Esportivo comemora título de Campeão do Interior, classificação à semifinal do segundo turno do Gauchão, além do acesso à Copa do Brasil e Série D do Brasileirão do ano que vem. E tem gratificação da FGF para dividir com todos do clube

Em festa, sim, mas com os pés no chão e de olho no confronto deste final de semana contra o Internacional de Porto Alegre, primeira partida da semifinal do segundo turno do Campeonato Gaúcho 2020, a Taça Francisco Novelleto Neto. A festa do Clube Esportivo Bento Gonçalves, carinhosamente chamado de Tivo por dirigentes, comissão técnica, atletas e muitos torcedores, tem justificativa mais do que convincente: uma vitória de virada na quarta-feira, 29, contra o Juventude, na casa do adversário, última rodada da fase classificatória do returno.

Vamos continuar trabalhando com a intenção de fazer o melhor, alcançar o melhor resultado. E se o nosso destino é ser campeão gaúcho, ou vice-campeão, é algo que vai ser bem-vindo, com certeza

Laudir Piccoli
Presidente do Clube
Esportivo Bento Gonçalves

O placar de 3 a 2 em pleno Alfredo Jaconi rendeu ao Esportivo o título de Campeão do Interior da atual temporada, classificação à semifinal do returno ao lado de Grêmio, Internacional e Novo Hamburgo, e o direito de disputar no ano que vem a Copa do Brasil e a Série D do Campeonato Brasileiro, o Brasileirão. “É um feito que foi sendo construído ao longo das partidas disputadas. Muito bom, sem palavras. Só ‘caiu a ficha’ mesmo quando chegamos na sede do clube e a torcida alviazul nos recebeu com festa, foi muito emocionante”, comemora o presidente Laudir Piccoli.

Atacante Gustavo Sapeca abriu o caminho para o resultado de 3 a 2 contra o Juventude e garantiu conquistas importantes para o Esportivo

Com segurança

A festa da recepção, ele deixou claro, seguiu os protocolos recomendados pelas autoridades com preservação do distanciamento entre torcida e atletas para evitar o contágio do coronavírus. “É um trabalho que só foi possível porque teve muita seriedade, dedicação, ética e comprometimento de todos, desde dirigentes, comissão técnica, jogadores, funcionários do clube, patrocinadores, torcedores, sócios e aqueles que pagam o ingresso no dia que tem jogo com portões abertos! É a cereja do bolo, independentemente da proporção com que cada um ajuda”, festeja Laudir.

O futuro

Sobre os próximos passos e os resultados desejados, ele diz que todos os times que estão na semifinal têm chances de alcançar o que desejam. Admite, porém, que existem limitações para o Esportivo em relação aos chamados ‘clubes grandes’, como Grêmio e Inter, e que é preciso respeitar os adversários. “A gente vai sempre para ganhar, a gente quer vencer, mas nem sempre conseguimos sair de campo da forma que almejamos. Contra o Juventude (quarta) deu tudo certo, desde o resultado que obtivemos, mais a combinação dos resultados dos outros jogos, tudo funcionou”, afirma.

A bandeira do Clube Esportivo é muito importante, representa a cidade, e hoje Bento está sendo falado em nível nacional pelo que fez dentro de campo e pelo que já atingiu como conquista
Laudir Piccoli
Presidente do Clube
Esportivo Bento Gonçalves


O presidente do Esportivo comenta, por outro lado, que há um desafio gigante a ser administrado, que é a questão financeira do clube. “A gente mata um leão por dia”, chega a dizer quando fala da necessidade que já vislumbra para bancar as despesas que vêm por aí, Copa do Brasil e Série D do Brasileirão de 2021. “A gente vai precisar no mínimo de dois mil sócios contribuindo, patrocinadores que ajudem mensalmente, enfim, vamos necessitar da comunidade. Se a cidade apoia o clube, a gente garante um trabalho sério sempre visando os melhores resultados”, destaca. “A bandeira do Clube Esportivo é muito importante, representa a cidade, e hoje Bento está sendo falado em nível nacional pelo que fez dentro de campo e pelo que já atingiu como conquista”.

A semifinal do returno

Semifinal 1

Internacional X Esportivo
2/8 – Domingo
Beira-Rio Rio
Início: 16h

Semifinal 2

2/8 – Domingo
Grêmio X Novo Hamburgo
Arena do Grêmio
Início: 19h

Para saber

Se o clube conquistar o segundo turno, o título de Campeão do Interior passa para a equipe após o Alviazul na classificação geral.

O que disse o presidente

A mobilização
“A nossa estratégia para manter a mobilização e motivação dos jogadores foi muito diálogo, transparência, ética e seriedade. E cumprir com a palavra. No momento em que negociamos a redução de salário de 70% continuamos pagando despesas, como aluguéis, entre outras. O clube absorveu um custo que, na realidade, não teria condições, mas o trabalho do grupo que está à frente deste projeto fez com que conseguíssemos manter e motivar os jogadores dentro de uma situação muito diferente do que estava acontecendo em outros clubes”.

Pior momento
“Sem dúvida o momento mais difícil foi depois do jogo contra o Pelotas, que ganhamos por 2 a 1. A gente vinha embalado, tinha pela frente só mais três jogos e já estávamos nos preparando para enfrentar o Inter, dia 25 de março. Estava tudo organizado e até ingressos já estávamos vendendo quando foi anunciada a suspensão do Campeonato Gaúcho. Já tínhamos um comprometimento financeiro e ficamos sem saber, na ocasião, quando voltaria o campeonato, nem se voltaria. Foi o pior momento da competição”.

Humildade
“O resultado do que vem por aí vai depender do momento. Todos sabem que futebol é momento e tudo pode acontecer. Vamos pegar agora o Internacional que tem outra realidade de orçamento, número de sócios, se fizer um comparativo vai dar para ver que não é igual. Vamos tentar superar as nossas dificuldades, tentar impor as nossas vontades e, com muita humildade, a gente vai entrar em campo para dar o máximo em busca do melhor possível”.

Laudir Miguel Piccoli, presidente do Clube Esportivo Bento Gonçalves

Carlos Moraes, o técnico do Tivo

Comandante do time dentro de campo, o treinador fala sobre estratégia, dificuldades, e projeta o que o torcedor pode esperar do Esportivo

Jornal Semanário: Qual foi a estratégia tática para bater o Juventude?

Carlos Moraes: A estratégia foi a mesma utilizada ao longo do campeonato, que é a marcação forte e a saída rápida em contra-ataque, sem abrir mão de jogar buscando a superioridade. Saímos jogando no esquema rotineiro que é o 3-5-2 e no segundo tempo modificamos para o 4-4-2 que acabou se tornando o fator surpresa que causou o desequilíbrio. Assim surgiram as possibilidades do empate e da virada.

Jornal Semanário: Em algum momento o senhor pensou que não iria alcançar o resultado positivo?

Carlos Moraes: Nesse jogo, a cada segundo mudava o panorama e consequentemente o meu pensamento mudou. Tive, sim, o pensamento de que não daria. Por isso tive que parar, pensar fazer as mudanças que eram necessárias para o jogo.

Jornal Semanário: Como avalias a campanha do Esportivo neste Gauchão?

Carlos Moraes: No início do campeonato a nossa meta era nos mantermos na elite, mas com o passar do tempo começamos a sentir que poderíamos mais. Classifico como uma campanha histórica, tendo em vista que éramos o time que subia da Divisão de Acesso e, hoje, temos um horizonte muito maior para o futuro do clube, e com total legitimidade.

Jornal Semanário: Quais as maiores dificuldades e os melhores momentos?

Carlos Moraes: As dificuldades, infelizmente, não são novidade para os times do interior, que são a receita, a montagem do time que teve que ser pensada nos mínimos detalhes, sem chances para erro. Apesar de todo esforço do presidente Laudir para termos os recursos e um time competitivo, tivemos no campeonato adversários com investimentos maiores, por jogarem divisões nacionais. Essa dificuldade foi vencida com muito trabalho e planejamento. E em se tratando de melhores momentos, não pode ser diferente: as vitórias foram as ocasiões mais gratificantes da temporada, uma a uma das conquistas.

Jornal Semanário: Qual partida que o senhor considera que foi ‘o jogo’ do ano?

Carlos Moraes: Acho que o jogo contra o Caxias, no primeiro turno, em que conquistamos uma vitória autêntica sobre o então time invicto da competição.

Jornal Semanário: O que o torcedor pode esperar do Esportivo para o jogo contra o Internacional?

Carlos Moraes: O torcedor pode esperar um jogo de entrega total, luta do primeiro ao último minuto e, principalmente, um jogo para honrar a camiseta do Esportivo.

Jornal Semanário: Quais as chances de conquistar o returno e partir para o título principal?

Carlos Moraes: Acho que temos as mesmas chances dos outros três semifinalistas. Tivemos as mesmas circunstâncias e mostramos sermos capazes.

Jornal Semanário: O time está motivado, mobilizado?

Carlos Moraes: O jogo com um adversário como o Inter é naturalmente motivante, mas valendo vaga no final do turno, então, a mobilização já é total!

Jornal Semanário: Como foi e como tem sido o apoio da diretoria do clube?

Carlos Moraes: Acho que todos os resultados que alcançamos se deram justamente porque tivemos uma direção excepcional, 100% ao nosso lado, fazendo o impossível para nos dar a estrutura de trabalho.

Jornal Semanário: Já pensas em renovar para 2021?

Carlos Moraes: Ainda não conversamos sobre o assunto, o foco no momento é o Campeonato Gaúcho de 2020. Mas independente de negociações futuras, o Esportivo representa muito na minha carreira.

Técnico Carlos Moraes, na foto com o meio-campista Robert, diz que contra o Juventude chegou a pensar que não daria para alcançar o resultado positivo, e que o êxito só veio depois das mudanças realizadas dentro de campo

Prefeito Pasin: “foi uma partida histórica”

O prefeito, Guilherme Pasin, conselheiro do Clube Esportivo Bento Gonçalves, elogiou a vitória do time sobre o Juventude, de Caxias do Sul, na quarta passada, dizendo que foi “uma partida histórica por ser um momento tão diferente com a retomada do futebol. Foi um jogo de muitas emoções que mostrou um Esportivo maduro, resultado de um planejamento realizado pela direção, nos últimos anos, em parceria com poder público”, disse o prefeito.

Dizendo-se torcedor desde jovem, ele lembra que acompanhava seu falecido pai, Luiz Pasin, na subida da rua Doutor Montaury, “com a almofada embaixo do braço” para assistir aos jogos no antigo estádio da Montanha. “Fiz parte da torcida organizada, da Tial Mirim e da Fúria Alviazul. Sempre esperando o lançamento da nova camiseta, a cada temporada, para comprar nas lojas da cidade”, conta.

Sobre a reta final do Gauchão deste ano e o desempenho na Copa do Brasil e no Brasileirão do ano que vem, Pasin disse esperar “que o clube continue bem, nos representando, e a equipe de atletas continue compreendendo que não leva no peito apenas um distintivo de clube na camisa, mas uma comunidade no coração. Também, que a direção e a comissão técnica continuem a fazer esse excelente trabalho. E quando pudermos voltar aos estádios, que a comunidade possa frequentar ainda mais e se apaixonar por esse centenário clube. É da terra, é daqui, é nosso!”, destaca.

Importante

A campanha do Esportivo

Primeiro turno
23/1 – São José 1 X 1 Esportivo
26/1 – Esportivo 4 X 3 Aimoré
29/1 – Brasil 0 X 0 Esportivo
3/2 – Grêmio 5 X 0 Esportivo
9/2 – Esportivo 1 X 0 Caxias

Segundo turno
1/3 – Esportivo 1 X 0 São Luiz
8/3 – Novo Hamburgo 2 X 1 Esportivo
15/3 – Esportivo 2 X 1 Pelotas
22/7 – Ypiranga 2 X 2 Esportivo
25/7 – Esportivo 1 x 1 Internacional
29/7 – Juventude 2 X 3 Esportivo

Foram 11 jogos: cinco vitórias, quatro empates e duas derrotas – totalizando 58% de aproveitamento.

Foram 16 gols anotados e 17 sofridos.

A artilharia ficou por conta dos atacantes Gustavo Sapeka e Flávio Torres, com três gols marcados – seguido de Juninho Tardelli, com dois.

Esta é a sétima vez que o Esportivo conquista o título de Campeão do Interior. A última havia sido há 33 anos.

O Clube Esportivo de Bento encerrou a etapa com a quarta melhor campanha na classificação geral, com 19 pontos, e o segundo lugar do Grupo B, com 11.

Fotos: Kévin Sganzerla – Clube Esportivo e Silvestre Santos