras. Do sem nexo. Do plexo. Do desconexo. Do sexo? Bom, também não vamos exagerar!

Cansei desta situação patética em que higienizo compulsivamente mãos, máscaras e plásticos, em que tateio no escuro para fugir de partículas e agentes microscópicos que se espalham invadindo células. Em que testo o fôlego, evito o público, viro sonâmbula, percorrendo (sem outra opção) uma lista de proparoxítonas.

Debruçada na janela, apoio meu cansaço. Procuro no cinza do dia, uma lembrança boa para superpor aos noticiários. Mas nem o cheiro da chuva que mostrou a cara – não a coragem – me anima. Até o outono, que ontem estava luminoso, ficou monocromático hoje, pingando tédio.

Daqui, ouço as vozes dos precursores do apocalipse. Melhor desligar a televisão, porque este clima surreal está me deixando maluca. A exposição contínua às mazelas desencadeiam problemas de equilíbrio. Labirintite. Se bem que a Terra, girando sem parar, em torno do próprio eixo e em torno do Sol, dá o que pensar… Será que esta questão da Anatomia não deveria ser estudada pela Astronomia?

A ordem é relaxar! Inspirar inflando o abdômen e expirar, pondo para fora o veneno da preocupação. Mas esta droga de rinite me impede de fazer o exercício corretamente. A narina esquerda vive inchada, que nem a folha de pagamento do Estado, o que me obriga a respirar em parcelas.

A solução é ir para fora. Buscar um lugar ao sol. Mas ambas as coisas, por hora, me são negadas. Por motivos óbvios. Quem sabe amanhã, se as nuvens se dissiparem, eu possa armazenar bom-humor e oxigenar os pensamentos contaminados pelas avalanches diárias de notícias ruins. E de banalidades dissecadas até a última letra. Que obsessão é essa do jornalismo atual?

Haja coração! Urge fazer uma fotossíntese espiritual, porque não há cristão que aguente esse bombardeio catastrófico, contínuo e impiedoso.

Aquietar a mente é preciso, se bem que, não raras vezes, ela mente, pra não ficar demente. Há até quem diga que é mais fácil governar um país do que manter as rédeas do pensamento…

Quem acredita nisso, com certeza não conhece o Brasil.