Em poucas horas, foram 53,8 mm de chuva. Cerca de 31 famílias tiveram estragos em suas casas, sendo que algumas perderam tudo. Ao todo, 21 bairros foram afetados na Capital do Vinho. Corrente solidária pode trazer mais tranquilidade para quem sofreu prejuízos
Na noite de sexta-feira, 2 de dezembro, a chuva em níveis acima do esperado causou diversos estragos em Bento Gonçalves. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foi registrado o volume de 53,8 mm. Cerca de 31 famílias tiveram seus lares invadidos pela água, tendo inúmeros prejuízos, incluindo perda de pertences. Ademais, oito estão desalojadas e com as residências interditadas.
Um dos casos é o da projetista Giovana Coelho Antunes, que mora com os pais e o marido no bairro Vila Nova II. Sobre os danos, ela conta que é mais fácil dizer o que não perderam, que foi a vida e a dignidade. “São anos trabalhando para, em alguns minutos, ir tudo por água abaixo: eletrodomésticos, móveis, roupas, documentos e comida”, relata.
Foto: Arquivo Pessoal
Esse não foi o primeiro episódio de perdas por conta de chuvas. “É a terceira vez que sofremos com inundações, em 15 anos. A estrutura da casa está toda comprometida, as paredes cederam, a porta de entrada estourou pela pressão da água e apareceram diversas patologias na casa, como rachaduras que cabem um dedo dentro, sem contar os canos estourados e o curto na rede elétrica”, menciona.
Para Giovana, só quem já passou por essa situação consegue compreender. Ela faz um apelo às autoridades municipais. “Queria pedir encarecidamente à prefeitura e aos órgãos públicos de Bento para tratarmos a causa do problema e não somente as consequências, resolvendo essa situação de uma vez por todas, a fim de evitar uma tragédia anunciada. Só Deus sabe se a casa vai resistir a uma próxima inundação que pode demorar anos, meses ou acontecer amanhã. Cada vez que chove ficamos com um enorme aperto no peito de medo de que esse filme de terror aconteça novamente”, admite.
A projetista acredita que a galeria de esgoto que passa pelo local onde reside não comporta o crescimento do bairro. “A pressão da água quando chove, devido a um desvio que faz na rua em frente a nossa casa, transborda. A prefeitura já fez obra no local, ampliando sua capacidade e repito as palavras do engenheiro responsável pela obra naquela ocasião: ‘podem ficar tranquilos que essa galeria nunca mais vai transbordar’. Aqui estamos, passando por tudo isso novamente. Graças a Deus até então foram só bens materiais que se perderam, mas clamamos por ajuda, antes que algo pior aconteça”, reitera.
Apesar do desespero, há também o alívio pelo auxílio e acolhimento. “Agradecemos toda a ajuda que recebemos dos familiares, amigos e vizinhos que nos deram força e não nos deixaram desanimar e que, literalmente, colocaram a mão no lodo para nos ajudar a tentar salvar o pouco que restou. Agradecemos também ao vereador Sidinei da Silva, ao prefeito Diogo Siqueira e seu assessor que, na madrugada daquele dia, estavam lá vendo pessoalmente o estrago que a chuva fez e prestando apoio. Agradecemos também toda a ajuda que recebemos no dia seguinte, por meio das secretarias do Meio Ambiente, Assistência Social e Mobilidade Urbana, a Defesa Civil, do IPURB e não poderia esquecer de agradecer ao Tenente Carvalho da segurança pública, a Guarda Civil Municipal e aos Bombeiros que nos auxiliaram na limpeza do local. Graças a Deus todos esses anjos nos ajudaram a superar esse momento desesperador e vamos ter eterna gratidão”, conclui.
Ações do município e decreto de emergência
Em suas redes sociais, ainda na madrugada de sábado, 3, o prefeito Siqueira se pronunciou sobre o ocorrido. “São mais ou menos 2h, estou chegando em casa. Bento foi atingida por uma chuva muito forte, que pegou praticamente todos os bairros da cidade. A gente teve bastante destruição de ruas, calçamentos, mas o grande problema foram as famílias afetadas. Passei em vários bairros, situações bastante tristes onde pessoas perderam tudo, mas graças a Deus não vi nenhum relato de pessoa machucada. Nós colocamos muita gente da Defesa Civil, secretaria de Obras e Mobilidade, e eu estava até agora pouco com o Amarildo Lucatelli (vice-prefeito) tentando ajudar de alguma forma”, comunicou.
Desde então, os órgãos públicos estão tentando encontrar meios para solucionar os problemas da parcela da população que foi atingida. Nesta terça-feira, 6, foi publicado no Diário Oficial o Decreto 11706/2022, que declara situação de emergência nas áreas do município afetadas pela chuva.
A divulgação tem validade de 180 dias e autoriza a mobilização de todos os órgãos e entes da Administração Pública Municipal, para que atuem nas ações de respostas necessárias para minimizar os efeitos causados pelas chuvas. Em nota, o chefe do Executivo Municipal afirmou que a prioridade são os munícipes, por isso a situação de emergência é importante. “Nossas equipes trabalham desde a última sexta para minimizar os danos. Diversos bairros foram atingidos e agora começamos o trabalho para reerguer a cidade”, destacou o prefeito.
Ademais, em consenso, a Mesa Diretora da Câmara de Vereadores retirou de seu orçamento R$ 3,2 milhões e destinou ao Executivo para atender às demandas necessárias para auxiliar a população. Também em nota, o presidente do Legislativo, Rafael Pasqualotto, disse que o aporte será feito no caixa livre do município para obras de infraestrutura. “Desde a desobstrução de bocas de lobo, conserto de tubulações, liberação de vias, até auxílio às famílias que tiveram suas casas inundadas. Comunico que é o maior retorno da história da Câmara à Prefeitura, e faz porque acredita e confia que serão aplicados na recuperação dos danos causados”, enfatizou.
Ao todo, 21 bairros foram atingidos com alagamentos, desmoronamentos, rompimento de tubulação e outros problemas. Dentre eles, estão o São João, Santa Rita, Santa Marta, Eucaliptos, Vila Nova, Barracão, São Francisco, Borgo, Fenavinho, Licorsul, Imigrante, Zatt, Glória, Licorsul, Aparecida, Cohab, Fátima, Santa Helena, Cembranel, São Roque, Loteamento Zanetti.
Foto em destaque: Divulgação