Técnico alviazul aponta bola parada e substituições forçadas como determinantes na eliminação do clube na Divisão de Acesso


O Clube Esportivo Bento Gonçalves viveu uma montanha russa de emoções ao longo deste primeiro semestre. Primeiro, a indefinição sobre o futebol profissional e, depois, a busca pela montagem adequada de um elenco; confirmada participação na Divisão de Acesso, a execução de um primeiro turno irregular que fora substituído por uma segunda metade de excelência. Entretanto, na primeira decisão, o alviazul tropeçou diante do melhor time do torneio, deu adeus ao estadual e seguirá para a quinta participação na segunda divisão do Rio Grande do Sul.

A vantagem era do Esportivo, que havia vencido o áureo-cerúleo por 2×0 na partida de de ida na Montanha dos Vinhedos. No domingo, 27, a partida da volta foi na Boca do Lobo, na Zona Sul do estado. Os gols do Esportivo no jogo de Bento Gonçalves haviam sido marcados em lances de bola parada — ambos anotados pelo centroavante Jean Carlos.

Por ironia do destino, este quinto “momento de jogo”, como chamam os estudiosos do esporte bretão, originou os gols que vieram a eliminar o Esportivo. A bola parada foi destacada como grande trunfo do time de Bento Gonçalves, mas foi utilizado pelos pelotenses.

Na primeira etapa, o veloz Hugo Sanchez abriu o placar para os donos da casa a 31 minutos. Em cobrança de falta na intermediária ofensiva, o atleta de baixa estatura venceu a barreira e Luiz Müller e fez o primeiro gol. Ainda no metade inicial de jogo, um marco importante que pode ter mudado o rumo da decisão: o lateral do Esportivo Roger Bastos e o centroavante do Pelotas, Giancarlo foram expulsos pelo árbitro Eder Zanella.

O escolhido para tentar solucionar o problema foi João Carlos. Zagueiro de origem, entrou na vaga de Welder no intervalo. Para o técnico do Esportivo, Cristian de Souza, o defensor era opção para buscar organização e ainda melhorar a defesa aérea. “A expulsão do Roger acabou nos desorganizando e, sem dúvidas, nos trouxe desequilíbrio. No primeiro tempo estivemos equilibrados e até saímos para o jogo e com possibilidade de fazer gol, mas falhamos. O João Carlos entrou para a lateral em uma função mais defensiva e com a função de ganharmos no confronto pelo ar”, explicou.

Porém, a defesa que não sofria gols originados na bola parada não suportou a pressão do adversário que fez gols com atletas do banco de reservas. Aos 35 minutos, Giovani aproveitou bola pingada na área e fez o 2×0; aos 41, o gol da eliminação do Esportivo, com Cléverson, que estava há 20 minutos no gramado da Boca do Lobo.

Cristian de Souza teve problemas para substituições. Com apenas duas restantes, precisou tirar Vinicius e Jean Carlos, lesionados. O volante Natan e o meio-campista Diego Torres precisaram ficar em campo mesmo descontados. “No segundo tempo tivemos mais dificuldades na organização defensiva. Nosso planejamento era colocar uma linha de cinco defensores e impedir o ataque do adversário pelos lados. Porém não consegui fazer as alterações necessários devido aos problemas físicos no decorrer do jogo”, salientou o comandante.

Com o 3×0 no placar, o Esportivo foi eliminado pelo Pelotas na Divisão de Acesso. A excelente campanha no segundo turno e a vitória na partida de ida das quartas de final não foram suficientes para frear o líder geral diante de sua apaixonada torcida, que ocupou boa parte da Boca do Lobo.

“A chateação e inconformidade no vestiário foi grande”

Chamado para comandar o Esportivo no segundo turno da Divisão de Acesso, Cristian de Souza finaliza a participação no comando do Esportivo — pelo menos por enquanto — com a derrota e consequente eliminação para o Pelotas. Até o jogo da volta, a sua equipe tinha a segunda melhor defesa do torneio. Eram apenas sete gols sofridos em 15 jogos disputados.

O ponto forte deste sistema: a bola parada defensiva. Justamente o fator determinantes utilizado pelo Pelotas para marcar os três gols que culminaram na eliminação do alviazul. “Foi uma série de circunstâncias e ocasiões que levaram à derrota. Sobretudo a bola parada que, na defesa, era a nossa principal força na competição. Foi isso que nos castigou e nos fez perder a classificação”, analisou o técnico.

Cristian de Souza estreou no comando do Esportivo contra o Igrejinha, na Montanha dos Vinhedos

A surpreendente eliminação da Divisão de Acesso e o fim do sonho de disputar a Série A do Campeonato Gaúcho no ano do centenário do Esportivo, levaram ao vestiário do alviazul na Boca do Lobo o clima de tristeza. “A frustração foi muito grande. Pouco se falou depois do jogo porque nesse momento o melhor é o silêncio. A viagem também foi de muita reflexão e tristeza porque estávamos todos incomodados com a eliminação.

Avaliação de trabalho

Cristian de Souza esteve no comando do Clube Esportivo por nove partidas nesta Divisão de Acesso. Foram seis vitórias, dois empates e uma derrota, totalizando cerca de 74% de aproveitamento. Mesmo com a derrota por três gols de diferença na eliminação para o Pelotas, o comandante finalizou o estadual com saldo de nove gols positivos.

Justamente pelos bons números, para o treinador, a falta de um desfecho vitorioso frustra a avaliação do trabalho. “Tivemos bons resultados e boas atuações dentro e fora de casa. Fomos protagonistas. Propomos um jogo diferente do que é comum no futebol gaúcho ao priorizar a posse de bola. Por isso é um pouco frustrante”. analisou.

Quatro anos de campanhas pela Divisão de Acesso

O Esportivo foi rebaixado no Campeonato Gaúcho de 2014 — coincidentemente, mesmo ano em que o Pelotas fora despromovido. Desde então, a equipe de Bento Gonçalves luta para voltar à elite do futebol do Rio Grande do Sul.

A primeira participação desta sequência de quatro anos na Divisão de Acesso foi em 2015, quando apenas o campeão era promovido para o Campeonato Gaúcho. Neste ano, o Esportivo ficou próximo de ser rebaixado para a Segundona Gaúcha (a terceira divisão do futebol estadual). No Grupo A, o alviazul só teve campanha melhor que o Nova Prata, que ficou na oitava colocação. Porém, os riscos foram imensos, uma vez que os bento-gonçalvenses ficaram com apenas um ponto de vantagem do lanterna e rebaixado no agrupamento. O Sport Club Rio Grande foi o rebaixado no Grupo B (e desde estão figura na última divisão estadual) e o Glória obteve o acesso.

No ano seguinte, houve melhor significativa do Esportivo na campanha pela Divisão de Acesso. No último ano em que apenas um clube seria promovido para a Série A, o alviazul passou da primeira fase. Nela, fez a terceira melhor campanha do Grupo B e foi para a segunda fase, na qual ficou novamente em terceiro do seu grupo e não garantiu vaga ao quadrangular final. O Caxias viria a liderar e classificar-se para o Gauchão do ano seguinte.

Duas vezes nas quartas

Os últimos dois anos, sem dúvidas, recolocaram o Esportivo entre os principais candidatos às duas vagas em casa ano de promoção para a elite. Em 2017, a equipe apresentou um futebol de resultados com Alex Xavier, que assumira o comando após a demissão de Badico. No Grupo B, o representante de Bento Gonçalves no futebol estadual ficou com a quarta colocação. Desta forma, precisou enfrentar o líder da outra chave nas quartas de final e, ainda, decidir fora de casa.

O adversário das quartas de final foi o Avenida. A equipe de Santa Cruz do Sul foi derrotada na Montanha dos Vinhedos, porém, nos Eucaliptos, conseguiu reverter o marcador e eliminou o Esportivo da Divisão de Acesso. O alviverde, inclusive, conseguiria o acesso junto ao São Luiz de Ijuí.

O cenário foi praticamente repetido para a temporada atual. O início turbulento, troca de comando técnico e a classificação com a última vaga do grupo. Desta vez, o adversário seria não só o líder do outro agrupamento, mas também o melhor time da competição. Primeira partida vencida em casa e a volta com derrota como visitante: mesmo roteiro de 2016.
Assim, o Esportivo chegou a segunda eliminação nas quartas de final mesmo com uma das melhores campanhas do torneio estadual.


 

Foto da capa: Jô Folha/Diário Popular, DIVULGAÇÃO

Fotos: Lucas Delgado