A internet traz benefícios, mas também é necessário tomar cuidado com golpes e exposição exagerada. Profissional dá dicas sobre como se proteger
Que as redes sociais são um fenômeno, ninguém tem dúvida. Porém, além de uma oportunidade de compartilhar os bons momentos da vida, conhecer novas pessoas, se atualizar das novidades do mundo e manter contato com familiares distantes, também há malefícios em estar online. Cultura do cancelamento, disseminação rápida do ódio e ameaças são apenas alguns dos perigos das conexões virtuais.
A professora do curso de Computação da Universidade de Caxias do Sul e sócia na empresa 3dot14 Data Science, Scheila de Ávila e Silva, destaca que os riscos são de diversos níveis. “Um deles é a questão da exposição exagerada, que pode levar a interpretações equivocadas. Você pode expor demais o teu corpo, tua rotina, ideias e, como as redes são acessíveis pra todos, as pessoas se acham também no direito de julgar. Aí entra um dos perigos, que é a questão do julgamento, de ser atacado, que é o chamado cancelamento. Você expõe alguma coisa e as pessoas ficam falando sobre aquilo de modo que te prejudica no teu trabalho, no teu psicológico”, explica.
Conforme a docente, ao exibir a rotina, o perigo pode estar presente quando o usuário mostra momentos que não está em casa e quais atividades pratica, o que se torna uma oportunidade para golpistas sequestrarem um bem, usar as informações divulgadas para fazer chantagem ou ligação de sequestro para familiares. “Temos também a questão do dano psicológico. As pessoas postam coisas felizes, momentos de alegria e prazer, e quando a gente fica olhando, pensa ‘todo mundo é feliz, menos eu’. Então isso acaba causando um abalo emocional ao se comparar”, salienta.
Em resumo, a empresária acredita que os principais perigos são os ataques em relação à exposição de opiniões ou de partes do corpo; comparação exagerada com os demais, causando sintomas de ansiedade e depressão; e a questão de divulgação de dados e perda de privacidade.
No caso dos pequenos, é necessário entender se há algum dano colateral ao utilizar as redes. “O uso de tecnologia por crianças não é maléfico, desde que controlado pelos pais, com limites. O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que a exposição inadequada de crianças é algo contra a lei” alerta.
A recomendação, como explica Scheila, é que, independentemente de se tratar de rede social, jogo on-line ou qualquer tecnologia, toda criança tem que usar com a supervisão dos pais. “Mas a gente não pode proteger a criança disso. Porque se blindar muito, quando ela tiver entrado em contato com o mundo tecnológico, com as redes, ela não vai saber como se comportar. Então, se sabiamente aos pouquinhos, com supervisão, delimitação de tempo e de conteúdo, você possibilita que essas crianças utilizem, estás criando um futuro consumidor consciente dessas tecnologias”, enfatiza.
Para ela, não tem como voltar atrás na utilização de artefatos tecnológicos. “Ninguém vai imaginar o mundo sem as mídias sociais digitais, então a gente não pode simplesmente botar a criança numa bolha. Claro que temos que pensar também na idade, as muito novas não têm condições de entender o que está acontecendo. Então, qual é o conteúdo que elas estão absorvendo? Como que estão utilizando e quanto tempo? Tudo isso tem que ser uma preocupação”, exemplifica.
Na fase adulta, um dos cuidados que o usuário deve ter é com relação aos golpes, principalmente os que visam algum benefício financeiro. “O golpista vai se passar por uma personalidade, por uma outra pessoa e vai começar a pedir dinheiro. Ele também pode enganar de uma maneira amorosa, mandando algumas mensagens e imagens. “Normalmente, quando é pra homens, manda fotos femininas para, depois de um tempo, dizer que é menor de idade e ‘se não quiser ser preso por pedofilia, vai ter que me pagar”, conta.
Alguns estelionatários, como acrescenta a professora, se passam por um amor à distância. “Dizem assim ‘quero te ver e preciso de dinheiro para a passagem, me dá tanto’. Mas normalmente, a maioria dos golpes mais comuns são relacionados à extorsão, de alguma maneira”, frisa.
Ao cair em um golpe, a profissional aconselha que a primeira coisa a ser feita é um Boletim de Ocorrência (BO). “Isso é o que menos acontece, porque as pessoas se envergonham, se sentem ingênuas. Entretanto, não precisa ter vergonha, pois normalmente o golpista é envolvente, tem uma longa carreira de enganação, sabe como cativar a vítima”, ressalta.
Scheila reitera que o BO vai garantir que se consiga fazer uma ação contra o criminoso. “Possivelmente, quando se faz o boletim, se descobre não ser a única vítima. Também recomendo sempre fazer print das telas, guardar as mensagens, a documentação de que aquela conversa existiu”, recomenda.
Outro golpe comum, além da extorsão, é o da venda. “São pessoas que vendem coisas que não existem. Alguém divulga que está vendendo um telefone por um preço muito mais em conta do que realmente é e o aparelho não existe. Acontece com bens, ingressos pra shows, entre outros itens. Quando há propaganda de um produto que tu sabes que é caro e ele está muito abaixo do preço, tem que desconfiar”, indica.
Invasão de contas
Uma tendência é os usuários terem as contas hackeadas e os golpistas as utilizarem para pedir dinheiro aos seguidores e amigos. A especialista argumenta que uma rede social pode ser invadida de algumas maneiras. “Em muitos casos, o usuário recebe um link em alguma mensagem. Ao clicar, é instalado um vírus e os dados da conta são roubados”, exemplifica.
Outra forma é quando acontece um vazamento de informações sensíveis de alguma empresa ou instituição. “As pessoas têm acesso a esses dados, vão lá e invadem. Mas sempre é uma vulnerabilidade que vem do usuário”, esclarece.
Scheila enfatiza que, por isso, o aconselhado é não seguir links suspeitos. “Dependendo do que for, normalmente é o que a gente chama de phishing, sites de promoção, de alguma votação ou enquete que fazem com que, quando você clica, teus dados sensíveis já sejam enviados, o golpista tenha acesso à sua senha e consegue trocar”, evidencia.
Mais uma dica é, quem tem qualquer aplicativo de redes sociais tenha uma senha difícil. “Com entre oito e dez letras, maiúsculas, minúsculas, números e caracteres especiais. Também sempre habilitar a configuração em duas etapas, porque essa quando, tu vais acessar um dispositivo novo, recebe uma mensagem no celular. Essa configuração evita grande parte dos ataques cibernéticos. São medidas bem importantes e, assim como a gente tem que ter cuidado com as nossas coisas quando andamos na rua, precisamos pensar que a nossa senha é a nossa bolsa”, conclui.
Dicas sobre redes sociais
No início do mês, em comemoração ao Dia da Internet Segura, o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br) elaborou uma cartilha com orientações para uso seguro das redes sociais. A publicação foi disponibilizada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ao qual o centro está vinculado.
Em 19 páginas, a cartilha explica os cuidados essenciais para ter segurança no mundo virtual. Entre eles, estão cuidados com a privacidade; seletividade ao aceitar seguidores; limitação no compartilhamento de informações no perfil; controle de quem pode ver as postagens; proteção do acesso à conta; cuidado com aplicativos de terceiros; ajuste nas configurações de segurança e privacidade; cuidado com as fake news; denúncia de conteúdos maliciosos e perfis falsos; além de cuidados com a reputação online.