Profissionais descobrem maneiras de se adaptar à uma nova realidade e cuidar da saúde mental

Reinventar. Talvez seja a atitude que mais esteja sendo adotada pelas pessoas nos últimos dias. Devido às proporções que o novo coronavírus (Covid-19) tem tomado, muitos profissionais estão sendo obrigados a adaptarem suas rotinas de trabalho para atendimento no formato home office.

Isso envolve mudança de hábitos e muita criatividade para ajustar o cotidiano à uma nova realidade. As adequações para acomodar o planejamento das aulas são estímulos para a professora de inglês, Cláudia Valmorbida, que atua há 15 anos na área. Ela, que trabalha em uma escola de idiomas, em Farroupilha, passou a ministrar aulas de forma online para uma turma de até quatro alunos de uma empresa de software para móveis, em Bento Gonçalves. “Já trabalhava com algumas aulas online, mas pouca coisa. Usava o Whatsapp ou até o FaceTime com alguns alunos de outras cidades. Vendo o cenário, a escola fez a transição em tempo recorde. Na terça [do dia 17], já estávamos em casa e toda a escola se transformou em online”, comenta.

Não foi difícil para Cláudia montar a sua própria sala de aula em casa. Aproveitou um espaço que já servia de escritório e fez adaptações.“Precisamos fazer algumas mudanças no planejamento de aula, mas é muito bom poder trabalhar e manter o contato com os alunos. Eles toparam e isso está sendo ótimo para manter a mente e um pouco da rotina funcionando, além de ser excelente para nós, professores. Acredito que muitos profissionais possam adaptar suas aulas através da internet. É um momento de se redescobrir e reinventar. Temos que ser fortes para superar essa situação, mas toda crise exige que sejamos inventivos, também”, destaca.

A professora Cláudia Valmorbida transformou seu escritório em uma sala de aula

Academia atrás da tela

Se antes seu dia a dia se baseava em ser personal trainer em uma academia, estudos e casa, agora alterações também batem à porta do estudante de Educação Física Gabriel Facchini. “Em meio a um momento delicado como estamos passando temos que nos adaptar com as devidas circunstâncias. Junto com ele vem as mudanças, que nesse caso, incita a profissionais, como eu, a adequar nosso trabalho de maneira online. Conseguimos através dela orientar nossos clientes a praticarem exercícios físicos em suas próprias residências. Dessa forma, eles continuam a manter foco em seus objetivos, trabalhar o condicionamento físico, manutenção da saúde e cumprir com a conscientização de ficar em casa, tudo de maneira segura e eficaz quando bem orientada”, pontua.

Facchini afirma que atende 15 alunos nesse método e que o número de adeptos vem aumentando com o passar da quarentena. “Normalmente preparo treinos que podem ser executados de duas a três vezes na semana, dependendo do objetivo do aluno. Para controle e afim de garantir segurança e eficiência, peço que me enviem vídeo de suas execuções para eu avaliar e, se necessário, aplicar correções”, destaca Gabriel.

Gabriel Facchini atende cerca de 15 alunos virtualmente

A vida rumo ao normal

Trabalhar remotamente, de fato, exige disciplina e uma boa administração de tempo. Quem escuta a professora de inglês, Letícia Kuhn falando, aparentemente sozinha, não imagina que com ela há cerca de cinco alunos que a acompanham de forma online.

Ela afirma que a mudança foi radical e rápida. “De um dia para outro não poder sair de casa e ter que viver em isolamento social é algo que impacta muito e abre espaço para que a mente se desestruture. Mas eu decidi que não me deixaria levar pela perspectiva negativa e que, sim, iria me manter ativa e ocupada. E vou te dizer que nunca estive tão ocupada!”, assegura.
Com relação à vida profissional, conta que se preocupou em achar uma forma de continuar atendendo aos alunos. “Hoje, atendo eles online, com aulas ao vivo, e também continuo fazendo o uso da plataforma da Google Classroom, agora com maior intensidade. Na verdade, essa forma de atender tem me tomado muito tempo, pois envolve preparação de aulas e também gravação de alguns vídeos que acho interessante deixar na sala de aula virtual”, revela.

“Decidi que não me deixaria levar pela perspectiva negativa”, afirma Letícia

Para ela, o importante é, em tempos de quarentena, encarar o trabalho de casa como se a vida estivesse tomando seu curso normal. “Levanto, tiro o pijama, me maquio, coloco uma roupa de trabalho e assim fico dentro de casa. Acredito que ter esse cuidado é fundamental. Fora isso, tenho todo o trabalho de cuidar da casa, que faço sozinha: limpeza, organização, fazer a comida e cuidar dos gatos e cachorros. Com as recentes medidas tomadas pelos governantes — que acho muito prudentes —, no prédio onde moro estamos sem zeladora, então sou voluntária e fiquei responsável pela limpeza diária do andar. Além de tudo isso, ainda tenho as aulas da pós graduação e também continuo com minha rotina de treinos em casa”, descreve.

Consumo da internet

O perfil do tráfego nas redes do país já mudou na primeira semana de isolamento. Com isso, o fluxo de dados passou a se concentrar nas residências ao longo do dia, em vez dos escritórios.

Para a empresa Netfar, tal mudança já se faz notar. A empresa relatou crescimento de aproximadamente 40% na demanda ao longo das últimas semanas. “Durante o dia, chega a 60% devido ao home office e ao consumo de plataformas de entretenimento. Porém, o maior pico ainda é a noite, entre às 20h e 22h”, destaca o diretor financeiro, Juliano Steil.

Fotos: Arquivo pessoal