Originário da China e sul da Ásia, o pessegueiro é muito cultivado na Serra Gaúcha e tem seu período de colheita entre o final de outubro e de janeiro. O município vizinho, Pinto Bandeira, é conhecido como a Capital Estadual do Pêssego de Mesa e é referência desse cultivo na região, com cerca de mil hectares da fruta e agricultores batalhadores que começaram suas safras há poucos dias.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, a expectativa é de uma boa safra. “Esperamos que o tempo colabore e que não dê granizo, pois o pêssego é uma cultura muito sensível. Torcemos também para que não haja estiagem, situação que poderia prejudicar quem não tem irrigação. Quando o fruto está quase pronto para ser colhido, se falta água, o calibre fica menor”, analisa.

A produção de pêssegos é muito importante para a região, somando em média mil hectares de terras em Pinto Bandeira e 100 em Bento Gonçalves, gerando empregos e movimentando a economia para as cidades. “É uma quantidade bastante significativa, a cidade é uma das maiores produtoras desta fruta no Brasil. Gera lucro não só para os agricultores, que ganham uma renda além da uva, que é mais comum na nossa região, mas também para os trabalhadores que vêm atuar na colheita, nas câmaras frias, nas indústrias de caixas de embalagem, entre outros setores que se convergem”, afirma.

Produção de pêssego tem sucessão

Em Pinto Bandeira, o produtor Ricardo Rizzardo seguiu o mesmo caminho que seu pai, Adair Rizzardo. O interesse pelo cultivo de pêssegos surgiu como uma alternativa pra diversificar as culturas. “Desde criança sempre gostei da agricultura, ia para a roça e ficava na sombra de uma laranjeira brincando, enquanto os adultos trabalhavam. Antigamente se produzia somente uva, agora o cultivo dessa fruta de casca de textura aveludada e cheiro característico, faz a nossa região ser conhecida pelos quatro cantos do Brasil”, conta. O agricultor conta que, em 2021, colheu um milhão e 600 mil quilos da fruta, mas o preço foi baixíssimo. “Neste ano, a previsão é de 30% a menos de produção, por conta do tempo e outros fatores. O pessegueiro é assim, num ano ele produz muito e no seguinte será bem menos”, salienta.

Segundo Rizzardo, as variedades mais cultivadas na Serra Gaúcha são PS precoce, Rubimel, Kampai, Chimarrita, Fascínio, Regalo, PS 730, Eragil, Barbosa e Cheripa. “Algumas, geralmente as mais antigas, têm o caroço solto e as novas não têm por questões de doenças, principalmente a mosca das frutas. Em alguns casos, eles não têm pela questão da beleza das conservas, e para que, no processo, o caroço não fique solto no pote ou vidro”, menciona. O Kampai está sendo colhido agora, por ter maturação precoce. “Ele geralmente sempre concluía o tempo de crescimento em novembro, neste ano surgiu antes por conta de temperaturas mais quentes. Suas principais qualidades são a aparência, sabor e firmeza da fruta superior à maioria das de polpa branca e sua boa conservação pós-colheita, permitindo maior tempo de câmara fria e de prateleiras”, fala.

A colheita é feita manualmente e os agricultores precisam escolher as frutas que estão no ponto certo de retirada. “O trabalho é um pouco demorado, pois seleciona-se individualmente e há a função de ir para frente, depois voltar para verificar se não esqueceu frutas. Caso alguma fique para trás, na próxima colheita ela será descartada por estar madura demais”, diz.

Sobre a concepção de qualidade, ele revela que mudou muito, conforme o passar do tempo. “Antigamente, quando iniciou o cultivo de pêssegos em Pinto Bandeira, as pessoas prezavam muito pelo tamanho, tinha que ser bem graúdo. Agora está diferente, a coloração viva é mais apreciada e procurada pelos estabelecimentos, precisa passar aquela vontade de comer só ao vê-la”, comenta.

De acordo com Rizzardo, o principal fator para o sucesso da colheita é o clima, que está variando muito. “Aproximadamente 80% do cultivo do pêssego tem em relação com temperatura e questões climáticas. Se as chuvas forem regulares, o frio vier na época certa e não ocasionar muito estresse para a planta, ela irá crescer praticamente sozinha”, realça. Além disso, a busca por mão de obra se torna um desafio e é essencial para êxito da produção. “Está ficando cada vez mais escassa, para conseguir trabalhadores qualificados é ainda mais difícil”, lamenta.

A dedicação e o ato de fazer a diferença na região, garantindo excelência no cultivo desse fruto é importante para Rizzardo e sua família, ele destaca o orgulho de seguir os caminhos do pai. “A sucessão familiar é uma forma de dar continuidade à uma paixão que vem passando de geração a geração”, afirma. Para quem quer iniciar com essa cultura, ele recomenda muita dedicação, pois o serviço é árduo. “Principalmente tem que gostar da fruta e da roça e não pode se preocupar em ter que trabalhar 10 a 13 horas por dia. Mas no final, seu esforço será recompensado”, conclui.

Projeto que ajudará os produtores

Na próxima segunda-feira, 31 de outubro, acontecerá a assinatura do Contrato de Pavimentação da Estrada da Linha 47, principal via localizada na Comunidade São Marcos, a qual faz ligação entre Farroupilha, Bento Gonçalves e Pinto Bandeira. De acordo com o vice-presidente da Câmara de Vereadores, Thiago Fabris, todo o escoamento do pêssego é feito por esse local e logo será asfaltado por aproximadamente dois quilômetros e meio. “Essa demanda é antiga, de 20 a 30 anos, muitos antes do município vizinho ser emancipado. A estrada é praticamente a principal para o Caminhos de Pedra, toda a produção desse local sai por lá. Hoje são mais de um milhão de quilos de pêssego que são transportados por essa via, que depois liga na 453 e vai para São Paulo e o restante do país”, informa.

Conforme Fabris, a parte que pertence a Pinto Bandeira já está com pavimentação asfáltica, faltando somente o trecho entre a Capital Nacional do Vinho e a Capital Estadual do Pêssego de Mesa, mais precisamente em Farroupilha. “Hoje, essa estrada é uma das mais importantes de ligação entre as três cidades na parte alta, ter um acesso mais facilitado aos produtores é essencial”, ressalta.

Fotos: Cláudia Debona