Tudo bem, ela não morde, só baba às vezes. Não que seja um São Bernardo ou um Buldogue Inglês, mas, depois de tomar água, deixa um rastro pelo caminho, por conta dos pelos bagunçados do queixo que entram na tigela.

Ah! O cuidado é por causa da rápida ascensão da vira-lata, resgatada das ruas e adotada por uma família que está lhe proporcionando uma vida de rainha, com direito a passeios semanais no Vale dos Vinhedos e a férias numa cobertura “trèe chic”, em bairro nobre da capital. A questão é que essa mudança pode ter inflado demais seu ego, e, de repente ela precise de algumas sessões de terapia para não pirar. Vai saber o que se passa na cabeça da pobrezinha… ou seria da riquinha?
Por causa do seu nome, que é um tanto “original”, ocorreram algumas situações constrangedoras. Mesmo assim a família o manteve já que, na verdade, a escolha foi da própria cachorrinha. Aconteceu assim:

Ao chegar em casa, com o que parecia ser um presente de grego, a moça que a tinha recolhido disse:
– Olha só, mãe, que graça! É toda tua.

A mãe olhou para a figura tímida à sua frente, suja, descabelada e fedida, e não se conteve:
-Essa porcaria?

A reação da peluda foi surpreendente. Ergueu-se, lançou um olhar cheio de doçura para a mulher e, sacudindo o rabinho, foi lamber sua mão, como se atendesse a um chamado. Estava feita a porcaria… no bom sentido. A partir daí, ela entrou na casa, transformando-a num lar muito mais completo, suprindo inclusive as carências deixadas pelos filhos que, inevitavelmente, voaram… Enfim, ambas ganharam: a cachorrinha e a família.

Uma das situações embaraçosas a que me referi antes, aconteceu num Pet, em POA, onde a mais nova “patricinha” fora levada para o banho. Chegando para buscá-la, a moça da história perguntou:

-Está pronta a Porcaria?

O atendente, grande defensor dos animais, sem saber que se tratava do nome da baixinha, passou um sabão na guria:
-Se você não gosta de cachorro, por que é que tem um?

Rodopiando sobre um dos pés, ele lhe deu as costas sem aguardar resposta. Estava realmente zangado.

Porcaria fixou residência em definitivo aqui, na Capital do Vinho, mas continua mantendo contato com todos os membros da família, até com o parente global, quando ele retorna às raízes.

Agora, ninguém mais se arrepia ao ouvir o nome dela… Bom, quase ninguém mais. Noutro dia, quando o caminhão do lixo parou para fazer a coleta, a dona chamou:

-Vem, Porcaria! Por pouco não levou um saco na cara.