Com descontos de até 70%, a queima de estoque de inverno já começou no comércio de Bento Gonçalves. Embora a estação conhecida como a mais fria do ano esteja no início, as vitrines das lojas já oferecem descontos nos produtos. Um dos motivos que influenciaram para a antecipação, foram os poucos dias de frio intenso até o momento. A expectativa, segundo os lojistas, é alavancar as vendas e ganhar mais tempo para investir nas peças primavera/verão. Lideranças empresariais garantem que as promoções oportunizam facilidade no pagamento e a vantagem de adquirir peças que antes eram comercializadas por preços elevados.

Para Lisete Mayer, proprietária de uma loja de roupas no Centro, a alta nas temperaturas frustrou as expectativas, em relação às compras da coleção de inverno. Com isso, a empresária precisou readaptar seu mostruário com peças de meia estação para impulsionar as vendas. “Gostaria que o frio voltasse, pois compramos muitos produtos, visto que, no ano passado, as vendas foram muito boas. Fiquei sem estoque de roupas de inverno”, lembra. “Para manter o movimento na loja, optei em destacar as malhas, baixar os preços dos casacos e impulsionar as promoções. O objetivo é vendermos essa coleção de inverno”, afirma.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojista de Bento (CDL-BG), Marcos Carbone acredita que a antecipação das promoções foi influenciada pelas altas temperaturas em pleno inverno e pela crise política e econômica. “Neste ano, a expectativa da chegada do inverno como indutor de compras não se consolidou – tivemos poucos dias isolados de frio, insuficientes para estimular o consumo na medida do esperado. Somado a esse fator aparecem, também, as consequências da fase de instabilidade política, da crise econômica e da retração do poder de compra da população pela qual vem passando o país”, explica.

Para Carbone, esse contexto incentivou muitas lojas a anteciparem as já tradicionais liquidações de inverno, motivadas pela necessidade de manter o fluxo de caixa de seus estabelecimentos, que ficam severamente prejudicados quando a mercadoria permanece no estoque, sem giro. “Para o comércio, produto parado é prejuízo, ainda mais no ramo da moda, muito volátil – o que é atual numa estação deixa de ser interessante no próximo ano. Para o consumidor, esse movimento é interessante e pode render boas oportunidades de compra. Uma boa dica é pesquisar, procurando estabelecimentos que estejam ofertando esses itens e aproveitar os descontos”, aponta.

Além do setor de roupas, as lojas de artigos em geral também sofrem com o baixo movimento. Além dos famosos descontos, a ampliação de condições de pagamento também vira atrativo para convencer o cliente. Foi o caso do comércio do empresário Nelson José Paese. Ele explica que mesmo oportunizando o parcelamento em 10 vezes sem juros, o movimento não se consolidou conforme o esperado. “Tínhamos a expectativa de vender 10% a mais que no mesmo período do ano passado. Fizemos promoções e ampliamos as condições de pagamento. Porém, com a crise, notamos pouco resultado aqui na loja. O cliente está mais cauteloso”, afirma.

Verão antecipado

Com inverno menos rigoroso, as lojas já antecipam a exposição da coleção Primavera/Verão. Em outros anos, somente depois da passagem do frio é que a novidades eram apresentadas, diferente deste ano. Para a supervisora de uma loja no centro de Bento, Mara de Mello, como o inverno não está frio, as roupas mais pesadas da estação acabam ficando nas prateleiras, por isso a liquidação. Para Mara, a antecipação da coleção é outro fator que contribuiu para as liquidações da coleção de inverno. “Mesmo fazendo as promoções, é muito difícil uma pessoa comprar um casaco incrível e não poder usar, porque a temperatura não permite. O cliente prefere comprar algo que possa usar de imediato. Quer novidade”, explica.