De acordo com a coordenadora da Farmácia do Tacchini, Suhélen Caon, indivíduos podem possuir carga viral

Existem muitas dúvidas em relação às vacinas, claro, e uma pergunta ainda não esclarecida é: por que existe a possibilidade de pessoas vacinadas terem imunidade contra o coronavírus e ainda assim possuírem uma carga viral suficiente para se transformarem em vetores de transmissão? Pode parecer a mesma coisa, afinal, de qualquer jeito quem tomar a vacina não ficará doente. Mas não é e a forma como a proteção funciona vai determinar os cuidados que teremos que tomar para conter a pandemia.

A médica e coordenadora corporativa de Farmácia do Tacchini, Suhélen Caon, destaca que as vacinas disponíveis protegem de desenvolver formas mais graves da doença, mas não agem sobre o vírus. “Mesmo vacinado, é possível continuar transmitindo a doença, caso não sejam seguidas as medidas básicas de proteção, como lavagem de mãos, uso de máscaras e distanciamento social”, afirma.

O Instituto Butantan, laboratório brasileiro parceiro da empresa chinesa Sinovac na produção da CoronaVac, publicou que “as vacinas atuam na prevenção e evitam o contágio, induzindo a criação de anticorpos por parte do sistema imunológico”

Dra. Suhélen Caon

Segundo a médica, as vacinas CoronaVac e Oxford-AstraZeneca agem “a partir da inserção de partes inativadas no vírus para estimular o sistema imunológico a gerar memória e “soldados” prontos para que, quando entrarmos em contatos com o vírus vivo, possamos nos defender de forma efetiva”.

Transmissão do vírus antes de uma vacina

Não se sabe exatamente por quanto tempo uma pessoa fica com imunidade preservada, após a infecção pelo coronavírus. O pneumologista Alexandre Pressi relata que teve situações em que pacientes contraíram a infecção por duas vezes, quatro meses após a primeira.

Ele explica que a infecção pode gerar uma imunidade que varia de três meses a um ano. “Não sabemos porque alguns pacientes desenvolvem uma imunidade maior do que outras pessoas. Acreditamos que aquele que tenha um quadro sintomático mais exuberante tende a produzir uma resposta imunológica maior. A doença não vai transmitir uma imunidade duradoura, esses anticorpos vão desaparecer no decorrer de alguns meses e a pessoa ficará suscetível a pegar de novo”, afirma.

Vacinas CoronaVac e Oxford-AstraZeneca agem a partir da inserção de partes inativas do vírus. Foto: Eduardo Lottici

A variação de transmissibilidade pode ser um dia antes de começar os sintomas até 14 dias, em média. “O paciente está com o vírus no organismo, principalmente se estiver em via aérea superior, e pode sim passar mesmo sem ter apresentado o primeiro sintoma. Em geral, varia também com os sintomas que a pessoa apresenta. O que ainda não termos certeza é se os assintomáticos transmitem ou não a doença”, sublinha.

Em casos de curas da Covid-19, Pressi é enfático: “após uma pessoa ter passado pelo vírus, está bem segura de se conviver, porque não é nem receptora e nem transmissora”.

Como o vírus age no organismo?

O pneumologista expõe que o vírus entra no corpo via cavidade oral ou nasal, invade as células do organismo e se multiplica, provocando uma cascata e reações inflamatórias. “No primeiro momento, as células de defesa, que estão sempre de prontidão, começam a atacar, e outras identificam fragmentos do vírus. Com essa identificação, produzem anticorpos para combater de forma definitiva e provocar uma resposta protetora, por algum tempo. O vírus age desencadeando um processo inflamatório geral e que, muitas vezes, quando as células de defesa têm um processo muito exagerado, provoca um dano muito grande, podendo causar a internação hospitalar e até a morte do indivíduo”, esclarece.

Idosos seguem sendo os mais atingidos pela Covid-19

No mês de janeiro, em transmissão ao vivo, a médica Roberta Pozza afirmou que “jovens infectados têm precisado de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”. Contudo, ela destaca que a situação da pandemia é muito dinâmica e que naquela semana teve a internação de jovem, na faixa dos 30 anos, sem doença adjacente alguma e que teve uma evolução favorável.

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No decorrer do período, a internação de pacientes idosos muito graves com múltiplas comorbidades aumentaram, e muitos vindos em situação precária de outros municípios. No momento, há uma média de 30 pacientes por dia, internados com diagnóstico de Covid.

Segundo a médica, 40% dos pacientes confirmados que internaram necessitaram de UTI e aproximadamente 25% resultaram em uma internação hospitalar.