O sujeito andava caidaço. Largado, desempregado e com as finanças em estado pré-falimentar. Para piorar ainda mais as coisas, estava com algumas pendengas na Justiça, movida pela ex, que pretendia depená-lo completamente.
-Titica de galinha! – xingou, já acomodado no VC, enquanto retirava um encarte do jornal de domingo.

Abriu os classificados, mais por hábito do que por expectativa. Sabia que, daquele mato, não sairia cachorro. Correu os olhos para ver por quanto andavam a oferta e a procura. Blá-Blá-Blá e… “Ricardão peludo, bem dotado, com mãos divinas, totalmente liberal, discreto, alto padrão, boa performance, para atendimento em domicílio. Valores a combinar. Tratar pelo fone…”
“O-lha-íííí…”, pensou com seus… com seu umbigo. E se ele optasse por um serviço alternativo? Podia não ser um Ricardão, mas Ricardinhos também tinham um nicho de mercado, embora menor. A questão era só escolher as estratégias de marketing.

O cara olhou para baixo sugando o abdômen, para conferir a comissão de frente. O ânimo murchou. Decididamente, não se encaixava nas exigências mercadológicas atuais. Tinha o trivial, normalmente desidratado, abstêmio que de vez em quando se inflamava, desde que bem motivado. Só que faltavam motivos nos últimos tempos, e a previsão era desanimadora: estava a caminho de pendurar as chuteiras.

Tentou descobrir alguma vantagem no em torno, mas nada! Pelos ralos e descontínuos – uma muda nas costas, duas carreirinhas verticais no peito e um jardinzinho no…., – enfim, estava mais para Moby Dick do que para Tony Ramos. As pernas, cheias de machucados ganhos nos campinhos de futebol. Ainda por cima, uma calvície precoce. “Coisa de genética”, afirmara-lhe o médico. Mas ele sabia que essa genética já vestira saia em outros tempos.

“Se mulher incomoda muita gente, ex incomoda incomoda muito mais”, cantarolou. De repente… ô ô! Sua visão de raio X localizou o volume do Novo Código Civil Brasileiro… E se ele virasse o jogo? Se mudassem os papéis? Aquilo não cheirava bem. Deu a descarga. No entanto, o que teria a perder? E a coisa ganhou corpo, alma e palavras, rabiscadas num catálogo:
“Com a máxima vênia, senhor Juiz, venho requerer ação indenizatória por perdas e danos morais, conforme … Título IX, Capítulo I, Artigo 927, Parágrafo Único, considerando-se que a atividade desenvolvida pela autora do dano implica, por sua natureza, um desgaste da minha honra, reduzindo-me à condição de… (teve que engolir um sapo antes de vomitar a palavra) …corno”.
O homem colocou o manual embaixo do braço, sentindo que estava prestes a sair do buraco. Antes de puxar o zíper, ainda deu uma palmadinha no “proscrito” num gesto solidário de macho.