Bento conta com cerca de nove escolas que dispõem de 50 modalidades para crianças, jovens e adultos

Mais do que uma característica essencial de uma sociedade, a cultura pode ser considerada como o elemento principal que difere uma nação de outra. Os costumes, a música, a arte e, principalmente, o modo de pensar e agir, fazem parte da cultura de um povo. Bento Gonçalves, entre tantas outras, respira dança. Cerca de 12,5 mil pessoas se envolvem direta ou indiretamente com a modalidade no município. Sem contar a movimentação de aproximadamente 13 mil pessoas em espetáculos e apresentações em geral.

Os dados partiram de uma análise do professor de dança Cristian Bernich, que junto a outras pessoas, observou como estavam se comportando os estúdios na cidade, também neste momento de pandemia. “Devido ao meu envolvimento com a área da cultura local, algumas escolas entraram em contato, pois por não possuírem sala própria e sim alugadas, não estão dando conta. Elas estão trabalhando com o número reduzido de alunos, em torno de 10%. Resolvi tentar fazer um movimento para ajudar”, pontua.

Foto: Eduardo Benini

Como primeiro passo foi feito um levantamento de dados. Foram várias surpresas. “Se essas escolas fechassem, todo o segmento de dança cênica da cidade iria parar, teríamos apenas os folclores no interior. São dessas escolas onde saem os bailarinos, os professores, é de onde são montados espetáculos”, observa. “As pessoas podem até dizer ‘têm as gaúchas e as italianas’, mas são danças que se enquadram no segmento folclore tradicionalismo. São outras propostas, que costumam acontecer em CTG’s e salões comunitários. Um estúdio de dança, em geral, tem a característica cênica”, complementa.

Segundo Bernich, Bento Gonçalves comporta atualmente nove estúdios de dança – sendo que um deles fechou recentemente, por entenderem que não teriam condições de se manter – distribuídos em cerca de 50 modalidades como ballet infantil e adulto, jazz, dança contemporânea, urbanas, entre outros. “A importância da dança vai muito além dos dias atuais. Por se tratar de um braço da cultura, ela é um agente transformador da sociedade, onde possibilita ampliar pensamentos e também a pessoa como um ser social. Neste momento em que estamos distantes, é uma ferramenta de aproximação, de reflexão e como uma própria experiência com o corpo, em questões de saúde física e mental”, destaca o professor.

Conversa com o Poder Público

Na tentativa de levantar recursos, o grupo de artistas se reuniu com a Secretaria Municipal da Cultura, onde foram sugeridas várias possibilidades de auxílio. Entre elas, a criação de um Edital específico, por meio do Fundo Municipal para que houvesse uma verba circulando dentro dos estúdios. “O Secretário entendeu que não era necessário, apesar da justificativa apresentada com os dados e ressaltar que, por muito tempo, as escolas de danças fizeram apresentações gratuitas em eventos, desde que a atual gestão está no governo”, sublinha.

A segunda opção foi dada via uma contratação, por licitação em inexigibilidade, em que houvesse o recrutamento de artistas das escolas. “Não houve resposta em relação a isso. Inclusive contrata-se músicos para eventos culturais e turísticos e não se contrata o pessoal das cênicas, o que foi duramente criticado em reunião do segmento”, lamenta Bernich.

O que diz a Secretaria da Cultura

Segundo o secretário titular da pasta, Evandro Soares, o município valoriza todas as manifestações culturais, independente de modalidade. “Não entendo que exista discordância entre as partes, pois temos a certeza de que o auxílio ao setor cultural é justo e se faz muito necessário diante do cenário de pandemia da Covid-19. Temos total interesse em auxiliar os representantes da dança em Bento Gonçalves, em especial aqueles que mais precisam, assim como todos os trabalhadores da Cultura, em todos os segmentos”, pontua.

Soares afirma que “a demanda apresentada pelo setor da dança em reunião recente é muito bem recebida neste momento, pois nos traz clareza das reais dificuldades e nos traz números que instrumentalizam as ações de trabalho. As demandas foram encaminhadas ao Conselho Municipal de Políticas Culturais, que também é a instância competente por avaliar as ações e diretrizes a serem implementadas, assim como deliberar sobre a elaboração de editais de seleção pública para o Fundo Municipal de Cultura. Tenho certeza de que o CMPC levará a demanda apresentada em consideração”, assegura.

Secretário Evandro Soares.
Foto: Divulgação

Esta semana, o Senado aprovou a Lei Aldir Blanc, que determina auxílio emergencial para os profissionais da Cultura, e agora aguarda para sanção do Executivo. Contudo, sem a previsão de liberação do recurso aos municípios. “Com isso, há a previsão de que Bento venha a receber mais de R$ 820 mil para auxílio direto e emergencial do Setor Cultural local, de acordo com a estimativa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM)”, respalda. Soares acrescentou que o município faz parte de um grupo de trabalho junto a Secretaria de Estado da Cultura, que receberá mais de R$ 70 milhões para auxílio ao setor cultural gaúcho e que estuda as formas de implementação da Lei no Rio Grande do Sul.

Em números

  • 950 alunos diretos (que frequentam as escolas de dança)
  • 10 mil indiretos (os que participam esporadicamente de algumas modalidades)
  • 1.500 em parcerias (partipantes em projetos de Ceacris e de instituições de ensino)
  • 49 modalidades
  • 40 professores distribuídos nesses segmentos
  • Média de 4 aulas diárias
  • Espetáculos: 5 mil pessoas
  • Apresentações em geral: 8 mil pessoas

Importante

Os artistas da dança montaram o movimento chamado ‘SomosdançaBento’. A intenção é criar ações que mobilizem a comunidade e poder público, como vídeos que circularão nas redes sociais, lives e apresentações online, fortalecimento da parceria com o Colegiado Estadual de Dança do RS e a divulgação do movimento nos meios de comunicação da cidade e região.