Durante muito tempo, essa foi a minha frase. Dê aos outros o que eles merecem. Retribua sorrisos e indiferenças. Devolva, na mesma moeda, a insensatez. Desejo o mesmo que me deseja. Ainda bem que as coisas mudam e que as pessoas amadurecem.

Hoje meu lema é: dê aos outros o que você tem de melhor. Mas e se eles lhe distratarem? E se lhe ofenderem? E se lhe passarem pra trás? Dê, mesmo assim, o que tem de melhor. O problema não está em você.

O dia foi ruim, o problema é familiar, ninguém me entende, sofro injustiças no trabalho. Nada justifica. Tratar o outro como ele lhe trata lhe iguala aos demais. Ninguém tem culpa sobre as batalhas que enfrentamos a cada dia. Não se vitimize. Trate os outros com o que há de melhor. Eles podem até ser mal educados, mas você não. Eles podem agir de má fé. Você não. Eles podem estar exaltados, mantenha a calma.

Sartre dizia que somos responsáveis por aquilo que somos. Quando for capaz de entender que nunca é sobre os outros, mas sobre você, conseguirá seguir de forma livre, dando o seu melhor, nas condições que tiver, rumo à felicidade.

O pior erro de um pai é comparar o filho ou uma mãe que projeta, no outro, o que queria ser. Cada ser é único dentro de suas potencialidades e imperfeições. Não valorizar o que o outro lhe acrescenta, não lhe superioriza, apenas lhe mostra que não há tamanha autossuficiência capaz de viver uma vida plena sozinho. É na adversidade que nos completamos. Aprender com o outro sempre nos faz crescer.

Que possamos saber conviver com o perdão, com a tolerância, com a adversidade. No século XXI isso parece meio óbvio, mas não é. Nunca antes vimos as relações tão líquidas, a intolerância com o diferente, a frustração ausente, o tédio insuportável de viver. Acho que na geração anterior ao celular, víamos no outro a continuidade do nosso ser. O “dar tudo de melhor” era sobre educação. Ensinar como viver, sabendo fazer um pouco de tudo e bem feito. E a viver em sociedade. E a se frustrar e a superar o tédio e saber esperar.

Hoje, o problema está no outro. É a aula que não é atrativa, são os meus pais que não me entendem, o trabalho comete injustiças.

E na eterna culpabilização não há espaço para reparação tampouco para se permitir uma relação com o diferente.

Dar ao outro o que ele merece não é fidedigno, porque nem sempre, também, merecemos. E, mesmo assim, alguém esteve lá, nos ensinando a dar o seu melhor.