Família é assim: todos na cozinha.
Na mesa maior os adultos saboreavam comida japonesa e os avessos ao peixe cru repartiam pizza da TOSCANA. Na mesa pequena, as crianças, milagrosamente comiam em silêncio, dividindo a mesma comida, cada um a seu gosto. A diferença entre as mesas: na dos adultos a conversa animada e na das crianças o silêncio. Conclusão: o vinho numa mesa e o suco de uva na outra.
Os adultos continuaram reunidos e as crianças foram para a sala, já há anos transformada em “parque infantil” e o barulho mudou de lado. Parecia que as crianças é que tinham tomado vinho: risada, gritos, briga, choro, música inventada, reclamações e tudo o mais que é absolutamente permitido na casa dos nonos. Que bom!
Depois da quinta garrafa de um bom vinho, os adultos que não beberam decidiram levar os demais para casa e o Eduardo foi até a sala para avisar que a bagunça ia chegar ao fim. Viu tudo virado pelo avesso e só as cortinas ainda estavam dependuradas no lugar.
O Fernando, meu neto, pediu para o tio Edu brincar com eles para estender um pouco mais a permanência.
– “Vou brincar um pouco com vocês mas antes quero ver a sala IMPECÁVEL”.
– “Tio Edu: eu não sei o que significa IMPECÁVEL”.
É difícil ser criança!
Um exemplo é a palavra PÉ. O primeiro pezinho que a criança vai conhecer é o seu próprio pé. Depois ela vai saber que existe o pé da mesa, o pé de vento, o pé de caqui, o pé de outras frutas e mil outras aplicações para a palavra. Tem até o pé na bunda.
Falando nisto, no Rio de Janeiro o governador é o PESÃO.
É difícil ser criança e entender essa confusão de palavras.
Na mesa, os adultos falavam da vergonha que é a BAGUNÇA do governo do Brasil e na sala, o parquinho do nono, as crianças faziam uma BAGUNÇA muito legal. A mesma palavra: bagunça.
O que os adultos precisam praticar para entender é que o FUTURO das crianças tem muito a ver com a palavra PRESENTE.