Até nem lembro qual o motivo que fez a Dona Blandina agarrar meu braço e lascar três tapas na minha bunda. Cheguei a levantar as pernas. Fato é que com apenas 8 anos era travessura demais e os pais perdiam a paciência.

Botei o berro na goela e fui chorando para perto de meu pai que atendia os clientes do armazém.

“Paulo: o que houve?”
“A mãe me bateu…. (buhááááá…)
“Se ela te bateu deve ter tido uma boa razão” e me lascou mais um tapa na bunda.

Pronto: já tinha um julgamento de segunda instância.

Saí como uma fera para “tomar as providencias” e apelar.

Pensei em dar queixa para o Dr. Rui Ruben Ruschel, juiz de direito, vizinho de frente de nossa casa ali na Saldanha Marinho. Não tive coragem: sabia da minha culpa, do julgamento e da pena.

A segunda possibilidade era descer as escadas e bater na porta do Capitão Arno Spindler, oficial do 1º Batalhão Ferroviário, homem íntegro, pai de cinco filhos, que era inquilino do piso térreo de nossa casa. Não ia dar certo. O Capitão Arno, pai linha dura, educara muito bem sua prole.

Depois de alguma reflexão e das razões de minha mãe, em primeira instância, aceitei a condenação de meu pai, já em segunda instância e fiquei na minha. Endireitei na marra e fiz muito bem em não perturbar o judiciário e as “forças armadas” pois, com um judiciário correto e um militar linha dura certamente iria ser pior.

Comparo os fatos com o ocorrido nesta semana passada onde um condenado em primeira instância e também pelo colegiado de segunda instância encontrou a benevolência da suprema que destruiu o já julgado e premiou o crime.

Se o Dr. Rui e o Capitão Arno tivessem feito intervenção no meu caso teriam destruído a base familiar do respeito e obediência aos pais. De minha parte entendi que pai e mãe são os educadores.

Se STF tivesse respeitado as decisões de primeira e segunda instância estariam consolidando o respeito ao poder judiciário. Ao invés de fazê-lo, seis ministros do supremo se endeusaram numa decisão perigosa que destrói a necessária reconstrução do país.

Em nome da Constituição do Brasil, mudaram as regras do jogo apenas dois anos passados de uma mesma decisão do STF que aceitara a prisão após julgamento em segundo grau. Nestes dois anos a Constituição não mudou. Mudou foi a cabeça dos julgadores, conforme seus “interésses” pessoais. Decidiram pela impunidade do crime, especialmente para os que tem recursos para encobrir suas penas com todos os recursos jurídicos possíveis.

Pai, Mãe, Dr. Rui e Capitão Arno: vocês foram o exemplo de minha infância. Muito obrigado! Só a “instância” família foi o bastante.

Que os jovens de hoje, esperança do futuro do país, possam se espelhar em bons exemplos de cidadãos que, de fato, pensam na segurança, na paz e prosperidade do Brasil.