Tradicionais festas de final de ano podem ser determinantes para definir se o sistema de saúde de Bento Gonçalves enfrentará colapso nas próximas semanas

A velocidade com que o coronavírus se espalha é um dos principais motivos de preocupação, já que as consequências acarretam diretamente nos sistemas de saúde. O mês de novembro, por exemplo, ficou marcado pelo crescente número de atendimentos na estrutura Fast Track (responsável pela triagem de pacientes com sintomas respiratórios) do Hospital Tacchini. Entre outubro e dezembro, a média diária de atendimentos subiu 193%. 

De acordo com a Diretora de divisão hospitalar do Tacchini Sistema de Saúde, Doutora Roberta Pozza, “dia após dia, mais pessoas passaram a procurar os serviços de saúde com algum sintoma respiratório. Começamos o mês com números próximos aos registrados em outubro, mas terminamos muito mais semelhantes aos constatados até o momento em dezembro”, afirma.

Atualmente, dos 45 leitos da Unidade de Terapia de Intensiva (UTI) Adulto disponíveis, 40 estão ocupados. “Destes, 21 são pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 e outros 19 não possuem qualquer relação com a doença”, afirma Roberta.

A profissional ressalta que a instituição sempre tentou manter a capacidade de atendimento à comunidade, independente de qual doença motivou a internação dos pacientes. “São os movimentos de reorganização das equipes multiprofissionais que, baseados em dados e projeções, permitem a disponibilidade da força de trabalho nas áreas que exigem maior volume de atendimento”, reforça.

Alerta maior para o fim do ano

Com a chegada das tradicionais festas de Natal e ano novo, famílias costumam se reunir em grandes grupos e gerar aglomeração. Com isso, a preocupação com a propagação do coronavírus torna-se ainda maior nesse período.

De acordo com a Diretora Técnica do Hospital Tacchini, Nicole Golin, esse momento pode ser determinante para aumentar o número de contaminados. “Temos um potencial de infecção gigantesco. Se considerarmos que o ciclo de manifestação da doença é de 7 a 10 dias, vamos ter um primeiro ciclo no Natal e quanto ele estiver terminando, teremos o Réveillon. Nesse período, as pessoas podem estar assintomáticas, mas ainda assim, serem vetores de contaminação”, explica.

Nicole assegura que é preciso entender que esse final de ano é diferente dos demais. “Restrições feitas agora podem definir se o colapso previsto para o sistema de saúde ocorrerá ou não. A chance de evitar que aconteça depende das nossas escolhas em dezembro. A recomendação é evitar festas e eventos nesse Natal e fim de ano”.

Entretanto, para quem ainda assim decidir fazer os festejos, a orientação de Nicole é que sejam de maneira restrita e com pessoas que já moram na mesma casa. “Não se recomenda nesse momento o encontro entre pessoas que não convivem juntas”, aconselha.

Outra dica é que, de preferência, os encontros sejam realizados ao ar livre ou em locais grandes e ventilados. “É importante manter o distanciamento físico, a higienização das mãos com álcool gel e uso de máscaras, tirando apenas para comer ou beber. Também está sendo recomendado que encontros presenciais durem o menor tempo possível”, finaliza.

Cirurgias eletivas

Uma das medidas adotadas pelo Tacchini para aumentar o número de leitos na UTI Adulto e sobretudo para a realocação dos profissionais que até então atuavam no Bloco Cirúrgico para a área de atendimento aos pacientes com Covid-19, foi a redução do número de cirurgias eletivas.

Conforme Roberta, a ação permitiu ao hospital ampliar a capacidade de atendimento em duas frentes. “A primeira é o aumento do número de leitos disponíveis na UTI Adulto, uma vez que alguns procedimentos exigem cuidados intensivos nas primeiras horas. A segunda, e mais significativa neste momento, é a realocação dos profissionais que até então atuavam no Bloco Cirúrgico para a área que mais demanda trabalho no momento: o cuidado aos pacientes com Covid-19”, finaliza.