Chegamos ao mês de dezembro com boa parte das prefeituras gaúchas correndo o chapéu atrás de recursos dos governos estadual e federal. Todo o ano é a mesma coisa: a conta nunca fecha e lá vem as antecipações de ICMS e outros impostos. Porém, o que acontece, na verdade, é a falta de uma boa gestão dos recursos públicos na maioria delas.
Com base nesse raciocínio, como explicar que um município como Pinto Bandeira, recém emancipado e com zero de dívidas, feche o ano com um déficit de R$ 400 mil? Claro que, segundo o prefeito, este valor tende a diminuir, caso receba recursos que ficaram em Bento Gonçalves, o que já é fortemente contestado pela Secretaria de Finanças da Capital do Vinho.
O problema todo não é este. É preciso esmiuçar as contas da nova prefeitura e ver onde foram gastos os recursos. Numa rápida olhada no portal da transparência, percebemos que 1/3 deste déficit equivale aos gastos com diárias do Gabinete do Prefeito.
Isso mesmo, R$ 100 mil gastos em diárias pelo prefeito João Pizzio (só ele R$ 53 mil) e os demais funcionários de seu gabinete. Há muito a explicar, mesmo que tenha justificativas plausíveis, como correr atrás de recursos em Brasília e seguir com discussões advindas da emancipação.
É preciso que o chefe do Executivo de Pinto Bandeira explique, entre outras coisas, como é possível ele gastar três vezes mais que seus colegas prefeitos em uma viagem ao Chile? Sem falar que as passagens e a hospedagem eram custeadas pela Amesne. Enquanto o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, teve uma despesa que não chegou a R$ 2 mil em oito dias de viagem, Pizzio apresentou uma conta de R$ 6,4 mil, referente a gastos com alimentação.
Além disso, Pizzio conseguiu gastar, em 11 meses, mais que o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o que realmente é um feito a ser levado em conta. Municípios que também se emanciparam este ano, gastaram em diárias cerca de 10% do que Pinto Bandeira gastou. Como explicar isso? Má administração, descontrole financeiro, necessidades externas… As desculpas serão várias.
O certo que a farra das diárias no serviço público não é um privilégio da prefeitura de Pinto Bandeira. No Brasil inteiro, apesar da responsabilidade fiscal, este tipo de atitude já é rotineiro. Porém, os maiores responsáveis por tudo isso, somos nós, povo brasileiro.
Afinal, é o povo que elege e até reelege este tipo de político. A cada eleição, o que parece é que este perfil de administrador é o preferido da população. Enquanto a cobrança não vier de baixo para cima, como nas manifestações pela redução das tarifas de ônibus, nada vai mudar. É preciso um choque de moralização também nas comunidades, para que, no futuro, possamos cobrar os administradores sem que o telhado, que ainda é de vidro, possa ser atingido. Hoje, infelizmente, a maioria dos políticos que está na oposição e defende a moral e os bons costumes, serão os que estarão cometendo os mesmos erros ou até piores. Portanto, antes de condenarem o prefeito de Pinto Bandeira e querer crucificá-lo em praça pública, é bom a comunidade ver se realmente está fazendo a sua parte em prol do crescimento e desenvolvimento de seu município.