Leia até o final!


Semana passada eu li uma postagem que dizia: Homens se apaixonam por mulheres intrigantes. E junto desse, um perfil inteiro com diversas outras frases feitas, inclusive este: Homens conquistam, mulheres são conquistadas. É assim que tem que ser. Ou então “6 tipos de homens que você deve evitar”.


A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: como eu odeio isso. A segunda coisa foi que eu falei sobre automatização na coluna da semana passada. E a terceira coisa foi: se estatística fosse uma pessoa, como ela seria? Sei lá, me senti uma estatística, queria pelo menos saber se elas são esbeltas e sorridentes.


E então veio o questionamento: ‘serase’ sou uma mulher intrigante? O que uma mulher intrigante faz? Ela é cigana misteriosa de olhos verde-esmeralda, cintura de pilão, arrasadora de corações, ‘batalhadeira’, estudiosa, mãe zelosa, esposa fiel e atuante na comunidade?


Uma crônica de Machado de Assis na Gazeta de Notícias de 1894 gira em torno de um diálogo entre o narrador e uma fã de tragédias. Os personagens ficaram frustrados por não ter havido vítimas decorrentes da queda do edifício da fábrica das Chitas. É uma comparação que simboliza bem o fascínio e o desencanto causados pela notícia trágica: mais vale “o espetáculo de uma perna alanhada, quebrada, ensanguentada” do que “o da simples calça que a veste”. O povo é, e sempre foi, deslumbrado por histórias onde há constante luta entre o bem e o mal e poções mágicas, milagrosas e instantâneas.


O sensacionalismo faz duplinha com (imagine aqui uma palavra que tentei buscar no Google para descrever o “achismo” ou o “certezismo” das pessoas, principalmente na internet. Encontrei coisas como: “18 regras para um relacionamento saudável”, “como blindar sua vida profissional…”, “9 dicas de comportamento para…”). E essa dupla vai além (consegue!) das notícias desastrosas. Ela transforma pessoas em estatísticas, aglomera em grupo de estudos e cria frases feitas para superar qualquer obstáculo na vida, é só abrir o Instagram e você vai superar aquele embuste, amiga, você consegue! E lembre-se, há 6 tipos de homens que você deve evitar.


O título dessa crônica não tem nada a ver com o conteúdo, foi só para fazer com que você lesse até o final para me dar audiência.

Ainda estou aqui pensando o que devo mudar para ser uma mulher intrigante-dona-de-mim.

“É sangue mesmo, não é mertiolate/ E todos querem ver/ E comentar a novidade/ É tão emocionante um acidente de verdade/ Estão todos satisfeitos/ Com o sucesso do desastre:/ Vai passar na televisão”

Legião Urbana, a canção “Metrópole” (1986)