Os adultos são à base do equilíbrio das crianças. Quando morre alguém que lhes é querido, explicar a uma criança que nunca mais poderá voltar a ver e estar com esta pessoa pode ser um dos desafios mais difíceis de enfrentar para um adulto.

  A situação complica-se se o nível de afetividade for muito elevado. No entanto, o suporte afetivo e a serenidade dos familiares mais próximos ou amigos são os pilares para ajudar as crianças a ultrapassar o luto. Muitos adultos optam por fantasiar a ideia da morte, pensando que estão ajudando a criança a lidar com a perda eterna se lhes ocultarem a verdade.

 E isso acaba sendo uma opção errada, pois é fundamental comunicar que alguém morreu, diga à criança o que sente e procure não esconder as suas emoções. É através da observação do que os adultos sentem ou pensam a respeito da morte que a criança compreenderá o seu significado. Evite fantasiar e criar metáforas para explicar a perda de alguém, pois pode despertar receios e sentimentos negativos.

 Geralmente os pais utilizam exemplos: “como ele viajou”, “foi para o céu”, “está a dormir para sempre”, só confundem a criança, pois ela pode interpretar ao pé da letra o que lhe é dito e começar a ter medo de que uma pessoa, quando vai viajar, dormir ou descansar, possa morrer. Acredito que a atitude mais assertiva é responder a todas as perguntas colocadas, pois é a única forma de a criança juntar os fatos para interpretar o sentido da morte.
Uma das possibilidades para explicar a morte, é dizer à criança que todos, pai, mãe e até ela mesma, um dia irão morrer.

   Em outras palavras, se os pais estiverem tensos ao abordarem o tema morte, essa tensão será absorvida pelos filhos. Portanto, as comunicações dos pais devem ser tranquilas, honestas, simples e diretas com palavras adaptadas ao nível de compreensão e desenvolvimento de seus filhos. A percepção e a reação da criança perante a morte são naturalmente diferentes em função da idade e do desenvolvimento cognitivo. Até aos dois anos, a criança não compreende o conceito. Dos três aos seis, ainda acredita que a pessoa possa voltar em algumas situações. Um pouco mais velha, a partir de seis anos, fica curiosa com tudo e quer explicações mais concretas que podem ser dadas de maneira simples.Nessa altura, já tem noção de que a morte é irreversível, que ocorre com todos e que não pode ser evitada. As crianças sentem culpa com frequência, pois não entendem perfeitamente a relação de causa e efeito. A raiva é um sentimento recorrente em crianças e em adolescentes, mas até mesmo com adultos.

  A falta de acompanhamento ou impotência dos pais para enfrentar este tipo de situação pode provocar sofrimento e deixar marcas na personalidade da criança. Na idade pré-escolar, muitas crianças manifestam o seu stress através de regressões, como voltar a querer usar a chupeta, fazer xixi na cama ou ter dificuldade em adormecer.

 São frequentes os comportamentos agressivos e podem surgir alguns problemas de relacionamento com os colegas da escola. Mais frequentes ainda são as queixas relacionadas com o corpo, como as dores de barriga ou as queixas de dores de cabeça. As crianças que sofrem com o tema podem desenvolver um quadro de ansiedade da separação, de fobias e de angústias associadas à incerteza a respeito da possível ausência dos seus cuidadores. Oriento os pais a não deixarem seus filhos sem respostas uma vez que o silêncio não simplifica a vida da criança e tampouco a dos pais, ao contrário, promove confusão e angústia.

Karina Petroli – Psicóloga